Apesar de estudos bastante avançados, em relação ao transplante facial, a falta de legislação específica no Brasil e a resistência das famílias de doadores podem atrasar o desenvolvimento do procedimento no país

A Evolução do Transplante Facial será um dos temas do Simpósio Especial de Abertura do XXII COBRAC – Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, no Rio de Janeiro. O assunto será apresentado pelo convidado internacional, Jean-Paul Meningaud, professor e presidente do

Departamento de Cirurgia Plástica da University Hospital Henri Mondor e membro de uma das equipes mais experientes do mundo nesta técnica.

O presidente do evento, Paulo Rodrigues, explica que reconstrução da face e transplante facial são procedimentos distintos: “as técnicas usadas para a reconstrução da face podem empregar biomateriais, implantes, enxertos ósseos e de partes moles, e até mesmo, em amplo sentido, as somatopróteses, ou seja, peças customizadas que mimetizam uma parte do corpo perdida”, conta.

Já o transplante facial é uma técnica específica de reconstrução da face, relativamente recente, que visa reconstruir grandes perdas de tecidos, por trauma ou tumores, a partir de segmentos removidos de doadores com morte cerebral. “Por enquanto, esta forma de reconstrução deve ser vista com bastante limitação. Não sobre sua viabilidade, já comprovada, com casos de bastante sucesso; mas sim em razão de sua complexidade e, ainda, baixíssima disponibilidade no mundo”, afirma o especialista.

Embora o Brasil possua um abrangente programa de transplante de órgãos, o país ainda não realizou transplantes faciais e também não possui uma legislação específica para esta modalidade, apesar de já existirem grupos bastante adiantados nas técnicas envolvidas no transplante facial como reconstrução óssea, uso de biomateriais e microcirurgia.

No mundo, atualmente, são apenas pouco mais de 20 casos operados. A complexidade do procedimento está no fato de reunir, em uma única intervenção, diferentes áreas da medicina: cirurgia buço-maxilo-facial, cirurgia plástica, cirurgia vascular, microcirurgia e imunologia em uma estrutura hospitalar de altíssima complexidade. As experiências ainda pontuais não permitiram avaliações de séries de casos relativamente homogêneos e facilmente comparáveis. Os relatos, até o momento, são da França (onde o primeiro caso foi operado), Estados Unidos, Bélgica, Turquia, China, Polônia e Espanha.

O presidente do XXII COBRAC lembra que, mesmo nesses países, a escolha do doador é uma questão crítica. É necessário saber o momento indicado, obter um doador em condições de morte cerebral, com tipo sanguíneo, gênero, tom de pele e porte compatíveis com as necessidades do paciente. “Dependendo do ambiente sociocultural, a resistência das famílias dos doadores também pode representar uma limitação”, conclui Paulo Rodrigues.

XXII COBRAC – Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

Data: 20 a 24 de agosto de 2013

Local: Windsor Barra Hotel