No final do ano passado, o Brasil contava com 564.363 médicos diplomados, resultando em quase 2,7 profissionais a cada mil habitantes, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). Esse número posiciona o país à frente de nações como Estados Unidos, Japão e China em termos de médicos por habitante. Embora a princípio essa estatística pareça positiva, na prática, ela levanta preocupações e desafios, especialmente em relação à qualidade do ensino e, por consequência, da assistência à população. 

Hoje é o Dia do Médico e, por isso, um momento ideal para refletirmos sobre a formação e os desafios enfrentados por essa categoria. Nos últimos anos, observamos um aumento no número de escolas médicas no Brasil, sem critérios técnicos rigorosos. Essa expansão gera um cenário preocupante, pois, além do crescimento descontrolado de profissionais, afeta diretamente a formação dos futuros médicos, que muitas vezes não recebem a preparação adequada para a prática diária. 

Quando discutimos a formação médica, entramos em um tema ainda mais complexo. É urgente promover mudanças significativas na metodologia de ensino da medicina. Atualmente, enfrentamos um sistema educacional ultrapassado, onde o aluno é visto como um agente passivo, consumindo conhecimento por meio de aulas expositivas e observando procedimentos clínicos sem participação ativa. 

Essa abordagem, que desconsidera o aspecto experimental da profissão, é inadequada para a prática médica. Mais do que um conhecimento teórico vasto, os futuros médicos precisam desenvolver habilidades práticas e competências emocionais. Assim, é fundamental que os alunos sejam colocados no centro de sua formação. 

Um aspecto crucial é fornecer aos futuros médicos as “competências” essenciais. Embora a base teórica seja importante, não pode sobrepor-se a outros fatores, como tomada de decisão clínica, empatia e comunicação eficaz. Sem essas habilidades, o conhecimento teórico se torna insuficiente para um atendimento humanizado e de qualidade. 

Além disso, os médicos devem buscar constantemente novos conhecimentos. A formação médica não deve se restringir ao que é aprendido na graduação, pois a medicina é uma área em constante evolução, especialmente com os avanços tecnológicos que alteram dinâmicas e formas de atuação. 

Portanto, a capacitação contínua, por meio de cursos e especializações, é mais do que um aprimoramento profissional; representa uma responsabilidade ética e um requisito fundamental para a excelência no cuidado. É importante lembrar que o uso massivo da tecnologia não deve levar os profissionais a perderem de vista o lado humano de sua profissão. Afinal, a tecnologia nunca substituirá a empatia e o acolhimento, elementos essenciais para o sucesso no tratamento de qualquer paciente. 

Diante desse contexto, o modelo educacional precisa se adaptar à realidade contemporânea. A formação médica deve priorizar a experiência prática, aproximando os alunos do exercício da profissão. Somente assim, os futuros doutores poderão desenvolver as habilidades clínicas e emocionais necessárias para o dia a dia. Sem essa transformação, a quantidade de médicos formados no Brasil pode não se traduzir em melhorias efetivas para o nosso sistema de saúde. Não podemos esperar mais tempo por essa mudança de paradigma.  

*Diego Gadelha é médico oftalmologista e diretor do HELP. Também é diretor da Faculdade de Medicina da UNIFACISA.