Oncologista defende a importância do acompanhamento a longo prazo dessa população

No sentido de ampliar o aprendizado advindo da tragédia em Santa Maria, oncologistas chamam a atenção para estudos recentes que relacionam indivíduos expostos a grandes incêndios e o risco de desenvolvimento de cânceres. “Pesquisa conduzida pela Universidade de Cinccinatti, Ohio (EUA), mostrou que bombeiros têm risco ampliado para tumores de testículo e próstata, além de linfomas e mieloma múltiplo”, afirma Dr. Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília – Cettro.

Segundo o cancerologista, outro estudo acompanhou 8.927 bombeiros que atuaram nos salvamentos dos atentados de 11 de Setembro, nos Estados Unidos. “Há evidências de a incidência de câncer nessa população foi incrementada em 19%. Embora os dados sejam preliminares, devem ser levados em consideração”, esclarece.

Onde Há Fumaça – Para os americanos, tais resultados têm implicado em maior atenção quanto ao treinamento dos profissionais e aos equipamentos de proteção individual usados por eles e também por voluntários nos salvamentos. “No caso de Santa Maria, pessoas tiveram a vida ceifada por atuarem sem proteção na luta para salvar aqueles que ainda estavam no interior da casa noturna”, comenta Dr. Murilo Buso.

Há ainda um aspecto grave: portadores de pneumopatias benignas – como fibrose pulmonar difusa, fibrose intersticial e enfisema – têm também risco de adoecer de câncer maior que os da população comum. Essas são possíveis sequelas pulmonares às quais os sobreviventes estão expostos.

“Seria de suma importância que os pesquisadores brasileiros acompanhassem a população sobrevivente ao incêndio da boate Kiss. Um estudo de longo prazo poderá ser de suma importância em termos de saúde pública, visto que permitirá compreender a evolução e os riscos da intoxicação por cianeto, por exemplo”, enfatiza. “Pesquisas dessa natureza permitem a instituição de estratégias futuras de proteção”, conclui.