Diante da crise do sistema de saúde, agravada pelo envelhecimento populacional e pelo aumento de custos, a saúde baseada em valor desponta como uma proposta capaz de realinhar prioridades: menos desperdício, mais resultados.
Muito além de uma mudança na forma de remuneração, o modelo propõe uma revisão profunda nas relações entre prestadores, gestores, equipes assistenciais e pacientes. O objetivo é promover desfechos clínicos significativos com eficiência, qualidade e sustentabilidade.
A seguir, entenda o que é a saúde baseada em valor, como preparar os profissionais para essa transição e quais os impactos reais esperados no sistema de saúde.
Recomendado: Sistema de saúde brasileiro ainda está longe da plena digitalização, aponta estudo da TGT ISG
O que é saúde baseada em valor?
A saúde baseada em valor, ou Value-Based Healthcare (VBHC), é um modelo de atenção que coloca o paciente no centro do cuidado e mede o sucesso da assistência pelos resultados clínicos alcançados em relação aos custos envolvidos.
Diferentemente do modelo tradicional, que remunera os serviços com base no volume de procedimentos realizados, o VBHC propõe um sistema em que todos os envolvidos — gestores, profissionais e instituições — são incentivados a entregar mais saúde, e não apenas mais atendimento.
Recomendado: NPS na saúde: como aplicar a avaliação do atendimento ao paciente?
Conceito central do modelo de Value-Based Healthcare (VBHC)
O VBHC foi idealizado pelos professores Michael Porter e Elizabeth Teisberg, da Universidade Harvard, como uma estratégia para reorganizar os sistemas de saúde em torno do que realmente importa: os desfechos significativos para o paciente.
O valor, nesse contexto, é definido como o resultado obtido (como controle de sintomas, qualidade de vida e recuperação funcional) dividido pelos custos para alcançá-lo.
Ou seja, quanto maior o resultado com o menor custo possível, maior o valor entregue.
Diferença entre saúde baseada em valor e o modelo tradicional centrado em volume
No modelo tradicional, conhecido como Fee for Service, quanto mais exames, consultas ou internações são realizados, maior é a remuneração. Isso pode levar à fragmentação do cuidado e ao uso desnecessário de recursos.
Já a saúde baseada em valor propõe um sistema mais coordenado, que prioriza a efetividade das intervenções e promove a integração entre os diferentes níveis de atenção, reduzindo desperdícios e evitando duplicidade de serviços.
Recomendado: Corretores são peças-chave no combate a fraudes e desperdícios no setor de saúde
Como esse conceito melhora a qualidade dos cuidados e a eficiência no sistema de saúde
Ao medir e acompanhar indicadores de desfechos clínicos e satisfação do paciente, o VBHC promove uma gestão mais orientada à qualidade.
A partir da comparação entre práticas e resultados, é possível identificar oportunidades de melhoria, fomentar a inovação e otimizar a alocação de recursos.
Com isso, o modelo contribui para um sistema de saúde mais sustentável, no qual qualidade, eficiência e equidade caminham juntas.
Como preparar e capacitar os profissionais de saúde para esse novo cenário?
A adoção da saúde baseada em valor (Value-Based Healthcare – VBHC) exige mais do que mudanças em processos ou modelos de remuneração.
Para que o conceito se torne realidade no cotidiano das clínicas, hospitais e consultórios, é fundamental investir na capacitação dos profissionais de saúde.
Afinal, são eles que aplicam na prática os princípios de um sistema centrado no paciente, nos resultados e na eficiência.
Nesse contexto, os profissionais precisam desenvolver um conjunto de competências que vão além do conhecimento técnico e clínico tradicional.
A seguir, veja os principais fatores necessários para atuar com sucesso nesse modelo:
1 – Comunicação centrada no paciente
Nesse novo modelo, a escuta ativa e a empatia deixam de ser diferenciais para se tornarem competências essenciais.
A comunicação centrada no paciente envolve compreender as necessidades, valores e preferências individuais, promovendo decisões compartilhadas e fortalecendo a adesão ao tratamento.
2 – Capacidade de trabalho multidisciplinar
A fragmentação do cuidado é um dos principais desafios da saúde tradicional. Por isso, o trabalho multidisciplinar ganha protagonismo na saúde baseada em valor.
Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e outros profissionais devem atuar de forma integrada, compartilhando informações e decisões para alcançar os melhores desfechos possíveis.
