A sepse, também conhecida como infecção generalizada, é mais mortal do que se imagina. Só no Brasil, todos os anos, segundo dados do ILAS (Instituto Latino-Americano de Sepse), ocorrem mais de 400 mil casos, que levam a cerca de 230 mil mortes em UTIs, com uma taxa de mortalidade registrada em 2014 que varia de 31,6% (sepse grave) a 64,2% (choque séptico).
Em outros países, como a Espanha, a taxa de mortalidade é de cerca de 30% e pode cair. A chave para isso é a aplicação de um protocolo para a gestão integrada da sepse, que traga recomendações para diagnóstico, tratamento e monitoramento, e conte com uma equipe de saúde multidisciplinar.
A prova concreta da efetividade dessa iniciativa é a taxa de mortalidade de pacientes internados na UTI sobre o total de mortes registrada no Hospital Son Llàtzer, em Palma de Maillorca (Espanha), que chegou a 7,9% em 2011. Especialista em Medicina Intensiva e Coordenador da Unidade Multidisciplinar de Sepse na instituição, o médico brasileiro Márcio Borges Sá foi um dos responsáveis por mudar a abordagem da doença no hospital, tornando-a homogênea.
“A partir da criação do protocolo e da aplicação dos processos, principalmente que agilizassem o diagnóstico, conseguimos reduzir o tempo de internação, o custo por paciente e, o mais importante, diminuir a taxa de mortalidade”, afirma o médico.
A intenção do especialista era ampliar os benefícios dessa iniciativa para a saúde pública em outras cidades da Espanha e até para outros países. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma espécie de guia, com recomendações para o gerenciamento da sepse.
A publicação “Código Sepsis – Documento de Consenso”, recém-lançado na Espanha, é o resultado da colaboração de 28 sociedades científicas e de 64 profissionais de saúde, de diversas especialidades. Trata-se de um documento independente, ou seja, elaborado sem a participação da indústria, que estará em breve disponível numa plataforma online a médicos e enfermeiros que queiram aplicar suas recomendações para diminuir a mortalidade associada à sepse.
Outros países, por meio de sociedades científicas, já demonstraram interesse em fazer parte da iniciativa, como Inglaterra, Portugal, Colômbia, Chile, Argentina e México. “No Brasil, seria importante envolver as sociedades científicas, médicos e enfermeiros, mas também profissionais como microbiologistas e farmacêuticos. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento da sepse, muitos seguem fazendo tudo igual. É preciso compartilhar informação e mudar conceitos”, diz o especialista.
Teoria e prática – O conteúdo do guia é claro e didático, para facilitar a aplicação no dia a dia, e inclui a detecção precoce da sepse, diagnóstico, tratamento, manejo integral e o monitoramento clínico, além de sugerir dinâmicas de trabalho para os recursos humanos.
O material informa ainda sobre critérios de diagnóstico para diferentes níveis de sepse e indica uma ferramenta que permite agilizá-lo: o biomarcador de procalcitonina (PCT). A PCT é uma substância que não é encontrada no sangue de uma pessoa saudável. Ela é liberada por diversos órgãos quando há infecção bacteriana. Quanto maior a presença de PCT no plasma sanguíneo, maior a gravidade da infecção bacteriana.
“Dosagens de procalcitonina podem ajudar no diagnóstico precoce e no estabelecimento do prognóstico, na avaliação clínica e na orientação do tratamento, e ainda diminuir a incidência de bactérias multirresistentes a antibióticos nos hospitais”, diz o especialista. “Estudos tem mostrado que o investimento para medir a PCT de forma frequente é muito baixo e compensa a possibilidade de redução expressiva nos custos com antibióticos e UTI.”
Na sepse, o aumento dos níveis de PCT pode ser observado de 3 a 6 horas após o início da infecção. Em infecções virais, doenças inflamatórias, doenças crônicas ou processos autoimunes, os níveis da PCT são baixos, permitindo, assim, o diagnóstico diferencial entre a sepse e as diversas condições clínicas.
No Brasil já existem tecnologias voltadas a medir a PCT. Uma delas é o teste para detectar a Procalcitonina no Sistema VIDAS®, da bioMérieux, que é realizado em apenas 20 minutos, sendo possível obter os primeiros resultados que são decisivos para que o paciente com sepse receba o tratamento adequado nesse curto período de tempo.