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Como a eficiência energética impacta instituições de saúde sustentáveis

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A crescente demanda por hospitais, seja por crise sanitárias, seja pelo aumento na expectativa de vida da população, faz da sustentabilidade uma questão de urgência

Falar em eficiência energética, redução de custos e sustentabilidade em hospitais é mais complexo do que parece. Diferentemente de um edifício comum, as instituições hospitalares apresentam aspectos que interferem diretamente na comunidade e todos os detalhes de sua infraestrutura devem ser monitorados de perto para garantir a continuidade dos serviços. Para entender melhor sobre como é possível otimizar a utilização de recursos, conversamos com o Arquiteto de Solução da Schneider Electric, Marcos Felicio. Ele falou, ainda, sobre o impacto das organizações sustentáveis para o nosso futuro. Veja a seguir.
 

Saúde Business: Qual a importância da eficiência energética em instituições hospitalares?

Marcos Felício: Os hospitais são diferentes dos outros edifícios. Quando falamos de um edifício comercial e em eficiência energética, automaticamente pensamos em redução dos gastos de energia. É possível definir horários de funcionamento de determinadas áreas, por exemplo, mas num hospital não há muito recurso para isso. Não dá para atender menos pessoas, nem reduzir o sistema de ar condicionado de uma sala cirúrgica. Isso não é conforto, é necessidade. Mas não quer dizer que um hospital não tenha sérios problemas com gasto de energia elétrica, até porque, a demanda só cresce. Como a gente equilibra isso? A saída é o uso de tecnologia, de inovação, de criatividade e de conhecimento real do uso da energia dentro dos hospitais. Quando a gente fala em instituições de saúde bem preparadas em termos de eficiência energética, isso também inclui outros gastos, como gás, água, diesel para as usinas geradoras, que precisam funcionar em caso de apagão. Tudo isso é energia. Então, eficiência energética em hospitais é um conceito bem complicado e ao mesmo tempo, de alta relevância.

 

SB: Mas podemos dizer que uma das grandes vantagens da eficiência energética é a redução de custos. Você poderia nos dar um exemplo concreto de quanto estes custos podem ser reduzidos?

Marcos: Não há muito espaço para reduzir o gasto de energia porque tudo no hospital tem de estar funcionando o tempo todo. Mas é possível administrar melhor o uso dos recursos e até mudar a forma como se adquire a energia elétrica. Alguns hospitais que consomem grande quantidade de energia ainda estão no mercado cativo. Ou seja, só podem comprar de um único fornecedor. Mas como a eletricidade é uma commodity, existe outra forma de adquiri-la. O hospital pode decidir comprar energia no mercado livre e de quem tiver um preço mais baixo. Neste caso, existe toda uma consultoria para aconselhar e auxiliar a escolher o melhor modelo, a melhor maneira de comprar de quem a vende mais barato. Em alguns casos, a economia é enorme. Tem um hospital aqui no Brasil, com consultoria da Schneider, que conseguiu economizar 5 milhões de reais por ano com um projeto de compra de energia com custos mais baratos. Com esta economia, pode-se reinvestir trazendo ainda mais reduções, comprando equipamentos que são mais eficientes, colocando medições nos locais adequados, automatizando os principais vilões do consumo... Você sabia que 50% do consumo de energia elétrica em hospitais são gastos com ar condicionado? É muito. Com um sistema de gerenciamento predial, o famoso BMS, o ar condicionado pode trabalhar de maneira mais precisa reduzindo consideravelmente os desperdícios. No passado, a iluminação era um ofensor implacável, com o advento das lâmpadas de LED o gasto reduziu consideravelmente. Com automação da iluminação, há espaço para reduzir mais ainda. Hoje, podemos ter hospitais mais iluminados, gastando menos com isso.

 

SB: E a questão da sustentabilidade?

