Escolher entre os diferentes modelos de sociedade médica é uma decisão estratégica para qualquer profissional da saúde que deseja atuar de forma organizada, legalizada e com planejamento. 

O tipo de sociedade impacta não só na tributação, mas também nas permissões legais, divisão de responsabilidades e até no crescimento do consultório ou clínica.

Mas afinal, o que são sociedades médicas? São formas jurídicas de organização entre médicos (ou outros profissionais da saúde), que permitem prestar serviços em conjunto, seja em um pequeno consultório familiar ou em uma clínica de grande porte.

Neste conteúdo, você vai conhecer os principais modelos de sociedade médica, entender suas diferenças e encontrar orientações para definir o melhor formato para seu perfil de atuação.

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Principais modelos de sociedade médica

Cada modelo tem suas próprias características, benefícios e limitações. A seguir, exploramos os formatos mais comuns entre médicos no Brasil, com base na legislação vigente e nas práticas mais adotadas no mercado.

Sociedade Simples

A sociedade simples é formada exclusivamente por médicos ou outros profissionais da saúde que atuam de maneira técnica, sem características empresariais. 

Prevista no Código Civil, é indicada para clínicas com estrutura enxuta, nas quais não há intenção de expansão, entrada de investidores ou abertura de filiais.

Esse modelo admite apenas sócios que atuem diretamente na prestação do serviço médico e não permite a participação de administradores ou gestores que não sejam da área da saúde.

Há também a versão com responsabilidade limitada, conhecida como sociedade simples limitada, em que o contrato social inclui cláusula de proteção patrimonial para os sócios.

Vantagens:
  • Estrutura mais simples e burocracia reduzida na abertura.
  • Foco na atividade médica, com operação mais direta entre os sócios.
  • Permite atuação no Simples Nacional (caso atenda aos critérios do regime).
  • Possibilidade de proteção patrimonial, quando se opta pela versão limitada.
Limitações:
  • Não permite a entrada de sócios investidores ou administradores não médicos.
  • Impede estratégias de expansão típicas de empresas, como marketing ou filiais.
  • Responsabilidade pode ser ilimitada, caso não haja cláusula específica no contrato.
  • Registro é feito em cartório, e não na Junta Comercial, o que limita algumas ações administrativas.

Sociedade Limitada (LTDA)

A sociedade empresária limitada é um modelo jurídico com natureza empresarial, ideal para médicos que desejam estruturar uma clínica com visão de crescimento, possibilidade de expansão e atuação com fins lucrativos. 

Diferente da sociedade simples, esse formato permite maior flexibilidade na gestão e admite sócios que não sejam médicos, incluindo investidores e administradores externos.

Seu registro é feito na Junta Comercial e o contrato social deve ser mais detalhado, com regras bem definidas sobre responsabilidades, distribuição de lucros, entrada e saída de sócios, entre outros pontos estratégicos.

Vantagens:
  • Possibilidade de incluir sócios investidores e profissionais de outras áreas na gestão.
  • Permite marketing, abertura de filiais, expansão da estrutura e contratação de equipe multidisciplinar.
  • Proteção patrimonial dos sócios, com responsabilidade limitada ao capital social.
  • Maior liberdade contratual e organizacional.
  • Adequada para clínicas com foco em crescimento e escalabilidade.
Limitações:
  • Exige contrato social mais complexo, com cláusulas específicas de governança.
  • Processo de abertura e manutenção mais burocrático em comparação à sociedade simples.
  • Maior exposição a obrigações típicas de empresas, como escrituração contábil rigorosa.


Sociedade Uniprofissional

A sociedade uniprofissional é uma forma de organização jurídica e tributária que reúne médicos da mesma especialidade em um único CNPJ, com foco na atuação técnica e na redução da carga tributária. 

Embora adote o formato de sociedade simples (pura ou limitada), seu diferencial está no regime especial de tributação, com ISS fixo por profissional, desde que as regras do município permitam esse enquadramento.

Para manter os benefícios fiscais, todos os sócios devem ser médicos habilitados no CRM e atuar diretamente na prestação dos serviços. O modelo não admite a participação de profissionais de outras áreas nem de administradores externos.

Esse formato permite a divisão de despesas operacionais, como aluguel, equipamentos e equipe administrativa, mantendo a autonomia técnica de cada profissional.

Vantagens:
  • Redução significativa na carga tributária, com economia que pode chegar a 40% em relação ao trabalho autônomo.
  • Recolhimento de ISS com valor fixo por médico, conforme legislação municipal.
  • Compartilhamento de custos operacionais, o que torna a estrutura mais sustentável.
  • Maior autonomia profissional e segurança jurídica em comparação à atuação como pessoa física.
  • Pode ser combinada com cláusula de responsabilidade limitada no contrato social.
Limitações:
  • Todos os sócios devem exercer a mesma profissão e atuar diretamente na clínica.
  • Não permite participação de investidores ou gestores não médicos.
  • O regime tributário especial depende da legislação local e pode não estar disponível em todos os municípios.