3 – Gestão orientada a dados
Outro pilar dessa transformação é a gestão orientada a dados.
A análise contínua de informações clínicas e operacionais permite monitorar a efetividade dos cuidados, identificar gargalos e implementar melhorias com base em evidências.
Essa cultura de dados precisa ser incorporada por todos os níveis da organização.
Recomendado: Como a Rede Total Care utiliza dados e inovação para gerar resultados na saúde suplementar
4 – Utilizar a tecnologia para a coleta, análise e monitoramento de dados (softwares médicos)
Nesse contexto, a tecnologia se torna uma aliada estratégica. Softwares médicos facilitam a coleta estruturada de informações, o acompanhamento de indicadores e a automação de processos.
Além disso, sistemas integrados ajudam a promover uma visão mais completa da jornada do paciente, apoiando decisões mais seguras e precisas.
Relacionado: Como a automação de processos pode reduzir custos no ecossistema de saúde
5 – Avaliação e uso de indicadores de qualidade e desempenho
Para entregar valor real, é indispensável definir, acompanhar e aprimorar indicadores de qualidade e desempenho.
Eles são fundamentais para mensurar resultados clínicos, a eficiência operacional e a satisfação do paciente, permitindo ajustes contínuos na prática assistencial.
6 – Oferecer treinamento às equipes
Por fim, nenhuma transformação se sustenta sem capacitação contínua.
Treinamentos específicos sobre saúde baseada em valor, uso de tecnologias, análise de dados e práticas colaborativas são fundamentais para preparar as equipes e garantir que os objetivos do modelo sejam alcançados na ponta.
A transição para um sistema de saúde orientado por valor exige tempo, investimento e mudança de cultura.
Mas com equipes preparadas, engajadas e alinhadas ao propósito de entregar mais saúde com menos desperdício, esse novo cenário se torna possível — e necessário.
Impactos esperados: eficiência no sistema de saúde e melhor qualidade assistencial
A implementação da saúde baseada em valor representa uma mudança estrutural no modo como os serviços de saúde são organizados, entregues e avaliados.
Mais do que uma tendência, trata-se de uma resposta concreta aos desafios enfrentados por gestores, profissionais e pacientes diante de um sistema sobrecarregado, caro e muitas vezes ineficiente.
Redução de desperdícios e foco em tratamentos eficazes
Ao substituir o modelo tradicional de pagamento por volume pelo foco em resultados clínicos relevantes, a saúde baseada em valor promove a racionalização do uso de recursos.
Exames e procedimentos desnecessários tendem a ser eliminados, e o cuidado passa a ser guiado pela efetividade das intervenções. Isso reduz desperdícios financeiros e clínicos, além de melhorar a precisão dos tratamentos oferecidos.
Melhora da experiência e dos resultados em saúde do paciente
Colocar o paciente no centro das decisões significa olhar para além da cura: é necessário considerar qualidade de vida, satisfação e bem-estar ao longo de toda a jornada de cuidado.
Nesse modelo, a experiência do paciente ganha relevância, e os desfechos são medidos de forma ampla — incluindo indicadores de funcionalidade, tempo de recuperação e percepção de qualidade assistencial. O resultado é uma assistência mais personalizada, resolutiva e humana.
Sustentabilidade do sistema de saúde a longo prazo
Com a redução de desperdícios, o uso inteligente da tecnologia e o alinhamento de incentivos entre profissionais, operadoras e pacientes, a saúde baseada em valor se mostra uma estratégia viável para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde.
Ao promover qualidade com eficiência, o modelo ajuda a conter os custos crescentes sem comprometer a entrega de cuidados seguros e efetivos — uma equação essencial para enfrentar os desafios de envelhecimento populacional, aumento de doenças crônicas e escassez de recursos.
Recomendado: Como o cuidado humanizado pode ajudar a prevenir e tratar doenças cardíacas
Em resumo, os impactos esperados da saúde baseada em valor não se limitam à gestão, mas reverberam em toda a cadeia de cuidado.
Trata-se de uma transformação cultural e operacional que busca o que mais importa: entregar saúde real com qualidade para quem mais precisa, sem desperdício.
Descubra como transformar a gestão da sua instituição com a saúde baseada em valor. Acesse o Saúde Business para mais conteúdos sobre inovação no setor da saúde.