Doença de alta prevalência e de grande impacto socioeconômico, a incontinência fecal pode ser definida como a perda involuntária de fezes, gases ou muco pelo ânus. Acomete entre 02 e 20% da população geral, principalmente a adulta, com idade superior a 40 anos. As mulheres são mais afetadas que os homens devido às diferenças existentes na própria anatomia da região e a outros fatores, como o número de partos.
De acordo com a coloproctologista Flávia Berford, do Instituto de Coloproctologia de Brasília – ICB, alguns fatores aumentam o risco da doença: “Têm maior suscetibilidade ao problema as pessoas idosas, mulheres que tiveram vários partos, pacientes com esclerose múltipla e diabetes, portadores de câncer no ânus e pessoas submetidas a operações no períneo”.
Quem sofre com o problema muitas vezes considera a situação normal com o avançar da idade e acaba não conversando com o médico, às vezes por vergonha ou por desconhecimento. Com isso, acaba tendo seu diagnóstico e tratamento retardados. “É fundamental que o paciente conheça o máximo possível sobre essa condição e que informe ao especialista o que está acontecendo, pois a incontinência fecal é uma situação normalmente tratável, sendo possível a diminuição dos sintomas ou até mesmo a cura do problema”, alerta Dra. Flávia.
Os pacientes que possuem incontinência fecal apresentam na maioria das vezes os mesmos sintomas. “No início a pessoa tem incapacidade de segurar os gases, depois não consegue conter as fezes líquidas e, por fim, as sólidas”, afirma. Dra. Flávia Berford ainda comenta que com o agravamento do quadro, o paciente sente-se impossibilitado de manter uma vida social ativa por sentir-se envergonhado. “Alguns chegam a usar protetores de roupa íntima e se privam de passeios longos ou viagens”, lembra.
Diagnóstico – O médico precisa primeiramente investigar a doença por meio dos sintomas, presença de doenças concomitantes, uso de medicações e história de operações ou traumas na região do períneo.
“Para um correto diagnóstico é preciso realizar também exames físico e proctológico completos, o que inclui inspeção estática e em esforço que simule a evacuação, avaliação da sensibilidade da pele da região anal e do períneo, toque retal para avaliar a força da musculatura e exames endoscópicos para descartar algumas doenças que causam diarréia”, explica a médica.
Alguns exames complementares também são muito importantes na investigação da incontinência fecal, como a manometria anorretal e a ultrassonografia endorretal. Segundo Dra. Flávia, esses exames avaliam a integridade e a força da musculatura esfincteriana e podem identificar possíveis defeitos nela localizados.
Tratamento – São duas as possibilidades de tratamento: conservador ou cirúrgico. Eles são escolhidos de acordo com a causa, a gravidade e os aspectos clínicos de cada paciente. No tratamento conservador é realizada a introdução de fibras na dieta com o objetivo de tornar o bolo fecal mais consistente, a prescrição de medicações que retardem a evacuação, a instituição de medidas que promovam o esvaziamento retal (as lavagens intestinais, por exemplo) e a fisioterapia do assoalho pélvico – que é uma modalidade de tratamento não operatório com função de fortalecer e promover a coordenação motora da musculatura.
“Geralmente, os pacientes que apresentam quadro de incontinência fecal grave não obtêm melhora significativa com as medidas do tratamento conservador. Nesses casos, o tratamento cirúrgico pode estar indicado. As opções cirúrgicas vão desde a aproximação e transposição da musculatura esfincteriana até a implantação de um esfíncter artificial”, conclui.