Cenas como unidades de saúde em áreas alagadas, hospitais sem energia após enchentes e ambulatórios lotados em dias de calor extremo já fazem parte da rotina em várias regiões do Brasil. A emergência climática deixou de ser um alerta futuro e passou a impactar diretamente a gestão da saúde pública. Apesar disso, o tema ainda é tratado como uma questão ambiental por boa parte das instituições de saúde — um distanciamento que preocupa especialistas e gestores.

De 11 a 14 de junho, a cidade de Vitória (ES) sedia a Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, uma etapa oficial preparatória para a COP 30. Pela primeira vez, a conferência reserva um dia inteiro à discussão sobre saúde: 13 de junho será dedicado a explorar as conexões entre clima, adoecimento e resposta institucional.

“A mudança já está em curso. Temos surtos de arboviroses em regiões antes livres de vetores, crises respiratórias agravadas por queimadas e ondas de calor exigindo respostas emergenciais que ainda não estão planejadas. Isso não é futuro — é o presente”, alerta Daniela Klein, líder de curadoria da trilha de saúde.

Saúde, clima e desigualdade

A programação será dividida em cinco painéis temáticos, reunindo profissionais de saúde, pesquisadores, gestores públicos e representantes de comunidades impactadas. A abertura discute racismo ambiental e saúde pública, destacando como a ausência de saneamento, as enchentes recorrentes e a precariedade dos serviços de saúde afetam de forma desproporcional as populações periféricas.

No painel “Mar em alerta”, os oceanos entram na pauta da saúde: a contaminação por microplásticos e metais pesados, a proliferação de patógenos e a insegurança alimentar de populações costeiras são apontadas como fatores diretos de adoecimento. “A saúde marinha e a humana estão interligadas. A pesca está contaminada, e isso já afeta cadeias alimentares inteiras”, afirma Klein.

Inovação, infraestrutura e prevenção

O painel “Tecnologia e inclusão” traz à tona os limites da inovação digital em áreas vulneráveis. A proposta é provocar o setor de saúde: telemedicina, aplicativos de alerta climático e sistemas de vigilância não funcionam onde faltam eletricidade, conectividade ou alfabetização digital.

Na mesa sobre estratégias de saúde pública, os debates se voltam para experiências concretas e recomendações sobre como preparar os serviços para eventos extremos. “A resiliência da infraestrutura, os protocolos de atendimento e a vigilância integrada são desafios reais. Mas ainda não existe um plano nacional que integre tudo isso de forma sistemática”, destaca Felipe Mello, do PMO Corporativo do Kora Saúde, um dos painelistas.

Encerrando a trilha, o painel de comunicação e prevenção discute o impacto da desinformação na resposta institucional e no cuidado em saúde. A mesa propõe caminhos para fortalecer a educação ambiental e sanitária com foco em ações preventivas.

A Conferência Sustentabilidade Brasil 2025 é organizada pelo Instituto Sustentabilidade Brasil e acontece entre os dias 11 e 14 de junho, na Praça do Papa, em Vitória (ES). O evento é gratuito, sem fins lucrativos, aberto ao público e com programação presencial. A trilha dedicada à saúde será realizada no dia 13 de junho. Saiba mais!