População ganha acesso a nova arma contra o câncer
Equipamento trazido da Inglaterra permite o gerenciamento preciso da radiação sem comprometer as estruturas saudáveis e minimiza efeitos colaterais. Tecnologia amplia tratamento aos afetados pela doença
A radioterapia é utilizada para matar qualquer célula cancerígena remanescente após cirurgias de retirada de tumores. Em sua forma avançada, é aplicada em casos de tumores inoperáveis. Na capital mineira, a versão mais avançada da técnica acaba de ser inaugurada pelo Centro Avançado de Radioterapia do Hospital Felício Rocho, e já tem atraído pacientes de outras cidades e estados. Trata-se de um acelerador linear de partículas para tratamentos com radiação. O aparelho, com tecnologia IGRT ou Radioterapia Guiada por Imagens, vai proporcionar o aprimoramento de técnicas já adotadas pelo centro para o tratamento de tumores. Exemplo disso é a radioterapia com intensidade modulada, chamada IMRT.
“A tecnologia nos permite planejar o tratamento e gerenciar a entrega da dosagem de forma precisa, sem comprometer as estruturas consideradas normais. Conseguimos mensurar a quantidade de radiação que chega ao órgão, o que já era feito, mas temos um aumento do ganho terapêutico preservando o entorno do que está comprometido. Temos, assim, a chance de minimizar os efeitos colaterais, mesmo quando a dosagem de radiação é maior. Lesões muito pequenas, de milímetros, em áreas que antes não poderiam ser abordadas para não causar um dano maior ao paciente, como regiões sensíveis do cérebro e da medula espinhal, agora podem ser tratadas com a radiocirurgia”, explica o coordenador do centro, Dr. Leonardo Cunha Furbino. “A maior taxa de dose deste equipamento permite aplicar essa técnica em um tempo muito menor, com ainda mais conforto para os pacientes e mais precisão”, afirma.
Outra técnica já utilizada e que vai ser ampliada com a chegada do novo acelerador é a radioterapia estereotáxica ablativa corporal, utilizada em pacientes com tumores inoperáveis no pulmão, no tratamento de câncer de próstata e em casos de reirradiação. Esta técnica tem sido testada com sucesso inclusive em pacientes operáveis como uma alternativa à cirurgia convencional.
O núcleo já possui dois equipamentos como esse e, segundo Dr. Pimentel, a chegada do terceiro equipamento aumenta a capacidade instalada e vai permitir ampliar e melhorar ainda mais o atendimento a pacientes que precisam de tratamentos com radiação. Anualmente, cerca de 1800 pacientes realizam seus tratamentos nos serviços de radioterapia do Felício Rocho e, de acordo com o médico radioterapeuta, esse número pode chegar a quase três mil com o novo acelerador, sendo de 20% a 30% pacientes de outras cidades e estados. Ao todo, o investimento com a aquisição das modernas tecnologias foi de R$10 milhões.
Evolução da tecnologia
Uma nova modalidade de radioterapia está ganhando espaço no Brasil e tornando-se acessível à maior parte da população. A radioterapia intra-operatória é um método revolucionário no tratamento contra o câncer, principalmente o de mama. Através da técnica, toda dose necessária de radiação é aplicada durante a cirurgia de retirada do tumor, substituindo a aplicação externa realizada, geralmente, em 30 sessões. Enquanto a paciente ainda está anestesiada, é feita a dosagem internamente. Além da economia de tempo, a principal vantagem é que os tecidos saudáveis, como pele, coração e pulmão, não são irradiados, diminuindo os efeitos colaterais.
Por enquanto, no país, o procedimento é oferecido em poucas cidades, entre elas Belo Horizonte, São Paulo, Campinas e Porto Alegre. Com a aquisição do terceiro acelerador linear, o Centro Avançado de Radioterapia do Hospital Felício Rocho passará a oferecer esse tipo de cirurgia. Por meio da técnica, por exemplo, mulheres com câncer de mama poderão realizar a radioterapia no momento da cirurgia. “Ao acordar a paciente estará livre do tumor e com a radioterapia já realizada, o que dispensa, em média, seis semanas de tratamento”, explica Pimentel. No procedimento padrão, a paciente faz a cirurgia e volta ao hospital para realizar as sessões de radioterapia em doses fracionadas, durante semanas. Na aplicação intra-operatória, a paciente pode seguir direto para a quimioterapia, evitando desgastes emocionais e irradiações desnecessárias.
Serviço de referência
O Centro Avançado de Radioterapia conta com uma equipe multidisciplinar composta por médicos especialistas, físicos, tecnólogos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, e é altamente capacitada e especializada no Brasil e no exterior. Conta ainda com uma sofisticada sala de controle com o apoio de físicos especialistas em Física Médica treinados no Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Hospital do Câncer de São Paulo. A humanização do atendimento ao paciente e o acompanhamento das tendências mundiais e da evolução da tecnologia empregada no combate ao câncer são alguns dos destaques do serviço oferecido.