Após expansão, hospital atrasa pagamentos

Após três anos de obras para a expansão que demandou investimentos de R$ 92 milhões, o hospital Nossa Senhora de Lourdes, localizado no bairro paulistano do Jabaquara, está atravessando uma fase conturbada. Em dois anos, o hospital teve três presidentes e a taxa de ocupação atual é de apenas 65%. Além disso, atrasou o pagamento com alguns fornecedores e quitou o aluguel de novembro somente ontem, 22 dias após o vencimento, para o fundo imobiliário que é proprietário do prédio em que está instalado.

O atraso chama atenção porque a locação a um hospital é considerada um investimento seguro, uma vez que é raro mudar de endereço e os contratos são de longo prazo. No caso do Nossa Senhora de Lourdes, o aluguel tem duração de dez anos, com vencimento em 2016.

O hospital alega que “está com uma certa dificuldade financeira devido ao alto valor do aluguel” – que é de R$ 2 milhões – e que por isso também teve problemas para pagar em dia alguns fornecedores.

A instituição de saúde tentou renegociar o valor da locação e já fez neste ano duas propostas de redução, a primeira de 33% e a outra de 22%. Porém, ambas foram rejeitas pelos cotistas do fundo. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, essa renegociação faz parte de uma nova fase de profissionalização do hospital que busca corte de custos e otimização de processos para melhorar as margens de lucro. O atual presidente do Nossa Senhora de Lourdes, Marcelo Marques Moreira, foi executivo da Dasa durante nove anos, sendo que entre 2005 e 2008 presidiu o laboratório que abriu o capital em 2004.

Além de reduzir custos, a nova gestão tem como desafio aumentar a taxa de ocupação que atualmente é de 65%, enquanto o esperado era 80%. Os hospitais que trabalham com taxas abaixo de 75% têm chances de ter prejuízo, segundo especialistas de saúde. A previsão era que a receita de R$ 175 milhões do Nossa Senhora de Lourdes crescesse neste ano 42%, mas a projeção foi reduzida para cerca de 25%. “A produção ainda não cresceu na medida desejada em 2011, o que vai acontecer no próximo ano e nos seguintes para atingir a ocupação esperada. Por esse motivo, estamos pedindo a redução do valor do aluguel já que estamos pagando valor cheio desde o início, mesmo antes de ter o prédio construído”, diz Moreira, que ocupa o cargo de presidente do hospital há cerca de sete meses.

A baixa taxa de ocupação, segundo fontes do setor, tem forte relação com a saída do diretor médico, Luis Augusto Sinisgalli. “O afastamento de um gestor que liderava o corpo clínico há muito tempo pode provocar confusão no dia a dia e consequentemente perdas financeiras”, disse uma fonte da área hospitalar. O Nossa Senhora de Lourdes destaca que não houve impactos no corpo clínico e que a nova diretora atua na empresa há 30 anos e está sintonizada com as estratégias do hospital.

Antes de Moreira, a presidência foi ocupada por Nilton Lorandi, que ficou na casa por seis meses. Ambos, substituem Fábio Sinisgalli, filho do fundador e que durante anos foi preparado para assumir o hospital criado há 50 anos pelo médico Cícero Sinisgalli. Para surpresa do mercado, Fábio permaneceu só oito meses como presidente e hoje faz parte do conselho com sua família. “A profissionalização está caminhando de forma gradativa e não de forma absoluta como foi planejada. Aos poucos estamos conseguindo a profissionalização da forma desejada”, diz Moreira.

Fonte: Beth Koike e Silvia Rosa, Valor Econômico, 14/12/11