Em 2025, o Comitê de Saúde da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig) sinalizou como prioridade estratégica o fortalecimento do Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS), promovendo o tema no âmbito das relações institucionais e governamentais.

Nesse mesmo sentido, o Departamento do Complexo Produtivo e Econômico da Saúde da Fiesp tem atuado com o objetivo de contribuir para a efetivação dessas políticas, pormeio de ações de advocacy, articulação setorial e formulação de propostas técnicas.

As diretrizes anunciadas pelo Ministério da Saúde reforçam o compromisso com a segurança sanitária, a produção nacional de tecnologias e a promoção da autonomia do setor. No entanto, persiste um desalinhamento entre o planejamento institucional e sua execução concreta. O risco é de que o esforço estratégico se perca na fragmentação decisória, na ausência de mecanismos operacionais eficazes e na resistência à transformação estrutural.

Valorizar o planejamento é fundamental, mas ele só se justifica plenamente quandotraduzido em políticas públicas de Estado — e não apenas de governo. A viabilização desse plano exige compromisso compartilhado entre os três Poderes da República e engajamento da sociedade civil, da indústria e dos profissionais de saúde. O Brasil precisa construir uma força virtuosa que transforme desejo em ação, e visão emresultado.

Principais metas e iniciativas do Ministério da Saúde
IniciativaObjetivo
Redução e dependência dosfornecedores internacionaisAtender 70% das demandas do SUS comprodução nacional
Inovação em terapias e tecnologiasFoco em doenças negligenciadas, terapiasgenéticas, IA e IoT
PDPs (Parcerias para oDesenvolvimento Produtivo)Produção local com base em parceriaspúblico-privadas
PDIL (Programa de Desenvolvimento eInovação Local)Incentivo à inovação e produção nacional earticulação com CT&I

O Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL), em especial, visa promoverparcerias estratégicas com base em plataformas produtivas nacionais, abarcando desdemedicamentos e vacinas até tecnologias digitais e dispositivos médicos.

Entraves estruturais e propostas por segmento
  1. Indústria de dispositivos médicos e medicamentos
    DesafioProposta
    Geração de mercadoPrevisibilidade de compras governamentais
    Segurança jurídicaCumprimento dos contratos, garantia de pagamentos eprevisibilidade de prazos e volumes
    InovaçãoDesafios de inovação através de encomendas tecnológicasgarantindo aquisição mínima
    Isonomia triutáriaAlinhamento tributário com produtos importados
    FinanciamentoJuros adequados, acesso facilitado a crédito

    2. Saúde suplementar

    DesafioProposta
    Reajustes sustentáveis Critérios técnicos e transparência nos cálculos
    Adequação do rolAvaliação baseada em evidências e impacto financeiro
    Reduzir judicializaçãoRevisão de direitos e obrigações

    3. Setor hospitalar e atenção em saúde

    DesafioProposta
    Tabela SUS defasada – produtos processos e profissionaisReajuste periódico com base narealidade econômica
    Glosas, atrasos de autorização e pagamentosna saúde suplementarSegurança jurídica e regulação mais eficaz

    4. Agências reguladoras e diagnóstico

    DesafioProposta
    Anvisa subdimensionadaAmpliação do quadro técnico e descentralização
    Apoio e aceitação internacionalPolíticas de incentivo à aceitação da certificação da Anvisa nos países que aceitam CE e FDA
    Integração dos procedimentosnas três esferas da agênciaIntegrar procedimentos e processos entre as Anvisa federal, estadual e regional e evitar duplicidades

    5. Hospitais que atendem o SUS

    DesafioProposta
    SubfinanciamentoFinanciamento continuado e apoio via fundos públicos eremuneração adequada

    6. Gestão e tecnologia

    DesafioProposta
    Estoques adequados e evitar desperdício nascompras centralizadasLogística integrada e controledigital
    Tecnologia e interoperabilidadeImplantação de prontuários eletrônicos e IA
    Papel do Legislativo e do sistema de governança

    Projetos como o PL 1505/2022 e o PL 2583/2020 sinalizam um Congresso atento ànecessidade de industrialização da saúde. No entanto, é urgente a criação de um marcoregulatório que dê continuidade à estratégia independentemente de ciclos eleitorais.

    PL 1505/2022: o objetivo é estimular o desenvolvimento industrial e inovação no setorde saúde, garantindo acesso universal a soluções tecnológicas.
    PL 2583/2020: buscando fortalecer a indústria nacional com regime tributário especial epreferência em compras públicas.

    A governança do CEIS deve envolver mecanismos de planejamento plurianual,indicadores de desempenho, previsão orçamentária e instâncias interministeriais compoder decisório. O envolvimento ativo dos três Poderes é condição para que o CEIS setorne uma política de Estado.

    O fortalecimento do CEIS representa uma oportunidade decisiva para o Brasil, promovendo estabilidade institucional, colaboração social e inovação. Para enfrentar os desafios globais e garantir saúde, soberania sanitária e bem-estar, é essencial um pacto institucional que una governo, parlamento, Judiciário, setor produtivo e sociedade civil. A Abrig e os profissionais de RIG têm um papel fundamental,não apenas apoiando a independência industrial, mas também sustentando um novo modelo de desenvolvimento que busque a sustentabilidade e a inclusão.

    *Tacyra Valois
    Executiva em saúde, diretora nomeada do Departamento do Complexo Produtivo e Econômico da Saúde e Biotecnologia da Fiesp. Atua com foco em planejamentoestratégico, inovação em saúde e relações institucionais e vice-presidente na Abrig
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    *Luiz Monteiro Filliettaz
    Gerente-executivo do Departamento do Complexo Produtivo e Econômico da Saúde e Biotecnologia da Fiesp.