Mergulhar de cabeça numa lagoa ou cachoeira de águas rasas tem resultado em centenas de casos de fratura e/ou luxação das vértebras da coluna cervical associadas ou não a lesões medulares (trauma raquimedular), principalmente no Nordeste brasileiro. O problema condena jovens de 10 a 29 anos a passarem o resto de seus dias numa cadeira de rodas ou outros graus de incapacitação.

O alerta é da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Coluna (Comitê da Coluna da SBOT), que acaba de lançar uma campanha para ensinar os jovens a nunca mergulharem de cabeça num corpo de água cuja profundidade desconhecem. O problema, explica o coordenador de Campanhas do Comitê da Coluna, Alexandre Podgaeti, é que quando o indivíduo bate com a cabeça no fundo, ao mergulhar, o pescoço se dobra num ângulo anormal e ocorre a fratura vertebral, luxação, ou lesão ligamentar, associados ou não a alterações neurológicas. “Como os feixes nervosos passam por dentro da coluna vertebral, quando uma vértebra se parte ou se desloca, um ou mais nervos podem ser atingidos e o efeito vai da diminuição da força num braço ou numa perna, até a paralisia completa dos braços e pernas”.

O médico diz que há casos em que o trauma é tão serio que a vítima não consegue mais fazer qualquer movimento (braços e/ou pernas) e, se não for retirada da água, pode morrer afogada.

MAIOR FREQUÊNCIA NO NORDESTE

Estatisticamente, há 83 casos desse tipo de trauma por milhão de habitantes por ano no mundo, mas no Nordeste o índice é maior, 91 por milhão por ano. Só o Hospital Geral do Estado, da Bahia, apresentou um estudo com 145 pacientes e o problema foi considerado tão grave, que uma campanha coordenada pela traumatologista Joilda Fontes Gomes, também integrante do Comitê da Coluna da SBOT, foi desencadeada. “Foram feitos100 mil folhetos, mas é difícil atingir essa população, justamente na época de férias escolares, quando a garotada procura lagoas e cachoeiras para nadar”.

Em São Paulo, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas fez um estudo que comprovou ser o mergulho em água rasa a quarta causa de lesão medular do Brasil, e a segunda no verão, quando 10 pessoas ficam paraplégicas por semana.

RECOMENDAÇÃO É SIMPLES

A recomendação dos médicos é que nunca se mergulhe de cabeça em águas desconhecidas. É preferível mergulhar antes em pé ou simplesmente entrar na água sem o ato do mergulho, para conhecer a profundidade. E se houver um acidente, a recomendação é tirar a vítima da água e deixá-la deitada, até que bombeiros do resgate cheguem no local e coloquem um colar cervical. “Se houve uma fratura ou deslocamento de alguma vértebra , qualquer movimento pode levar um fragmento de osso a cortar um nervo, que pode não se recuperar”.