O Brasil tem 32,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos, representando 15,6% da população, e a tendência é de crescimento nas próximas décadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esse cenário exige um olhar ainda mais atento no cuidado intra-hospitalar do idoso, começando pela redução do tempo de leito, que não é o mesmo que precipitar alta, e pela proteção dele contra complicações evitáveis, como quedas, lesões por pressão, infecções, broncoaspiração e tromboembolismo.

O sucesso no tratamento desse paciente, quando internado, não se mede somente pela alta. A qualidade está no quanto de movimento, autonomia e vida ele leva de volta para casa.

Esse caminho, portanto, começa no que a prática clínica chama de projeto terapêutico, uma avaliação de quem ele era antes de internar. Perguntas como qual o grau de mobilidade, a presença de demência e o nível de autonomia em casa ajudam a organizar a jornada de cuidado do paciente.

Com esse rastreio inicial em mãos, o papel de cada área é melhor definido. A equipe médica avalia diagnóstico e risco. A enfermagem monitora sinais, previne quedas e orienta sobre segurança no leito, enquanto estomaterapeutas evitam lesões de pele.

A fisioterapia inicia movimento e caminhada assim que possível. A nutrição ajusta cardápio (textura, aceitação, risco de desnutrição) de acordo com a capacidade alimentar, em conjunto com a fonoaudiologia, que avalia deglutição para reduzir engasgos. Já a psicologia tem papel fundamental no acolhimento do paciente e seus familiares e ajuda na adesão ao plano de tratamento.

Na prática, isso se traduz em decisões diárias para encontrar o ponto de equilíbrio entre não precipitar a saída e não prolongar a permanência, especialmente de idosos 80+, que são mais suscetíveis à perda de função. O meio-termo seguro é retirar da cama quanto antes, com critério, e manter vigilância para evitar complicações. Em quadros como infecções e acidente vascular cerebral (AVC), a disponibilidade de leitos de reabilitação e a integração entre especialistas aceleram a recuperação do paciente.

Em outras palavras, um plano terapêutico bem definido e ancorado numa disciplina clínica reduz riscos. Para isso as unidades de saúde precisam estar bem articuladas e preparadas diante de números volumosos no cuidado desta população. Na Rede Total Care, por exemplo, entre agosto de 2024 e agosto de 2025 os hospitais registraram mais de 59 mil internações de idosos, com idade média de 74 anos. Em prontos-socorros, foram mais de 422 mil atendimentos. São números que traduzem o desafio e reforçam a importância da qualidade assistencial.

No hospital, o cuidado pede equipe alinhada, reabilitação desde o primeiro dia e informação clara. Em casa, é fundamental a continuidade no tratamento. E, no fim, o sucesso de todo o processo é percebido quando, no retorno ao cotidiano, autonomia e movimentos são preservados, consequências do uso do tempo de leito adequado e da alta funcional. Esse é o ponto central do cuidado dessa população.

Amanda De Paula é gerente médica clínica do Hospital Pan-Americano, da Rede Total Care