Quarto tipo de câncer mais comum entre os homens e o 8º entre as mulheres, o câncer bucal é descoberto em 70% dos casos em fase avançada no Brasil, demandando condutas terapêuticas menos conservadoras e com maior risco de sequelas que afetam a fala, mastigação, deglutição e a estética. Com a proposta de trocar experiências que estão colaborando para a reversão deste quadro, especialistas do Brasil e dos Estados Unidos participam nos dias 29 e 30 de novembro do VII Simpósio de Estomatologia e XVI Fórum de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, eventos simultâneos promovidos pelo A.C.Camargo Cancer Center.

Além de especialistas do A.C.Camargo, o evento receberá palestrantes das Faculdades de Odontologia da USP, UFMG e Unicamp; Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidades Federais de Goiás, de Recife e Fluminense; Santa Casa de São Paulo, ICESP e do Hospital Erasto Gaertner. Os convidados internacionais são o otorrinolaringologista e diretor do Departamento de Otorrinolaringologia do Centro Médico da Universidade de Minnesota, Bevan Yueh e o Professor Assistente da Escola de Medicina Dentária da Universidade de Harvard, Nathaniel Treistel.

BEVAN YUEH – Focado nos tumores de cabeça e pescoço, glândulas salivares e tireóide, Bevan Yueh estuda novas estratégias para melhorar a qualidade de vida do paciente durante e após o tratamento. Em um de seus trabalhos mais importantes, publicado em 2010 na revista científica Archives of Otolaryngology – Head and Neck Surgery, Bevan Yueh e demais autores aplicaram um questionário com a proposta de estabelecer subescalas em relação à qualidade de vida do paciente com diagnóstico de câncer de boca ou orofaringe tratados por cirurgia com ou sem radioterapia adjuvante de 1992 a 2006. Os autores consideraram variáreis como idade, gênero, extensão da doença e tempo de tratamento e estimaram os efeitos clínicos de cada forma de tratamento. Ao todo, 517 pacientes participaram do questionário ao menos 9 meses após a cirurgia, sendo que 65% dos pacientes apresentavam tumores mais avançados (estadios III e IV). O estudo avaliou a função física: mastigação, deglutição, fala, paladar, salivação e aparência e também a função sócio-emocional, que envolve ansiedade, humor, dor, atividades de rotina, dentre outros, e concluiu-se que a abordagem interdisciplinar propicia menos efeitos adversos. Link para o estudo: http://archotol.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=496165

NATHANIEL TREISTER – Com atuação direcionada para a doença crônica de boca, Treister é autor principal de inúmeros ensaios clínicos que visam definir as principais complicações de câncer oral e das terapias de combate à doença, explorando os mecanismos patobiológicos, diagnósticos e prognósticos. Dentre seus focos está tentar amenizar as complicações possíveis como mucosite oral, infecções, hipossalivação, cárie dentária, osteonecrose da mandíbula, dentre outras. Treister desenvolve pesquisas relacionadas também à doença do enxerto-versus-hospedeiro (complicação comum do transplante de medula óssea alogênico). “O transplante alogênico consiste em levar as células hematopéticas de uma pessoa para outra, sendo que receptor pode vir a apresentar a doença do enxerto contra o hospedeiro. Neste caso, as células doadas que multiplicaram formando uma nova medula no receptor, desenvolvem uma reação contra o hospedeiro, afetando vários órgãos, que é a doença do enxerto versus o hospedeiro (GVHD, na sigla em inglês)”, destaca o dentista, Estomatologista e diretor de Estomatologia do A.C.Camargo, Fábio de Abreu Alves. No evento brasileiro, Treister abordará como amenizar estes efeitos adversos e neoplasia bucais que aparecem decorrente do GVHD.

De acordo com Fábio Alves, todo paciente que está em tratamento oncológico necessita ter uma excelente saúde bucal. “Uma avaliação odontológica antes do tratamento pode evitar complicações graves. Quando o paciente está imunossuprimido (em quimioterapia ou transplante de medula) é mais suscetível a desenvolver infecções generalizadas decorrentes de micro-organismos presentes na boca. Sendo assim, cuidados com a saúde da boca devem ser intensificados”, destaca Fábio Alves que é coordenador do evento ao lado de nomes de peso como o cirurgião oncologista e diretor de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo, Luiz Paulo Kowalski, especialista que é referência mundial em cirurgia de tumores de boca, que trará em sua aula as novas propostas de estadiamento em câncer oral.

O QUADRO DA ESTOMATOLOGIA NO BRASIL – De acordo com Fábio Alves, não há no Brasil um programa ideal de prevenção do câncer de boca. Para ele, o autoexame da cavidade oral é muito questionado, havendo pontos positivos e negativos. “O positivo seria a identificação de alterações na boca pelo paciente e este procurar o profissional rapidamente. Mas, o problema é que, muitas vezes, o câncer está em locais de difícil visualização como a borda posterior da língua, o palato mole e outros, não sendo, desta forma, identificado”.

Ainda segundo o especialista, no programa de vacinação da gripe, que acontece anualmente, há também a participação do cirurgião-dentista para avaliação da cavidade oral, sendo que alguns casos de câncer e outras doenças da boca são identificados nesta campanha,

ESTOMATOLOGIA DO A.C.CAMARGO – Pioneiro no país, o serviço de Estomatologia do A.C.Camargo é uma referência internacional, sendo que a atual equipe completa uma década no departamento em 2013. O estomatologista é um especialista originalmente formado em Odontologia que está envolvido no diagnóstico das doenças da boca, dos ossos gnáticos (mandíbula e maxilas) e das glândulas salivares. Especificamente na Oncologia, a especialidade atua no diagnóstico do câncer de boca e tem papel fundamental na prevenção e controle dos efeitos colaterais do tratamento oncológico.

A mucosite oral, efeito mais debilitante, pode estar associada à quimioterapia e/ ou a radioterapia. Muitas vezes, o tratamento pode ser interrompido devido sua intensidade. A xerostomia (sintoma da boca seca) é outro efeito que compromete a qualidade de vida do paciente. Pacientes xerostômicos são mais suscetíveis a desenvolver cáries, doenças na gengiva ou na mucosa, como a candidíase.

COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS – O câncer de boca, muitas vezes, não apresenta sintomas nas fases iniciais, ou seja, o paciente não sente dor ou desconforto. Clinicamente, no início, pode ser observada uma placa branca irregular, áreas avermelhadas ou até mesmo pequenas úlceras (feridas) que não cicatrizam. Com a evolução do tumor, úlcera com superfície necrótica é a principal forma de apresentação. “Pacientes e profissionais devem ficar atentos para úlceras que não cicatrizam”, alerta Fábio Alves.

SERVIÇO

VII Simpósio de Estomatologia e XVI Fórum de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

Realização: A.C.Camargo Cancer Center

Data: 29 e 30 de novembro de 2013

Local: Auditório Sen. José Ermírio de Moraes – A.C.Camargo

Endereço: Rua Professor Antônio Prudente, 211, Liberdade, São Paulo

Programação e inscrições: http://www.accamargo.org.br/evento-detalhe/vii-simposio-de-estomatologia-e-xvi-forum-de-cirurgia-de-cabeca-e-pescoco-do-ac-camargo-cancer-center/127