Há um novo termo que entrou no jargão médico. A palavra é bem-estar. Hospitais e consultórios médicos estão incorporando este termo em suas declarações de missão, nomes de empresas, cartões de negócios, conferências médicas e outros materiais de marketing. A Cleveland Clinic Foundation nomeou um Diretor de Bem-Estar, um título intrigante macio que não indica claramente o papel dessa pessoa e sua função. Isso é sem sentido, porque bem-estar é uma palavra que comunica uma “sensação boa”, não um serviço médico específico.

Apenas um ou dois cliques no Google vão levar você para o universo do bem-estar (“Wellness”). Aqui está uma amostragem.

Institute of Sleep and Wellness

Wellness Institute of America

Naturopathic Wellness

National Wellness Institute

Physicians Health and Wellness Center

Physicians Wellness Group

Há até mesmo um anúncio patrocinado no Google, onde se pode procurar médicos, presumivelmente treinados na especialidade médica de bem-estar. Eu estava desanimado que meu nome não apareceu em uma busca de bem-estar da região de Cleveland, Ohio. Isso significa que eu não ofereço saúde e bem-estar ao meus doentes?

De onde está vindo todo esse bem-estar?

Está vindo de departamentos de marketing que entendem o humor do público. Enquanto os médicos convencionais veem a medicina complementar com cautela, o público não resiste ao termo. Os pacientes querem um abrandamento da profissão médica e estão dispostos a aceitar novos gêneros de cuidados com base em promessas, testemunhos e fé. Admito que muito do que eu e meus colegas prescrevemos e recomendamos é baseada em evidência médica escassa. Eu não tenho tratamentos satisfatórios para síndrome do intestino irritável ou dor abdominal crônica. Eu entendo por que esses pacientes olham para além de mim e meus colegas para cura e alívio. Eles estão gastando bilhões de dólares em ervas, hidroterapia do cólon, Reiki, massoterapia, medicina holística, naturopatia, aromaterapia por biomagnetismo, medicamentos e homeopatia.

Hospitais e médicos podem não saber sempre como curar a doença, mas com certeza sabem contar. A grande maioria dos norte-americanos tem exercido a medicina alternativa por uma razão ou outra. Os estabelecimentos médicos ampliaram sua missão de cura para ter acesso a este mercado enorme e crescente. Hospitais convencionais, onde cateterismos cardíacos e colonoscopias são realizados, agora oferecem uma variedade de programas de bem-estar para estender sua marca para as comunidades no entorno.

Eu acho que nós estamos nos arriscando com uma overdose de bem-estar, e não há antídoto. Minha preocupação é que ela confunde o público entre as formas de melhorar seu estilo de vida e estado de espírito com cuidados médicos e tratamentos reais. Admito que muitos tratamentos médicos alternativos fazem pessoas se sentirem melhor, mas não tenho certeza de que curam a doença. Existe um perigo na medicina quando a fé ultrapassa a razão. Um exemplo extremo é quando pacientes de câncer gastam tempo e recursos preciosos com cartilagem de tubarão ou outras alternativas de alto custo que não têm nenhuma base científica. Estas oportunidades exploram as pessoas desesperadas que não têm outra saída. Eles não deveriam ter que gastar dinheiro para orar por um milagre. Eles podem fazer isso de graça, e deveriam.

Eu sei que há crença espiritual e apoio para a medicina não convencional para complementar falhas da medicina tradicional. Se eles querem transformar os céticos como eu em crentes, então eles terão de adotar uma abordagem mais convencional. Testem os seus tratamentos em ensaios clínicos de alta qualidade. Se estudos científicos determinarem que estes tratamentos, ou quaisquer terapias, não oferecem benefícios, então os abandonem ao invés de atacar os estudos como falhos e tendencioso.

Sou a favor de qualquer intervenção que faça as pessoas se sentirem bem, desde que sejam seguras e não explorem as pessoas. Só porque está escrito “remédio” no rótulo, não quer dizer que é.

Fonte: HealthWorks Collective (Michael Kirsch)