Por Maria Cele Vitarelli, Psicóloga e apoiadora da Oncomed BH

Companheira desde os primeiros momentos de vida quando bebê, a sexualidade acompanha-nos durante nosso viver variando em tonalidades, frequência e intensidade libidinal. A energia sexual, a libido, foi motivo de estudos de cientistas mundiais e teve em Freud, médico psicanalista, a maior compreensão.

A sexualidade influencia a vontade de viver, a autoimagem e o relacionamento com as pessoas. Consiste em dar e receber prazer podendo ser alcançado de muitas formas e não centralizada apenas no ato sexual em si. A sua atuação se desenha em todo corpo.

Ao receber o diagnóstico do câncer, a maioria dos pacientes mergulham em exames, consultas médicas, medicamentos e intervenções. Uma mudança de paradigmas os envolvem em sentimentos de auto piedade, a revolta e a agressividade. Com esse estresse, como pensar em sexo, desejos e fantasias?

Um processo obstinado de negação, racionalizações e projeções afastam para longe as sensações libidinais. Focá-las seria caminhar na vida e na gratificação, sensação oposta ao momento em que se encontra.

São tantos os fantasmas e as angústias que passa despercebidos importantes aspectos que poderiam ser retirados de uma vivência sexual saudável.

O adoecer oncológico desenvolve fatores de inibição na conduta sexual, como: constrangimento pelo corpo em modificação sem atrativos reforçadores do desejo libidinal; magreza pela deficiência alimentar ou com excesso de peso pelo uso de corticóides; desânimo; limitações cirúrgicas; queda da sociabilidade e lazer devido ao sistema imunológico (cinema, restaurantes, teatros, etc). Especificamente na mulher, esterilidade e menopausa precoce com pouca lubrificação vaginal e baixa de gratificação. Já no homem, diminuição da produção de esperma, no “orgasmo a seco” e na performance erétil às vezes instável.

A sexualidade sempre foi um tabu quanto ao desempenho e como é muito sensível a qualquer alteração física e psicológica, traz fantasias.

Não podemos estagná-la diante das dificuldades e sim, colocá-la no foco do bem estar, do se sentir amado ou desejado.Por se encontrar em tratamento, em um momento diferente o prazer é visto como um ato sem espaço, perdido no mar das expectativas e angústias.

Um toque, um afago, mãos entrelaçadas são comparadas como brisa fresca no verão tórrido. Um gesto, uma fala ao pé do ouvido ou um abraço. A sexualidade não está reduzida apenas nesses atos.

A oralidade com o seu beijar, morder, lamber não está perdida. Coexistem também o cheirar, o massagear, a estimulação masturbatória que leva ao orgasmo: prazer e relaxamento. Favorecem a segurança, a autoestima e o revigorar da energia vital.