Tratamento do diabetes e redução dos riscos cardiovasculares têm sido os principais objetivos no acompanhamento dos pacientes com excesso de peso

Uma das evidências mais presentes nos debates científicos é a perda de peso como efeito secundário do tratamento cirúrgico em pacientes obesos e com sobrepeso que sofrem de diabetes tipo 2 e outras doenças metabólicas como hipertensão e

apneia do sono.

“A cirurgia bariátrica e metabólica desencadeia ações antidiabéticas e outras que atuam na melhoria de doenças associadas. Esse ajuste do metabolismo ajuda também

os pacientes a reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, que são um das principais causas de mortalidade no mundo”, resume Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), que acaba de realizar, o 1º Simpósio internacional de Videocirurgia em parceria com a American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS).

Durante o evento, que terminou no último sábado, 22 de junho, o cirurgião paulista Ricardo Cohen comentou os últimos resultados importantes no mundo sobre a eficácia da cirurgia metabólica no controle do diabetes tipo 2 a médio e longo prazo. O estudo do Hospital Oswaldo Cruz, por exemplo, obteve

melhoria significativa dos marcadores da doença (glicemia, hemoglobina glicada, colesterol e triglicérides) em 99% dos pacientes testados, todos eles com sobrepeso ou Índice de Massa Corporal entre 30 e 35 kg/m2. O grande impacto do estudo é que em 88% dos pacientes houve remissão completa, ou seja, não foi necessário o uso de insulina e antidiabéticos no pós-operatório.

“Os indícios de controle do diabetes aparecem já nos primeiros dias após a operação, muito antes de haver perda de peso considerável. E essas melhorias permanecem por muito tempo, evitando que os diabéticos sejam vitimados por derrame, doenças cardíacas”, ressalta Dr. Cohen. “As pesquisas vêm nos mostrando que o IMC é insuficiente para determina a indicação do paciente ao tratamento cirúrgico.

Cada vez mais se fortalece o conceito de uma avaliação clínica global que leve em conta a gravidade do diabetes e de outras doenças associadas”, completa.

Até 2030, a epidemia de diabetes vai crescer 54% em média no mundo, passando de 285 para 438 milhões de portadores da doença. O dado alarmante foi analisado pelo presidente da ASMBS, Jaime Ponce, para quem a cirurgia tem um papel importante a ser intensificado nos casos em que os pacientes não correspondem às terapias clínicas a base de dieta, exercícios físicos e remédios. “A Federação Internacional de Diabetes mantém a diretriz de que o tratamento cirúrgico deve

ser uma opção para os pacientes diabéticos com obesidade moderada que não respondam mais a medicamento e apresentem sérios riscos cardiovasculares”, destacou o norte-americano.

“Ao mesmo tempo em que diminui a grelina, hormônio que dá a sensação de fome, a cirurgia aumenta substancialmente os hormônios intestinais, chamados de incretinas, como o GLP-1, e a produção de insulina, promovendo o controle glicêmico e do

metabolismo como um todo”, explica Dr. Ponce por que a cirurgia tem um resultado efetivo tanto para o combate à obesidade quanto para o controle do diabetes. Em sua apresentação, o especialista mostrou que após 18 meses, o

tratamento cirúrgico é bem mais eficiente em indivíduos que são diabéticos há menos de cinco anos.

A mesma opinião é compartilhada pelo cirurgião paulista Carlos Aurélio Schiavon, que integra o grupo de profissionais que veem nas operações metabólicas o novo desafio do tratamento da obesidade e suas doenças associadas. “Nossa área médica está em transição para uma nova era. Mais que a perda do excesso de peso, o conhecimento a ser aprofundado e considerado como meta no tratamento dos pacientes é o controle de glicemia, lipídios, síndrome metabólica e outros fatores que oferecem riscos cardiovasculares”, avalia o médico da SBCBM.