Andrew Hessel – um dos responsáveis pela cadeira de Bioinformática e Biotecnologia da Singularity University ? concedeu entrevista para a próxima edição da FH, que falará sobre o futuro da medicina.
Hessel pesquisa células que podem ser programadas facilmente por meio da biologia sintética – como se fossem computadores vivos, engenharia genética feita com a ajuda de computadores e síntese de DNA. Além disso, é cofundador, em parceria com Jayson Tymko e John Carlson, da Pink Army Cooperative, a primeira cooperativa de biotecnologia do mundo, que trabalha para desenvolver terapias open source para tratamento personalizado contra o câncer.
Saúde Web: Onde estamos, hoje, em termos de tecnologias genéticas como, por exemplo, a biologia sintética. O que tem sido feito?
Hessel: A biologia sintética é a engenharia genética com tecnologia digital, principalmente softwares de design e síntese de DNA e tecnologia de montagem automatizada, ou impressão de DNA. Nossas ferramentas de design genéticos estão melhorando muito rápido. A impressão de DNA ainda está em sua infância e é muito caro, atualmente cerca de US$ 0,20 por base. Este é um gargalo da biologia sintética, e nos restringe a construções menores ou genomas, tais como vírus. A maior construção genética realizados até à data é um pouco mais de 1 milhão de bases de DNA, mas isso foi há quase dois anos. O recorde deve se quebrado em breve, melhores impressões do DNA irão aparecer. Eu espero que os cientistas iniciem uma nova corrida para determinar quem poderá sintetizar um genoma humano por completo.
Saúde Web: E onde nós estaremos em 20 anos? Como esta tecnologia afetará a medicina no futuro?
Hessel: Dentro de 20 anos, a biologia sintética será muito parecida com os computadores de hoje. Teremos sequenciado o DNA de quase todas as criaturas do planeta. Haverá milhões de pessoas, que, hoje, são crianças, que irão programar coisas vivas como parte de seu trabalho diário. Seres vivos modificados serão importantes para, praticamente, qualquer indústria – saúde, alimentação, ambiente, energia, água, espaço, segurança. Além disso, muitas doenças ?órfãs? serão curados ou tratáveis. No geral, eu vejo a biologia como a futura indústria de TI.
Saúde Web: É possível reparar as células cancerosas em vez de matá-los?
Hessel: Teoricamente, sim, mas tecnologicamente é muito difícil, talvez impossível. As células cancerosas não têm apenas um ou dois problemas. Estudos de sequenciamento de DNA mostraram que acumulam dezenas de milhares de erros. Nós não temos atualmente uma forma de substituir ou reparar os genomas das células danificadas.
Saúde Web: Profissionais especializados podem ser um problema para os países emergentes?
Hessel: Sim, isso pode ser verdade. Mas os sistemas de educação estão mudando por causa da internet e, como programação de computador, a biologia sintética se aprende praticando e fazendo, e ela será bastante acessível. Os países emergentes podem ter uma vantagem em biologia sintética, porque a tecnologia pode ser visto mais como uma oportunidade para o crescimento econômico e não uma ameaça.
Saúde Web: Qual é o diferencial da Pink Army Cooperative (PAC) no desenvolvimento de medicamentos?
Andrew Hessel: A PAC está aí para mudar a forma como as drogas são desenvolvidas atualmente. De uma forma ou de outra isso tem que mudar, porque ano após ano o custo de fazer novos aumentos medicamentos só aumenta enquanto a produção cai. Isso não é sustentável. Biotecnologia avançada está realmente ficando mais fácil de fazer, então há algo que precisa ser quebrado no sistema atual.
Nós estamos fazendo uma abordagem diferente, fazendo exatamente o que as outras empresas não fazem ou não podem. Ao criar uma cooperativa, somos uma organização sem fins lucrativos, uma empresa-comunidade voltada para a biotecnologia ? o que significa uma mudança significativa para o modelo de negócio, permitindo transparência e crowdsourcing.
Ao concentrar-se sobre o câncer, não temos que reparar as células, apenas matá-las seletivamente – semelhante a fazer um antibiótico. Ao personalizar desenvolvimento para apenas uma pessoa, geralmente em fase terminal, os tradicionais ensaios clínicos não fazem sentido. Ao fazer um vírus com a biologia sintética, o custo da terapia por meio da engenharia genética é baixo.
Em última análise, o PAC está mudando a expectativa que as pessoas têm em relação ao desenvolvimento de drogas. As tecnologias que temos hoje suportam isso.
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