A dimensão G (Governança) do ESG evoluiu de um foco restrito ao cumprimento de normas para se tornar o pilar que sustenta e dá longevidade às agendas ambiental (E) e social (S).

No setor de saúde, instituições que incorporam práticas de governança ESG de forma estruturada — por meio de comitês nos conselhos de administração, cláusulas contratuais de sustentabilidade, metas vinculadas à remuneração executiva e auditoria independente — reforçam sua credibilidade diante de investidores, parceiros e órgãos reguladores, ao mesmo tempo em que mitigam riscos jurídicos e operacionais.

Em linha com a crescente integração das práticas ESG à estratégia corporativa, a Rede Mater Dei de Saúde vem fortalecendo sua estrutura de governança e transparência para garantir que a sustentabilidade seja um eixo permanente da gestão.

Em 2025, a instituição criou o Comitê Nacional de Sustentabilidade, com o objetivo de potencializar e acelerar os impactos da Mater Dei na sociedade. O grupo é formado pelas principais lideranças corporativas e tem como missão discutir resultados, propor avanços e monitorar o desempenho ESG da organização. As ações e deliberações do Comitê são reportadas regularmente à vice-presidência, que apresenta os resultados nas reuniões do Conselho de Administração, assegurando o alinhamento entre a alta liderança e a estratégia institucional.

“A mensuração e auditoria das métricas ESG seguem padrões reconhecidos internacionalmente, e no âmbito das relações comerciais, todos os contratos formais da Mater Dei incluem cláusulas robustas de sustentabilidade e compliance, que tratam de integridade, responsabilidade ambiental e boas práticas empresariais”, explica Renata Salvador Grande, vice-presidente Comercial e Marketing.

O descumprimento dessas cláusulas pode acarretar rescisão contratual. No entanto, a instituição reconhece que parte das compras e contratações ainda ocorre por meio de ordens de compra ou acordos simplificados, e trabalha para ampliar a inclusão dessas cláusulas em toda a cadeia de suprimentos.

“A comunicação dos avanços também segue um padrão estruturado. Publicamos Relatórios de Sustentabilidade anuais, elaborados com base nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), e disponíveis publicamente em nosso site de Relações com Investidores, além de serem divulgados nas redes sociais e canais de relacionamento com stakeholders.”

Entre as metas de médio e longo prazo, Renata destaca a adoção e o aprimoramento de frameworks internacionais, como o GRI, e, a partir do próximo relatório, do Sustainability Accounting Standards Board (SASB); e a convergência com normas globais de sustentabilidade, com estudos em andamento para o cumprimento das novas regras contábeis IFRS S1 e IFRS S2, emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB).

Governança na prática laboratorial

Na área laboratorial, o Grupo Fleury tem buscado fortalecer sua governança ESG por meio da estruturação de processos e metas e pela criação de comitês formais que asseguram a integração da sustentabilidade à estratégia corporativa.

Desde 2021, a empresa conta com o Comitê de ESG e Novos Modelos, formado por cinco membros — quatro deles externos ao Grupo. O colegiado tem o papel de orientar e aprimorar a jornada ESG da companhia, impulsionar o tema na cultura organizacional e identificar novas oportunidades de geração de valor sustentável.

A cadeia de fornecedores e parceiros também está alinhada às diretrizes ESG. “Todos os contratos incluem anexos específicos — o Termo de Sustentabilidade e Cidadania e o Termo Anticorrupção — com cláusulas relacionadas a meio ambiente, direitos humanos, governança e integridade, bem como à privacidade e proteção de dados, quando aplicável”, explica Daniel Marques Périgo, gerente sênior de Sustentabilidade.

O executivo conta que, antes da homologação, os fornecedores passam por diligência de compliance, e aqueles com maior relevância no volume de compras são convidados a participar do Programa de Excelência no Relacionamento com a Cadeia de Fornecimento (PERC), que possui critérios de desempenho ESG. As melhores práticas são reconhecidas anualmente, e todos os parceiros devem seguir as diretrizes do Código de Confiança para Terceiros.

A transparência é outro pilar essencial da governança. O Grupo Fleury publica, anualmente, seu Relatório de Sustentabilidade, verificado de forma independente e elaborado de acordo com as diretrizes GRI, SASB, Relato Integrado e Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD). “O documento está disponível ao público na homepage institucional e no site de Relações com Investidores”, destaca Périgo.

Com metas de médio e longo prazos, o Plano Estratégico ESG do Grupo Fleury estabelece objetivos até 2030 relacionados à redução de resíduos, diversidade em liderança e ampliação do acesso à saúde.

No campo da governança e transparência, o Grupo se prepara para adotar as normas IFRS S1 e S2, que em breve serão obrigatórias pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para companhias abertas.

Outro exemplo de práticas ESG na governança vem do Grupo Sabin, que desde 2022 possui um Grupo de Trabalho ESG (GT ESG), fórum multidisciplinar que reúne gestores de áreas-chave, como Comunicação Corporativa, Estratégia, Pessoas, Qualidade e Sustentabilidade Ambiental — além do Instituto Sabin. O grupo acompanha metas e indicadores definidos para toda a organização, assegurando que a agenda ESG esteja presente desde o planejamento até a execução.

“Há 18 anos a empresa publica seu Relatório de Sustentabilidade e, desde 2022, segue o padrão da GRI. O documento apresenta resultados, estratégias e impactos de programas e práticas vinculados à matriz de materialidade, com verificação externa e independente das informações financeiras”, explica Andréa Pinheiro, diretora de Relações Institucionais.

