O Ministério da Saúde registrou 1.020 casos de coqueluche até o mês de março deste ano, com 12 óbitos e 327 internações. Esse número representa um aumento de quase 80% em relação a 2010. Mas os especialistas alertam para a subnotificação, devido à dificuldade de realização do diagnóstico laboratorial. Essa realidade se reproduz por praticamente toda a América Latina, onde o crescimento da incidência nos últimos anos é estimado em cerca de cinco vezes, e também nos Estados Unidos e Europa.
Para discutir as estratégias de enfrentamento desta e de outras doenças infectocontagiosas, cerca de dois mil especialistas estarão reunidos em São Paulo, de 26 a 29 de junho, durante a 15ª Jornada Nacional de Imunizações e o 15º Congresso Latino-Americano de Infectologia Pediátrica.
A COQUELUCHE EM NÚMEROS
Brasil – De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-MS), do total de casos registrados até agora 523 ocorreram em bebês menores de um ano de idade; 247 entre crianças de um a quatro anos; 95 entre cinco e nove anos; 61 casos foram registrados na faixa etária de 10 a 19 anos e 86 na faixa que vai de 20 a 59. Os estados do Espírito Santo (212); São Paulo (230) e Rio Grande do Sul (174) lideram o ranking de ocorrências, o que pode estar associado à maior eficiência no rastreamento da doença.
AL – O impacto da doença aumentou 90% na última década na América Latina. Argentina, Costa Rica, Panamá, México, Chile, Colômbia e Uruguai sofreram com surtos graves da doença.
Estados Unidos – Enquanto em 1980 foram registrados 1730 casos, em 2012 esse número ultrapassou 41 mil, sendo mais de 2 mil em Nova Iorque e mais de 4 mil casos em Washington.
Europa – 13.964 casos foram confirmados em 28 países da União Europeia, em 2010, segundo o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC). A Holanda relatou o maior número de casos (3.733), representando 24% dos registros, seguida pela Noruega (3.560 = 23%) e Eslováquia (1376 = 9%).
Mundo – Segundo a organizações Mundial e Pan-Americana de Saúde (OMS e OPAS) são registrados 50 milhões de casos por ano em todo o mundo, com 300 mil mortes.
Falta de conhecimento e de diagnóstico
Presidente da Comissão Científica da 15ª Jornada Nacional de Imunizações, a médica Isabella Ballalai destaca que entre as causas para o aumento da incidência da coqueluche está a diminuição ao longo da vida da imunidade induzida pelas vacinas (cerca de 10 anos). “Adolescentes e adultos, mesmo assintomáticos, são os principais transmissores para crianças pequenas, ainda não imunizadas, principalmente os bebês menores de 6 meses”, enfatiza a médica.
A doença, que pode ser fatal em bebês, estava controlada até meados dessa década, mas a frequência dos casos alerta para a necessidade de melhor controle da vacinação principalmente de adolescentes e adultos. Isabella, que também é diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) avalia que a população ainda não se deu conta da relevância da doença, incluindo boa parte da comunidade médica.
“O profissional da saúde ainda demora a considerar a hipótese de coqueluche em sua avaliação diagnóstica e isso ocorre porque em adultos os sintomas não são tão claros como no bebê. Além disso, ainda há uma crença de que a doença só afeta crianças, o que no passado era praticamente verdade”, avalia Isabella. Outro fator, segundo a médica, é que adolescentes e adultos com quadro de tosse persistente raramente procuram a avaliação médica.
Contágio
Os estudos apontam que os principais transmissores da bactéria para bebês são a mãe (de 30 a 50%), os irmãos (em torno de 20%), o pai (cerca de 15%) e os avós (aproximadamente 8%). “Pessoas que têm contato frequente com o bebê, como as babás, os profissionais de educação e saúde, por exemplo, respondem por 25% das transmissões. Por essa razão é fundamental que todos estejam com a vacinação em dia”, orienta Isabella.
A vacina Tríplice Bacteriana (que também protege contra difteria e tétano) está indicada aos 2, 4 e 6 meses, com o primeiro reforço aos 15 meses. Outro reforço deve ser tomado entre os 4 e 6 anos de idade e na adolescência. Adultos não vacinados ou com mais de 10 anos da última dose, devem receber uma nova aplicação de reforço, indicada a cada 10 anos.
Ampliação da vacina no programa de imunizações deve ocorrer no segundo semestre
Durante a 15ª Jornada Nacional de Imunizações e o 15º Congresso Latino-Americano de Infectologia Pediátrica os especialistas vão apresentar os resultados da “estratégia cocoon”, ação que visa à vacinação de todos os contactantes do bebê, que só estará imunizado após os seis meses; da vacinação da puérpera ainda não imunizada; os entraves para a realização do exame laboratorial para diagnóstico da doença e a ampliação da indicação da vacina no Programa Nacional de Imunizações do Brasil.
“O Ministério da Saúde estuda a inclusão da vacina para as gestantes na rede pública no segundo semestre deste ano. Atualmente a dTpa (vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto – contra difteria, tétano e coqueluche) está disponível para elas apenas na rede privada”, adianta Isabella. A melhor época para vacinar a gestante é no segundo trimestre da gravidez, para ampliar a possibilidade de imunização do feto através da placenta.
Sobre a doença
Conhecida popularmente como “tosse comprida”, a coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis, que atinge o sistema respiratório. Quando ocorre durante a infância, os sintomas são bem definidos e incluem tosse sucessiva, guinchos e falta de ar, o que pode levar ao quadro de cianose em que a criança fica azulada. Contudo, a partir da adolescência os sintomas se confundem com os de outras doenças respiratórias, como gripes e resfriados, o que dificulta o diagnóstico em jovens e adultos. Para bebês pequenos, a coqueluche é a quinta causa de morte por doença imunoprevenível no mundo.
Fique atento
De 20% a 25% das queixas de tosse contínua e seca por mais de 14 dias são coqueluche, explica Isabella Ballalai. E se a pessoa já começou a tomar antibiótico ou demorou a procurar o médico, é difícil confirmar o diagnóstico em exame de cultura. A transmissão acontece por contato direto.
Os sintomas surgem entre 7 e 10 dias após a infecção; costumam ocorrer de 5 a 10 tossidas numa única respiração, o que pode produzir vômitos e levar à falta de ar que, se for intensa, pode fazer com que lábios e unhas fiquem arroxeados, embora isso ocorra com mais frequência em bebês e crianças pequenas. Entre as complicações estão: pneumonia, convulsão, internação e o óbito nos casos extremos.
O evento
A 15ª Jornada Nacional de Imunizações será realizada em conjunto com congresso da Sociedade Latino-americana de Infectologia Pediátrica (Slipe). De 26 a 29 de junho cerca de dois mil especialistas estarão reunidos em torno principais desafios na prevenção de doenças infectocontagiosas e dos mais recentes avanços nesse campo. Os 40 anos de existência do PNI – Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde; novos calendários de vacinação; ampliação da cobertura vacinal e o acesso às vacinas nas regiões mais distantes do país também estão na pauta.
Serviço:
XV Jornada Nacional de Imunizações e XV Congresso Latino-Americano de Infectologia Pediátrica
Data de 26 a 29 de junho
Local: Centro de Convenções do Maksoud Plaza – São Paulo
Informações e Inscrições: www.slipesbim2013.com.br
Contato: 11 5081-7028 | 5084-4246 – [email protected]