Quase 70% das pessoas preferem abrir mão de 10 anos de vida a perder a visão. Mesmo assim, menos de um terço destes vão ao oftalmologista na frequência necessária, segundo dados da pesquisa do KRC Research feita em 11 países, incluindo o Brasil. No Dia Mundial da Saúde Ocular, comemorado em 10 de julho, esses números mostram a importância da visão para a qualidade de vida e a necessidade de maior atenção ao tema. Preocupados, cerca de oito mil especialistas de todas as Américas vão debater a saúde ocular da população durante os Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia 2013, de 7 a 10 de agosto no Rio de Janeiro.

A pesquisa revela que 44% dos ouvidos acreditam que não precisam de exame oftalmológico a menos que haja um problema, e 42% entendem que, se podem ver, é porque os olhos estão saudáveis. O problema é que algumas disfunções oculares se desenvolvem de forma “silenciosa”. Isso significa que muitas pessoas, quando buscam atendimento, já estão com a doença em estágio avançado.

Embora 68% dos entrevistados afirmem que estão bem informados sobre saúde ocular, apenas 21% fizeram exames oftalmológicos regulares ao longo dos últimos cinco anos. Esses dados corroboram a percepção dos oftalmologistas (97%) de que as pessoas não têm conhecimento suficiente sobre o tema, ou seja, que elas se preocupam profundamente com a sua visão, mas ainda assim não agem preventivamente.

A qualidade da visão do brasileiro

Cerca de 35,8 milhões de pessoas no Brasil têm dificuldade, ainda que leve, para enxergar. Outras 6,6 milhões têm deficiência visual severa e 582 mil são cegas. Entre principais causas de cegueira estão catarata (47%), glaucoma (12%), Degeneração Macular Relacionada à Idade – DMRI (9%), além de outras doenças importantes como ceratocone e retinopatia diabética.

Principais problemas oculares

Glaucoma

Provoca lesão no nervo óptico e campo visual, podendo levar à cegueira. Na maioria dos casos vem acompanhado de pressão intraocular elevada, mas pode ocorrer glaucoma de “baixa pressão”. Se não for tratado, pode levar à cegueira. Por isso o exame oftalmológico anual, preventivo, é fundamental para detecção e tratamento precoce. Em geral o tratamento é realizado por meio de colírios, entretanto, caso o tratamento clínico não apresente resultados satisfatórios a cirurgia torna-se uma opção.

O glaucoma pode ser:

• Congênito: os recém-nascidos apresentam globos oculares aumentados e córneas embaçadas. O tratamento é cirúrgico.

• Secundário: ocorre após cirurgia ocular, catarata avançada, uveítes, diabetes, traumas ou uso de corticoides.

• Crônico: costuma atingir pessoas acima de 35 anos de idade. Uma das causas pode ser obstrução do escoamento de um líquido que existe dentro do olho chamado humor aquoso. Os sintomas costumam aparecer em fase avançada, isto é, o paciente não nota a perda de visão até vivenciar a “visão tubular”, que ocorre quando há grande perda do campo visual (perda irreversível).

Catarata

Trata-se da opacificação do cristalino o que compromete a entrada de luz nos olhos. A doença pode causar desde pequenas distorções visuais até cegueira. Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem 18 milhões de cegos por catarata no mundo – estima-se que no Brasil sejam 350 mil. Cerca de 85% dos pacientes de catarata estão acima dos 50 anos e atualmente isso quer dizer que a maioria trabalha, viaja, tem seus hábitos e preferências que já podem ser considerados na hora da cirurgia de catarata.

Já a catarata congênita, aquela de nascença, está presente em 0,4% dos nascimentos e ocasiona cegueira em cerca de 200.000 crianças no mundo. “Estima-se que no Brasil ela seja responsável por cerca de 5,5% a 12% dos casos de deficiência visual e a principal causa de cegueira na América Latina”, afirma Liana Ventura, diretora da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII). A catarata congênita atinge mais crianças prematuras, com carências nutricionais, doenças metabólicas e com síndromes (como a de Down), no entanto, não se restringe a elas e pode afetar qualquer bebê.

“Os avanços técnicos nas lentes intra-oculares (LIOs) têm possibilitado a personalização dessas cirurgias, agregando mais qualidade à visão. Os novos procedimentos que serão apresentados nos congressos levam em conta, além dos quesitos clínicos, o perfil comportamental e as aspirações específicas de cada paciente”, explica Armando Stefano Crema, presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intra-oculares e um dos palestrantes dos Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia 2013.

Degeneração macular relacionada à idade (DMRI)

Afeta a área central da retina, chamada de mácula, que se degenera com a idade. Provoca baixa visão central, o que dificulta principalmente a leitura, e pode estar associada a diversos fatores, como pele clara e olhos azuis ou verdes, exposição excessiva à radiação solar, tabagismo e dieta rica em gorduras. O diagnóstico precoce é fundamental para se evitar a cegueira.