Marcos: Como falamos, existe todo um serviço por trás que vai trabalhar para a redução do gasto com a energia elétrica. E com isso, não estamos falando de sustentabilidade, só de eficiência energética. Sustentabilidade é algo bem maior, não é abraçar árvores. Tem a ver com o negócio se manter funcionando por si só e por mais tempo. Cada vez mais há a preocupação com a mensagem que o hospital passa ao mercado e a sustentabilidade também entra nessa questão. É preciso se perguntar: O que faço com o lixo? Tenho um hospital que está no meio de São Paulo, quanto a minha operação impacta no entorno? Quanto emito de CO2 em quais atividades? Só no transporte de colaboradores, por exemplo? O quanto eu estou trabalhando para incluir pessoas carentes do bairro? A minha cadeia de fornecedores segue os mesmos princípios que nós? Quantas mulheres temos nos cargos de liderança? Tudo isso tem a ver com sustentabilidade. Há formas de se monitorar e, baseado na coleta de informações automatizada, gerar automaticamente relatórios de sustentabilidade que nos apoiarão para a tomada de decisões e estratégias na redução dos impactos.

 

SB: Na sua opinião, o que impede, hoje, de termos hospitais no Brasil que levem a questão da sustentabilidade a sério? O que está faltando?

Marcos: Eu diria que precisamos falar mais seriamente sobre o assunto. Buscar mais conhecimento. Para começar, é bem comum se ter a dificuldade em explicar o que é sustentabilidade, como mencionei, é normal pensar apenas em eficiência energética. Por outro angulo, vejo muitos hospitais trabalhando em silos isolados, fazendo investimentos separados e sem conexão uns com outros. A manutenção planeja uma alteração em um setor por um lado, enquanto a engenharia define uma nova área de outro e ambas as áreas não sabem que há um terceiro projeto de sustentabilidade que poderia se juntar e trabalhar em prol de uma integração. Ter uma coordenação com viés sustentável de todos os projetos pode trazer grandes oportunidades de redução de consumo, de emissões e até de melhoria operacional. No Brasil, já temos empresas que são especialistas em apoiar esse tipo de ação conjunta oferecendo serviços de consultoria, com tecnologias especializadas, trazendo formas novas de se fazer as coisas, apresentando bons exemplos... Não é nem questão de dinheiro, sabe? É um erro pensar que investir em sustentabilidade é pagar mais. Se você investir para entender onde a energia está indo sem necessidade, você tem a oportunidade de economizar corrigindo o “vazamento”. Acredito que o que falta é apenas um empurrãozinho para que os administradores vejam a oportunidade à frente. É possível coordenar as ações de operação, manutenção e engenharia, trabalhando em projetos unidos por um hospital mais sustentável.

 

SB: Como uma instalação sustentável, que permita integração de dados para gestão de operações, continuidade dos serviços e eficiência energética, pode impactar o futuro das instituições de saúde? E do setor como um todo?

Marcos: As pessoas estão envelhecendo. É maravilhoso, mas o problema é que vamos precisar de mais hospitais e, consequentemente, de energia elétrica. Para isso, precisamos de recursos. Mas só temos um planeta, os recursos que temos são os que estão aqui. Então, se vamos precisar de mais hospitais, serviços médicos de melhor qualidade, mais exames, mais insumos, mais medicamentos, mais profissionais, e se não nos estruturarmos para que o gasto seja adequado, não é sustentável. Não vamos chegar lá na frente, em 2050, com um serviço de saúde que dê conta, ele vai colapsar. A Covid-19 foi um incremento considerável no uso de instalações hospitalares. A gente descobriu que a quantidade de hospitais no Brasil é até adequada, comparada com muitos países. Mas mesmo os privados chegaram ao seu limite. Imagina em um curto intervalo de tempo, em que a população está aumentando e estamos envelhecendo cada vez mais. Se não fizermos mais, com menos, não vamos ter infraestrutura para todo mundo. Instalações sustentáveis não são mais só um “nice to have”, são obrigatórias. Ou temos instalações mais sustentáveis ou não temos condições de entregar saúde para todo mundo.