O Plano Brasil Maior, divulgado em agosto pelo governo federal, pretende incentivar a indústria de tecnologia nacional. O objetivo é preparar o País para um mercado futuro onde produtos e serviços em TI terão cada vez mais destaque. Após algumas semanas de reflexão, representantes do setor de TI avaliam as medidas como boas e só esperam que elas vinguem sem intervenções de interesses paralelos. Além do benefício para indústria, a saída encontrada pelo governo para melhorar a situação do setor pode impactar diretamente o dia a dia dos compradores de TI. Muitos prestadores de serviço acreditam que, no médio prazo, possa haver barateamento de contrato, já que a medida pode ampliar o índice de formalização colocando os concorrentes em pé de igualdade.
?É algo que vínhamos batalhando há alguns anos, não se pode negar que é bom?, diz o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Antonio Gil. Nos últimos três governos, ele tem visitado gabinetes de Brasília junto com outras entidades, empresários e especialistas para convencer os donos do poder que a TI deve fazer parte da política industrial nacional. Na última eleição, por exemplo, assistiu-se a uma cena inédita no mercado, quando diversas entidades sentaram e, juntas, documentaram as demandas do setor.
Para ele, o plano ataca, pela primeira vez de forma conjunta, as quatro maiores reivindicações do setor: desoneração da folha de pagamento, formação de mão-de-obra, investimento em infraestrutura de TI e telecom e incentivos à inovação. Todos esses pontos integram as primeiras agendas elaboradas para mudar o cenário do Brasil de importador para grande exportador.
Gil tem na ponta da língua uma série de números sobre demografia, economia e produção que apontam a janela de oportunidades que pode ser criada. Ele cita algumas tendências extraídas dos dados que possui. A expectativa de crescimento do PIB, mesmo com percalços, nos próximos cinco anos deve dar fôlego à economia. A população economicamente ativa irá aumentar e deixará o Brasil em boa posição de competitividade. Temos ainda conceitos como cloud computing e o avanço da mobilidade, que tornam a TI importante no mundo todo.
Mas isso só se transformará em negócios para o Brasil se o modelo a que as empresas estão presas mudar. E é nesse embate que o plano do governo é elogiado pelos representantes do setor. Elogiado, mas com ressalvas. ?Não é algo que resolve toda a questão estratégica para a indústria brasileira de TI, mas é um grande passo?, enfatiza o presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), Luís Mário Luchetta.
O receio é que as medidas atuam mais fortemente com representação e licenciamento de sistemas. Essas empresas utilizam pouca mão-de-obra e o que seria uma desoneração para muitas pode se tornar um aumento de custo para elas. A entidade negocia para aparar essas arestas.
A preocupação é compartilhada pelo presidente da Brasoftware, Jorge Sukarie. ?Para empresas que não veem a folha de pagamento como a principal fonte de gastos, o plano acaba sendo prejudicial.? Ele exemplifica dizendo que se uma empresa fatura R$ 200 mil e tem uma folha de pagamento de R$ 10 mil acaba pagando R$ 4 mil a mais de imposto com a substituição dos 20% do INSS para os 2,5% do faturamento.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Gérson Schmit, alerta que o plano não trouxe desoneração como anunciado. ?Houve, na verdade, uma troca base de tributação, e não uma desoneração. Quem desonera, tira custos e gastos?, explica. O executivo afirma que as associações irão buscar maior entendimento com o governo para acertar os detalhes do Brasil Maior.
As medidas terão mais impactos no setor de serviços de TI, avaliam os representantes e empresários do setor. A redução de custos deve chegar a preços mais em conta para os clientes finais, empresas usuárias de serviços de TI, em médio prazo. E quando isso acontecer, CIOs deverão saber negociar para tirar benefício dessa provável ?redução de custo?.
A indústria de equipamentos ainda estuda as medidas. ?Ainda é muito cedo para avaliar o impacto que o plano Brasil Maior trará?, diz a diretora de relações governamentais da Dell, Maria Claudia Souza.
Segundo a Brasscom, setores como o de equipamentos, start ups e outros que compõem a TI nacional serão beneficiados de forma indireta com o fortalecimento do mercado e expansão do consumo e da cultura de TI e por um longo prazo.