O Sabin incorpora critérios ESG também na qualificação de fornecedores. Os contratos incluem cláusulas explícitas de compliance, exigindo conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Lei Anticorrupção e compromissos socioambientais, além de avaliações sobre práticas éticas, trabalhistas e ambientais.

Andréa conta que a transparência com stakeholders é contínua. “Além da publicação anual do Relatório de Sustentabilidade, o Grupo realiza o Encontro Nacional com Stakeholders, evento híbrido voltado à prestação de contas e apresentação de resultados, avanços e metas.”

Para o futuro, a executiva diz que a companhia planeja incluir a asseguração externa do Relatório de Sustentabilidade nos próximos ciclos, consolidando assim a confiabilidade de seus dados. As metas de curto e médio prazo contemplam o avanço da migração da matriz energética, a expansão da reciclagem de resíduos, o investimento em empreendedorismo de impacto social, a formação de líderes comunitários de saúde e o aumento da representatividade de profissionais negros em cargos de liderança.

ESG atrelado à remuneração já é uma realidade

A remuneração variável de executivos é cada vez mais atrelada ao cumprimento de metas ESG, incentivando a liderança a priorizar essas pautas.

Relatório divulgado pela KPMG em 2024 apontou que 78% das 375 empresas estudadas, em 15 países, usam medidas de sustentabilidade no cálculo da remuneração dos executivos seniores.

Mas a divulgação dos resultados e a associação direta entre desempenho ESG e remuneração ainda é um desafio. Embora as metas de sustentabilidade e diversidade ainda não estejam formalmente atreladas à remuneração variável dos executivos na Mater Dei, esses temas já integram os processos de gestão, compliance e acompanhamento de desempenho.

Já o Grupo Fleury tem entre seus diferenciais da governança a inclusão de metas ESG na remuneração variável (PLR) de todos os colaboradores, incluindo os executivos.

“Há alguns anos, o programa de PLR corporativo contempla três indicadores ESG — um ambiental, um social e um de governança — que representam 10% do total do bônus anual. Essas metas são derivadas do Plano Estratégico de ESG e validadas anualmente, reforçando o compromisso com resultados mensuráveis”, conta Périgo.

Além dos indicadores corporativos, áreas específicas possuem metas táticas próprias, relacionadas à redução de resíduos biológicos, ampliação do acesso à saúde, cumprimento de treinamentos de integridade e compliance, e diversidade em cargos de liderança.

No Sabin, sustentabilidade e diversidade não são tratadas como metas isoladas ou bonificações acessórias. Elas estão integradas ao planejamento estratégico e fazem parte do desempenho global que orienta a remuneração variável dos executivos.

“O mapa estratégico da companhia incorpora Objectives and Key Results (OKRs) ambientais, sociais e de governança, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) prioritários do ciclo vigente. Essa abordagem reforça que o avanço da agenda ESG e o crescimento do negócio são indissociáveis”, comenta Andréa.

Segundo Nelmara Arbex, sócia-líder de ESG da KPMG no Brasil, independentemente do setor, há vários exemplos de empresas que colocam indicadores relacionados às metas sociais e ambientais, inclusive, éticas e de transparência, dentro das metas que devem ser atingidas para que o executivo ou líder tenha acesso à remuneração variável.

“Quando os indicadores passam a compor metas vinculadas à remuneração variável, a qualidade e a precisão de sua mensuração aumentam significativamente. Isso ocorre porque os sistemas de gestão associados a esses indicadores tendem a ser mais robustos e confiáveis, uma vez que todos os envolvidos têm interesse em saber, com clareza, quando as metas são atingidas — e quando não são.”

No entanto, Nelmara alerta que, antes da definição de que indicadores ou quais metas entrarão no cálculo da remuneração variável, a liderança deve discutir quais indicadores entrarão na remuneração variável e, depois, comunicar claramente essa informação aos times.”

Segundo a executiva, há evidências crescentes de que vincular metas ESG à remuneração variável de executivos e colaboradores contribui para aprimorar não apenas o desempenho financeiro das empresas, mas também sua reputação e credibilidade institucional.

“Nas escolas de gestão, é consenso que toda meta atrelada à remuneração estimula melhorias de performance. Quando a organização define indicadores ESG como parte de seu sistema de incentivos, ela eleva o nível das discussões internas, promove reflexão estratégica sobre o que realmente importa para o negócio e aprimora a qualidade da gestão como um todo.”

Além disso, na sua visão, investidores e avaliadores de risco têm reconhecido que a boa administração de temas sociais, ambientais, éticos e de transparência é um sinal da solidez da governança corporativa — e, portanto, um fator determinante na avaliação da sustentabilidade financeira de longo prazo.

“No entanto, não existe um modelo único para estruturar a inclusão de metas ESG na remuneração variável. As empresas costumam chegar a essa decisão por diferentes caminhos, mas o princípio é o mesmo: as metas devem refletir aspectos essenciais para o sucesso, a resiliência e o resultado financeiro da organização, seja em horizontes de curto, médio ou longo prazo. A governança deve atuar como condutora desse processo, garantindo que a escolha dos indicadores seja feita com critérios técnicos e estratégicos, da mesma forma que ocorre com as metas financeiras”, destaca Nelmara.

Os riscos para quem não acompanha essa transformação podem ser significativos. Instituições de saúde que mantêm estruturas de governança frágeis enfrentam dificuldade de acesso a capital ESG, maior exposição a litígios e penalidades regulatórias, além de perda de credibilidade junto a parceiros e pacientes. A ausência de processos claros de auditoria e prestação de contas pode minar a confiança do mercado e afastar investidores comprometidos com critérios de sustentabilidade.