Nesta sexta-feira, 30/08, os olhares estarão voltados à Esclerose Múltipla, doença que atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) e compromete diversas funções neurológicas. A esclerose chama-se ‘múltipla’ por provocar diversos sintomas e, como não há uma área de predileção no sistema nervoso, pode comprometer qualquer função neurológica. No Brasil, as estatísticas apontam para mais de 30 mil pacientes, sendo aproximadamente 7 mil no Estado de São Paulo, com grande prevalência em adultos jovens, entre 20 e 40 anos.
Uma das formas de alcançar maior controle sobre a doença é através do diagnóstico precoce. Este é um grande desafio a pacientes e médicos, uma vez que os sintomas podem ocorrer em períodos espaçados de tempo, dificultando a identificação da doença. “O que o jovem precisa observar é o aparecimento de um sintoma de maneira súbita ou de rápida piora como a turvação visual, alteração da sensibilidade e força em um dos braços, ou das pernas, e até mesmo de todo um lado do corpo. Esses sinais podem indicar problemas neurológicos que demandam atenção médica especializada”, explica o Dr. Rogério Tuma, Neurologista e diretor Administrativo do CRER – Centro de Referência no Tratamento da Esclerose Múltipla e doenças relacionadas do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Quanto mais familiarizada com a doença a população estiver, mais fácil será combatê-la, acredita o especialista. O diagnóstico pode ser confirmado na apresentação de um único surto ou ao longo de meses ou anos, conforme a intensidade da doença – que se difere entre os pacientes. O importante, alerta Dr. Tuma, é buscar ajuda quando existe suspeita, para que exames específicos, como a ressonância magnética, auxiliem na confirmação do diagnóstico enquanto o paciente apresenta pouco comprometimento pela doença.
“O que precisa ser evidenciado é que o paciente conta com um exército ao seu lado, formado por profissionais da área médica e cientistas que têm dedicado suas vidas para encontrar a cura para a doença. Atualmente temos um grande arsenal terapêutico que, se for utilizado de maneira adequada, pode tornar a EM menos agressiva e evitar que a qualidade de vida do paciente seja reduzida. O cenário atual é mais otimista e confiante”, acrescenta o Neurologista.
Convivendo com a doença
A Esclerose Múltipla é uma doença autoimune e integra a categoria das doenças desmielinizantes, em que a bainha de mielina dos neurônios é danificada. A bainha de mielina é uma camada de gordura (lipídios) que funciona como uma proteção aos axônios – prolongamentos dos neurônios – por onde são transportados os impulsos elétricos que permitem os movimentos e as sensações de temperatura, tato, olfato, etc. Sem a bainha de mielina, os axônios ficam como ‘fios desencapados’, prejudicando a transmissão desses impulsos às regiões afetadas.
Os avanços no tratamento da doença surgem a cada ano, seja para identificação diagnóstica – como as constantes evoluções no exame de ressonância magnética, marcadores biológicos que podem diferenciar alguns tipos de manifestação da doença, entre outros – seja para adequação ao tratamento. “Novas drogas surgem com frequência e as pesquisas na área de EM têm descoberto peças-chave no entendimento da doença. O tratamento mais seguro no longo prazo é o uso dos imunomoduladores, que são eficazes na maioria dos casos. A medicação adequada é oferecida gratuitamente pelo programa do governo federal de dispensação de medicação de alto custo”, esclarece Dr. Tuma.
O acompanhamento médico e multidisciplibnar é muito importante, inclusive o vínculo de confiança entre médico e paciente. “Os pacientes com doenças crônicas e ainda sem cura estão sujeitos a ofertas de ‘soluções milagrosas’, que podem prejudicar o tratamento em caso de afastamento das condutas médicas cientificamente estabelecidas, com consequências irreversíveis em alguns casos”, alerta. “Para isso, a abordagem com psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, entre outros é fundamental para minimizar os efeitos da doença e tornar as sequelas de um surto minimamente incômodas aos pacientes”, completa o especialista.