O Hospital Placi, que há dois anos aposta em terapias alternativas para tratar pacientes com doenças crônicas e/ou degenerativas, investe agora no projeto “Dó, Ré, Mi, Placi: uma integração musical”, que viabiliza aos pacientes em cuidados paliativos e em reabilitação, o resgate de sua individualidade. A técnica, implementada pela coordenadora do Dept. de Psicologia do hospital, Paula Camargo, segue as ações planejadas com base no conceito exclusivo do hospital, de cuidados extensivos.

Através da música, a equipe multidisciplinar do hospital localizado em Niterói potencializa as capacidades mentais preservadas e readapta o paciente à sua nova realidade, dentro de um contexto social. Além disto, a proposta também visa promover uma integração entre todos os envolvidos nos cuidados com paciente, como por exemplo, familiares, cuidadores e equipe multidisciplinar. Os resultados da introdução deste tipo de terapia já podem ser mensurados. A mesma equipe foi responsável por momentos marcantes na vida dos pacientes, como a alta de um deles após progressiva melhora estimulada pelas visitas de seu cão de estimação e a felicidade de uma paciente portadora de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) ao poder estar presente no casamento de sua filha caçula, realizado nas dependências da instituição.

Os benefícios promovidos contemplam, ainda, o auxílio na manutenção da estabilidade clínica, o fortalecimento da autoestima, a reinserção no contexto social, o estreitamento dos laços entre os componentes do grupo e a existência de um lugar protegido, onde emoções podem ser expressas de forma livre e espontânea. “De modo geral, os pacientes aguardam os encontros e muitas vezes questionam quais estilos de música serão tocadas. É interessante perceber que esta expectativa não se restringe apenas ao universo do paciente e seus familiares, mas envolve também a equipe de enfermagem e assistencial”, comenta a psicóloga Paula Camargo.

O perfil dos pacientes é similar, a maioria apresenta doenças neurodegenerativas, tais como esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Alzheimer, síndrome demenciais com perdas cognitivas leves e/ou moderadas, pacientes com diagnósticos de acidente vascular encefálico (AVE), cardiopatas e pacientes com diagnósticos de doenças do sistema nervoso. “Há artigos na área da Psicologia que relacionam o trabalho com a música a alguns traços de personalidade, à minimização de quadros de ansiedade e depressão, bem como redução de estresse. Na área da Neurologia, encontramos estudos recentes que vêm mostrando os benefícios provocados através da estimulação musical. Um trabalho primoroso vem a ser do Dr. Oliver Sacks, em seu livro “Alucinações Musicais”, onde aborda sobre os efeitos da música na dimensão mental, emocional, física e social, bem como os benefícios de ordem neurológica no que concerne a manutenção da estimulação sináptica de estruturas cerebrais não lesionadas”, adiciona a psicóloga.

A proposta musical é também enfatizar os aspectos psicoemocionais. Portanto, a introdução de outras técnicas, como a pintura, desenho ou outros recursos arteterapêuticos, pode acontecer naturalmente e deve ser adaptada ao momento ao qual o paciente se encontra, considerando sua disponibilidade física e emocional. Muitos pacientes, ao atingirem um quadro de estabilidade funcional dentro de suas possibilidades diagnósticas, podem retornar para casa. “É preciso levar em consideração os recursos disponíveis para este processo de readaptação. Os familiares e cuidadores devem proporcionar a este paciente um espaço onde todos possam se preparar psiquicamente para esta nova realidade”, finaliza Paula.