Cooperativa médica

A cooperativa médica é uma forma de associação entre médicos que se organizam coletivamente para oferecer serviços de saúde, distribuir recursos e defender interesses comuns.

Ao contrário dos demais modelos, a cooperativa não visa lucro individual, mas sim o benefício mútuo dos cooperados.

Nesse formato, os profissionais atuam de forma autônoma, mas compartilham uma estrutura administrativa, comercial e jurídica. A gestão é democrática, com decisões tomadas em assembleia e distribuição proporcional dos resultados.

As cooperativas médicas podem oferecer uma ampla gama de serviços aos seus membros, incluindo acesso a crédito, assessoria jurídica e contábil, planos de saúde próprios e programas de educação continuada. 

No Brasil, esse modelo tem forte presença no setor, com exemplos consolidados em diversas regiões.

Vantagens:
  • Estrutura voltada ao desenvolvimento coletivo, sem fins lucrativos.
  • Redução de custos operacionais e maior poder de negociação com operadoras e fornecedores.
  • Gestão democrática, com participação ativa dos médicos nas decisões.
  • Possibilidade de acesso a serviços e benefícios exclusivos para cooperados.
  • Incentivo à valorização profissional e à atuação em rede.
Limitações:
  • Exige comprometimento com as regras e objetivos coletivos da cooperativa.
  • A governança pode ser mais lenta, por depender de assembleias e decisões colegiadas.
  • Os resultados são repartidos entre os cooperados, o que pode limitar ganhos individuais.
  • Sujeita à legislação específica das cooperativas e à fiscalização de órgãos reguladores.

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Critérios para escolher o modelo ideal

A escolha entre os diferentes modelos de sociedade médica deve considerar muito mais do que apenas a burocracia de abertura. 

Aspectos como perfil dos sócios, objetivos do negócio, estratégia de crescimento e regime tributário influenciam diretamente na sustentabilidade da operação e na segurança jurídica da clínica ou consultório.

A seguir, veja os principais critérios para tomar uma decisão bem fundamentada.

Número de sócios e perfil profissional

O primeiro fator a considerar é a quantidade de profissionais envolvidos e o tipo de atuação pretendida. Modelos como a sociedade limitada unipessoal (SLU) atendem bem ao médico que atua sozinho e busca proteção jurídica. 

Já as sociedades simples e uniprofissionais são indicadas para grupos pequenos, com foco técnico e divisão de estrutura.

Se há intenção de expandir, incluir profissionais de outras áreas ou abrir a sociedade para investidores, o modelo mais indicado costuma ser a sociedade empresária limitada (LTDA), que permite maior flexibilidade organizacional.

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Aspectos fiscais e tributários

Cada modelo societário possibilita enquadramentos diferentes no Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real — com impacto direto na carga tributária da clínica. 

A sociedade uniprofissional, por exemplo, pode recolher ISS fixo por profissional, gerando economia significativa em municípios onde esse regime é aceito.

A análise tributária deve ser feita com apoio de uma contabilidade especializada em saúde, considerando tanto o faturamento estimado quanto os custos operacionais e o tipo de serviço prestado.

Responsabilidade e sucessão 

A proteção do patrimônio pessoal dos sócios é outro ponto decisivo. 

Na sociedade simples pura, por exemplo, a responsabilidade pode ser ilimitada — o que expõe os bens dos sócios em caso de dívidas. Já nas sociedades limitadas, essa responsabilidade é restrita ao capital social.

Também é importante pensar na sucessão societária. Em clínicas familiares ou com mais de um sócio, definir como se dará a entrada e saída de novos profissionais ou herdeiros é uma medida preventiva que evita conflitos no futuro.

Governança e contratos

Independentemente do modelo escolhido, é indispensável ter um contrato social bem estruturado.

É ele que define o funcionamento da sociedade, as responsabilidades de cada sócio e o regramento para situações adversas.

Algumas cláusulas-chave que merecem atenção:

  • Admissão de novos sócios: critérios, limites e exigências.
  • Retirada ou exclusão: como se dará a saída voluntária ou forçada de um dos membros.
  • Cláusulas pétreas: disposições que só podem ser alteradas com unanimidade, como divisão de lucros ou responsabilidades técnicas.

Um contrato bem redigido protege todos os envolvidos, facilita a gestão da clínica e previne litígios que possam comprometer a continuidade da sociedade.

Definir o modelo societário ideal é uma etapa estratégica para médicos que desejam estruturar suas atividades com segurança jurídica, equilíbrio tributário e alinhamento ao perfil de atuação. 

Desde clínicas familiares até operações com foco em crescimento, há modelos de sociedade médica que atendem diferentes necessidades — como a simplicidade das sociedades puras, a proteção das limitadas, a autonomia das uniprofissionais ou a força coletiva das cooperativas.

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Contar com orientação contábil e jurídica especializada é essencial para formalizar a escolha com base em critérios técnicos e garantir que o contrato social reflita os interesses e responsabilidades de todos os envolvidos. 

Essa decisão, quando bem planejada, fortalece a sustentabilidade da clínica e oferece mais tranquilidade para focar no que realmente importa: o cuidado com a saúde.

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