Levantamento será debatido no II Congresso de Clínica Psiquiátrica, que vai discutir a “Epidemia” dos problemas psiquiátricos na região mais populosa do país. Mais da metade dos entrevistados já vivenciou crimes ou passou por traumas e apenas um terço das pessoas classificadas com transtornos graves teve acesso ao tratamento adequado
Cerca de 30% dos moradores da região metropolitana de São Paulo apresentaram pelo menos um transtorno psiquiátrico nos últimos 12 meses, de acordo com o estudo Transtornos Mentais em Megacidades: Resultados do Inquérito de Saúde Mental em São Paulo Megacity, que acaba de ser publicado na PlosOne, revista científica internacional de artigos médicos e científicos. O tema será debatido no II Congresso de Clínica Psiquiátrica, que vai acontecer em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de agosto de 2012.
O levantamento pesquisou distúrbios em todos os níveis de gravidade, sendo a ansiedade o tipo mais frequentes (19,9%), seguido de humor (11%), impulso-controle (4,3%) e uso de substâncias (3,6%). O objetivo do estudo foi estimar a prevalência, severidade e tratamento de pessoas identificadas com transtornos mentais. Esta pesquisa foi liderada pela psiquiatra Dra. Laura Helena Andrade e faz parte de um consórcio internacional de estudos epidemiológicos.
Um em cada três entrevistados, que relataram ter tido pelo menos um transtorno nos últimos 12 meses, apresentou distúrbios considerados graves. Para ser considerado com depressão, “isso significa que durante pelo menos 15 dias a pessoa associou no mínimo cinco sintomas como tristeza ininterrupta, falta de prazer, idéia de morte, depressão ou culpa”, explica o psiquiatra do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e coautor da publicação no Brasil, Dr. Wang Yuan Pang.
Segundo ele, aqueles que apresentaram transtorno bipolar, são dependentes de álcool e substâncias psicoativas, tentaram suicídio ou que tiveram prejuízos importantes no seu desempenho diário – na vida social ou no trabalho – devem receber auxílio especializado devido à incapacitação decorrente, de acordo com os critérios da escala de gravidade de Sheehan (uma avaliação sobre o quanto o transtorno mental prejudica ou interfere no trabalho, manutenção da casa, vida social e relações íntimas da pessoa).
Os crimes e traumas também foram levantados. Os resultados mostraram que mais da metade dos entrevistados já passou ou assistiu a pelo menos um assalto, um crime, um estupro ou um acidente grave e que o contato com a violência está associado à presença algum tipo de transtorno mental.
Outro dado interessante é que 52% das pessoas são migrantes. Além disso, essa população é discretamente mais saudável que as demais que foram nascidas e criadas nas grandes cidades. “Percebemos o efeito da ‘migração saudável’, ou seja, os habitantes que mudam para uma metrópole e não se adaptam, não conseguem permanecer ou ser competitivos, voltam à sua cidade de origem” completa Dr. Wang.
O estudo Transtornos Mentais em Megacidades: Resultados do Inquérito de Saúde Mental em São Paulo Megacity mostrou também que adultos, que vivem na região Metropolitana de São Paulo, tiveram prevalência de transtornos mentais em níveis maiores do que pesquisas semelhantes realizadas em outras partes do mundo.
Apenas um terço das pessoas classificadas com transtornos graves tiveram acesso a algum tipo de tratamento. “Precisamos aumentar o acesso às pessoas que apresentam necessidades de tratamento de saúde mental”, conclui o psiquiatra.
Foram entrevistados pessoalmente 5.037 adultos, homens e mulheres, entre 18 e 65 anos, nos anos de 2005 e 2006, em 38 cidades da Região Metropolitana de São Paulo, além da capital, utilizando o Composite International Diagnostic Interview (CIDI), questionário epidemiológico que permite diagnosticar transtornos mentais, sua gravidade e uso de serviços de saúde.
O evento acadêmico de Psiquiatria é liderado e organizado pelo Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP – IPq-HCFMUSP e trará o conteúdo das palestras presenciais também disponível na plataforma on-line com base nas informações do livro Compêndio de Clínica Psiquiátrica, uma versão compacta do sucesso editorial Clínica Psiquiátrica, e acesso a Escola de Educação Permanente em Psiquiatria e Saúde Mental.
Lançado, editado e publicado pelos membros do IPq-HCFMUSP e pela Editora Manole, Clínica Psiquiátrica é considerado o maior tratado da atualidade em psiquiatria. Segundo o Professor Titular de Psiquiatria da FMUSP, Dr. Eurípedes Constantino Miguel, o livro aborda vários temas, entre eles: como a mente e os fatores externos impactam na forma como sentimos, desejamos e naquilo que queremos; aborda as nuances do diagnóstico na entrevista psiquiátrica; o ensino na graduação e na pós-graduação; a pesquisa e as metodologias de pesquisa, além da formulação de políticas públicas em saúde mental.
SERVIÇO:
II Congresso de Clínica Psiquiátrica
Data: 23, 24 e 25 de agosto de 2012
Local: Centro de Convenções Rebouças
Endereço: Avenida Rebouças, 600 – São Paulo / SP