Em 80% dos pacientes acometidos é observada a forma denominada de DMRI seca ou não-exsudativa. Os 20% restantes apresentam a forma exsudativa, caracterizada pelo desenvolvimento de vasos sanguíneos anormais sob a retina (Membrana Neovascular Subretiniana) e é a principal responsável pela devastadora perda visual central.

O uso de vitaminas, antioxidantes e óculos escuros ou claros com proteção UVA e UVB, associados a uma dieta rica em vegetais de folhas verdes e pobre em gorduras é benéfica. Além disso, o hábito de fumar aumenta em seis vezes as chances de desenvolver a doença, e por isso deve ser evitado. Nesse contexto, as mulheres acabam levando vantagem sobre os homens, já que a pesquisa mostra que elas são mais propensas a tomar medidas para proteger a sua visão, como comer uma dieta saudável (82% contra 75%) e abstendo-se de fumar (79% contra 73 %).

Uma vez instalada a doença, a principal medida é o acompanhamento. O exame mais importante é o OCT (Tomografia de Coerência Ótica) que deve ser realizado todos os meses nos pacientes em tratamento para DMRI exsudativa. “São usadas ondas de luz para gerar imagens em cortes do interior das estruturas oculares. Esse exame representa uma revolução no diagnóstico e acompanhamento, pois permite obter imagens bem detalhadas das alterações internas na retina”, explica Eduardo Dib, coordenador de comunicação dos Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia.

Ceratocone

Caracteriza-se por afinamento e protrusão da córnea e aumento de sua curvatura, que assume o formato de cone, o que provoca astigmatismo irregular associado ou não à miopia e compromete a acuidade visual. A doença raramente leva à cegueira irreversível, mas afeta significativamente a qualidade da visão, com grande impacto na vida dos portadores. É incomum a pessoa procurar tratamento no estágio inicial, que é assintomático. “Muitas vezes o paciente busca ajuda por outro motivo, geralmente uma alergia, ou revisão do grau, sendo fundamental estarmos alerta para exames de screening para ceratocone em casos suspeitos”, alerta Renato Ambrósio, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa.

A importância do diagnóstico precoce é indicar medidas para controlar as chances de o ceratocone progredir. “Constatada a progressão da doença, o tratamento por meio de crosslinking (cirurgia que possibilita aumentar a resistência da córnea) é eficaz em mais de 95% dos casos para estabilizar a evolução e piora da visão”, informa Ambrósio, que integra a comissão científica dos Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia 2013.

Retinopatia Diabética

O diabetes mellitus é o fator desencadeante dessa doença, que age de forma progressiva e afeta os vasos sanguíneos do olho, causando estreitamento e às vezes bloqueio deles, além de enfraquecimento da sua parede, o que ocasiona deformidades conhecidas como microaneurismas. Ela atinge mais de 75% das pessoas diabéticas há mais de 20 anos e pode levar a uma perda parcial ou total da visão.

Existem duas formas de Retinopatia Diabética: exsudativa e proliferativa. A primeira ocorre quando as hemorragias e as gorduras afetam a mácula, região central da retina, essencial para a leitura. Já a segunda surge quando a doença dos vasos sanguíneos da retina progride, o que ocasiona a proliferação de novos vasos anormais que são chamados “neovasos”. “Eles são extremamente frágeis, podem sangrar e também se proliferar para o interior do olho causando graus variados de destruição da retina, dificuldades de visão e até mesmo a cegueira em consequência de um descolamento”, explica Eduardo Dib.

O controle cuidadoso do diabetes, com dieta adequada, o uso de pílulas hipoglicemiantes, insulina ou com uma combinação desses tratamentos, prescritos pelo médico endocrinologista, e o acompanhamento da condição dos olhos por um oftalmologista são as principais formas de prevenção. Para quem já sofre da doença a fotocoagulação por raio laser, procedimento que cauteriza pequenas áreas da retina doente na tentativa de prevenir o processo de hemorragia, pode ser utilizada no início, possibilitando melhores resultados no controle.

Os Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia 2013 vão ocupar 18 salas com simpósios, painéis e eventos especiais coordenados por oftalmologistas representantes dos três idiomas: português, espanhol e inglês. O evento, organizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) em parceria com a Associação Pan-Americana de Oftalmologia (PAAO), será realizado de forma compartilhada e única no Riocentro.

SERVIÇO:

Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia de 2013

Data: de 7 a 10 de agosto de 2013.

Local: Riocentro

Informações: 11 3266-4000

Site: www.congressocbo.com.br