Um número cada vez maior de brasileiros vem tendo acesso aos recursos oferecidos pela medicina nuclear, especialidade médica que usa baixas doses de radiação para o estudo funcional de diversos órgãos e diagnóstico de doenças cardiológicas, neurológicas, oncológicas e ortopédicas, entre outras. A especialidade, também empregada no tratamento de doenças que afetam a tireóide, como o hipertiroidismo e câncer, é hoje encontrada em clínicas especializadas e grandes hospitais. Para o médico Carlos Fuser, especialista em medicina nuclear pela John Hopkins University e diretor da Clínica São Carlos (RJ), especializada no tratamento oncológico, o aumento da demanda vem ocorrendo por dois motivos: difusão cada vez maior das técnicas da especialidade entre a classe médica e, principalmente, maior acesso da população aos planos de Saúde.
“Na São Carlos, por exemplo, houve um crescimento de 20% no total de procedimentos realizados nos dois últimos anos”, comenta Fuser, que afirma que cerca de 90% dos atendimentos da clínica vem de pacientes com planos de Saúde. Membro titular das sociedades brasileiras de Biologia e Medicina Nuclear, do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Society of Nuclear Medicine-USA, Fuser lembra que muitas pessoas ainda desconhecem os benefícios da medicina nuclear no uso de diagnósticos e tratamentos. E ainda há um pouco de preconceito em função do uso de substâncias radioativas. “As substâncias radioativas injetadas durante os exames com imagem não prejudicam o organismo. Os radioisótopos usados na medicina nuclear são eliminados rapidamente pela urina ou atividade intestinal e têm níveis de radiação menores que os aparelhos de raios X e tomografias computadorizadas”, esclarece.
No caso das doenças da tireóide, por exemplo, o tratamento é quase 100% eficaz com o uso do Iodo 131 (uma das substâncias radioativas usadas na medicina nuclear) em dose única, já que elimina totalmente o tecido canceroso podendo ser realizado em pessoas de qualquer idade. O Iodo 131 é usado no diagnóstico de mau funcionamento da glândula tireóide, no tratamento do hipertireoidismo e câncer da tireóide. “O câncer de tiróide é o mais comum dos cânceres do sistema endócrino e ocorre em todas as faixas etárias, atingindo, na sua maioria, mulheres acima de 35 anos”, lembra o médico. Fuser ressalta que já tratou mais de oito mil casos de câncer da tireóide, inclusive de pacientes que tinham expectativa de sobrevida de poucos meses, mas venceram a doença e estão há anos levando uma vida praticamente normal.
Sempre acompanhando os avanços tecnológicos, a Clínica São Carlos acaba de adquirir uma gama câmara de última geração, uma Spect Gama Câmara Tomográfica, que realiza exames spect-ct. “A vantagem deste tipo de exame é que ele permite localizar as lesões com maior precisão, pois o equipamento oferece a fusão da imagem da gama câmara com a imagem da tomografia computadorizada”, comenta o especialista.
A gama câmara é usada em múltiplas especialidades e algumas das doenças diagnosticadas pelo aparelho são as cardíacas (como a isquemia miocárdica), as cerebrais (como demências e epilepsia), oncológicas (como metástases ósseas, lesões hepáticas e câncer de tireoide), ortopédicas (como infecções ósseas), e ainda hipertireoidismo, obstruções e cicatrizes dos rins, refluxo gastroesofágico e sangramento intestinal.
Medicina nuclear e cardiologia
Outro importante uso das técnicas da medicina nuclear ocorre na área da cardiologia. “A cardiologia foi uma das primeiras especialidades a se beneficiar do uso dos radiofármacos para diagnóstico de diferentes patologias. Suas aplicações surgiram no início da década de 70 e, desde então, ocorreram grandes progressos na análise da fisiologia e da fisiopatologia cardíaca. Os exames de medicina nuclear conquistaram papel determinante na tomada de decisão, especialmente quando a dúvida recai sobre a indicação entre tratamento clínico ou cirúrgico nas doenças das artérias coronárias”, explica o médico. Ele lembra que, entre os exames usados, destaca-se a Cintilografia de Perfusão Miocárdica, que avalia se as células do músculo cardíaco estão recebendo fluxo sanguíneo com quantidade suficiente de oxigênio, nutrientes e demais substâncias essenciais à manutenção do metabolismo.
Outro exemplo da técnica de imagem cardiovascular é o teste de estresse com tálio, no qual o paciente recebe uma injeção do composto de tálio radioativo, exercita-se em uma esteira mecânica e é filmado com uma câmera de raios gama. Depois de um período de descanso, o estudo é repetido sem o exercício. As imagens geradas antes e depois do exercício são comparadas e revelam mudanças no fluxo sanguíneo do coração em atividade. Estas técnicas são úteis para detectar artérias ou vasos capilares obstruídos no coração e outros tecidos.
Fuser conta que, além de exames cardiovasculares, o serviço de medicina nuclear da Clínica São Carlos oferece exames do aparelho digestivo, genital e urinário, músculo esquelético, oncológico, respiratório, endócrino e do sistema nervoso, além de iodoterapia. “Somos uma das únicas clínicas particulares que oferecem o tratamento de iodoterapia por meio de plano de saúde. São cinco unidades de terapia radioisótopica (UTR), para tratamentos com uso de radioisótopos em pacientes que necessitam isolamento. São suítes que oferecem total conforto ao paciente, com camas elétricas, televisão, DVD e acesso a internet”, conta o médico. Além do tratamento radioisótopico com o Iodo 131, para câncer da tireóide, a clínica oferece tratamento com Samário 153 (para metástases ósseas), com o MIBG-1131 (para o tratamento de tumores provenientes da crista neural – neuroblastoma, feocromocitoma e medular da tireóide), e com Lutécio-Octreotato 177 (tratamento de tumores carcinóides metastáticos).