A governança clínica e as acreditações em hospitais desempenham papel fundamental na qualidade e segurança dos serviços de saúde. E mais do que reconhecimento e credibilidade agrega diretrizes importantes na gestão risco, segurança do paciente, estrutura e controle e também para a sustentabilidade financeira. Esse assunto é tema de diversas discussões entre gestores e especialistas do setor.
Segundo o gestor, médico e professor Juliano Gasparetto, menos de 10% dos hospitais no Brasil têm algum tipo de acreditação — uma espécie de “selo de qualidade” que reconhece instituições que seguem padrões rigorosos de qualidade e segurança no atendimento à saúde.
Gasparetto dirige dois hospitais com perfis bem diferentes: o Universitário Cajuru, que atende só pelo SUS, e o São Marcelino Champagnat, referência no atendimento privado e suplementar. Os dois têm acreditações máximas, o que, segundo o médico, não é um luxo — é uma necessidade. “Você não compraria um carro sem saber se o freio funciona. Por que aceitamos ser operados em hospitais que não passam por nenhuma checagem?”, questiona o gestor durante o II Congresso Nacional de Direito Médico e da Saúde.
Segurança é prioridade
A implementação efetiva de governança sólida e busca por certificações representam investimentos estratégicos que resultam em benefícios tangíveis para todas as partes envolvidas no ecossistema hospitalar.
Para Gasparetto, a segurança do paciente e a qualidade do atendimento não dependem apenas de bons médicos ou equipamentos modernos. “É preciso ter regras claras, processos padronizados, trabalho em equipe e transparência nos resultados”.
Um exemplo prático é o trabalho colaborativo entre os setores. Médicos, enfermeiros, gestores e até o setor jurídico do hospital trabalham juntos para garantir o melhor cuidado possível, com o menor risco. “Quando tudo é feito de forma organizada, os erros diminuem, os tratamentos são mais eficientes e a confiança aumenta. Isso faz bem para o paciente e também para o hospital”, explica Gasparetto.
Segundo o advogado especializado em saúde, Tertius Rebel, dessa forma, o setor jurídico deixa de ser apenas um “bombeiro de crise” e passa a atuar como parte estratégica da governança corporativa. “Governança e propósito são pilares da eficiência. As empresas de saúde são organismos complexos que operam na interseção entre ciência, ética e negócios. Por isso, devem atuar com jurídico preventivo, gestão estratégica e crescimento sólido”.
Principais Acreditadoras no Brasil
ONA (Organização Nacional de Acreditação)
- Níveis: Acreditado, Acreditado Pleno, Acreditado com Excelência
- Foco: Segurança do paciente e gestão de qualidade
- Reconhecimento: Padrão nacional brasileiro
Joint Commission International (JCI)
- Origem: Estados Unidos, referência mundial
- Padrões: Rigorosos critérios internacionais
- Benefício: Reconhecimento global
NIAHO (National Integrated Accreditation for Healthcare Organizations)
- Características: Metodologia americana
- Diferencial: Foco em resultados clínicos
- Aplicação: Hospitais de alta complexidade
Exemplos brasileiros

Sete hospitais públicos do Brasil figuram no ranking World’s Best Hospitals 2026, elaborado pela revista americana Newsweek. Entre eles, quatro têm acreditação da Organização Nacional de Acreditação (ONA). São eles:
- Hospital das Clínicas da USP;
- Hospital Municipal Infantil Menino Jesus;
- Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia;
- Instituto do Coração (InCor).
Um exemplo no sul do país, em Curitiba é o Hospital Universitário Cajuru, com atendimento 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que objeteve nota máxima da ONA. “Isso mostra que qualidade não é só uma questão de dinheiro, mas de compromisso”, diz Gasparetto.
Na região centro-oeste, o Hospital Estadual de Trindade – Walda Ferreira dos Santos (Hetrin), unidade do governo de Goiás, conquistou recentemente o segundo nível do certificado de qualidade concedido pela ONA como Acreditado Pleno, atendendo aos padrões e requisitos de segurança do paciente, gestão integrada e excelência em gestão. A ONA 2, segundo nível do modelo de acreditação brasileira conquistada pelo Hetrin, tem foco nos processos hospitalares, avaliando sua gestão e suas interações, além da segurança do paciente.
O Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA), em Parnaíba, recebeu a certificação Nível 1 – Acreditado da Organização Nacional de Acreditação (ONA), tornando-se o primeiro hospital público do Piauí a alcançar esse reconhecimento. A certificação atesta que a unidade cumpre requisitos estruturais, de processos e de segurança do paciente estabelecidos por uma das principais entidades de avaliação da qualidade hospitalar no Brasil.
Você lembra?
Em maio deste ano, a Organização Nacional de Acreditação (ONA) lançou, seu livro comemorativo de 25 anos durante a Hospitalar 2025, o maior evento do setor de saúde da América Latina. A publicação resgata a trajetória da instituição desde 1999, com depoimentos, registros históricos e momentos-chave da evolução da acreditação e dos padrões de qualidade no sistema de saúde brasileiro.
O livro está disponível em versão física e digital no site oficial da ONA (www.ona.org.br), contendo depoimentos e registros históricos dos 25 anos de atuação da organização.