O avanço da medicina está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento tecnológico, e o Prêmio Veja Saúde Oncoclínicas de Inovação Médica destaca essa contínua busca por soluções que transformam vidas. Em sua edição mais recente, a premiação reconheceu estudos que estão redefinindo o diagnóstico e o tratamento de doenças, com foco em novas tecnologias, ferramentas digitais e abordagens personalizadas, elementos fundamentais para o futuro da saúde.
Como parte de um movimento mais amplo de visibilidade, a premiação integrou o 12º Congresso Internacional Oncoclínicas Dana-Farber Cancer Institute, realizado de 26 a 28 de setembro de 2024, em Brasília. O congresso reuniu profissionais brasileiros e internacionais para discutir os avanços recentes na oncologia e outras áreas médicas, reforçando a importância da colaboração científica global em um momento de grandes desafios de saúde pública.
“O conhecimento e a inovação são pilares essenciais para impulsionar novos avanços. Reconhecer iniciativas inovadoras não só destaca o trabalho dos pioneiros, como também incentiva o desenvolvimento de soluções que contribuem para a sustentabilidade do ecossistema de saúde”, afirma Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas. Ele também destacou que a visibilidade gerada pelo prêmio pode inspirar colaborações e parcerias entre organizações, promovendo um ambiente colaborativo e ampliando o acesso a cuidados de saúde.
Os projetos premiados foram avaliados por um comitê de especialistas com base em critérios rigorosos, como aplicabilidade, impacto, grau de inovação e uso da tecnologia. Mariana Laloni, diretora médica da Oncoclínicas&Co, destacou o papel do prêmio na aceleração da adoção de tecnologias inovadoras e na melhoria do cuidado oncológico.
Confira as categorias premiadas:
Tecnologias Diagnósticas: o estudo sobre “Novos biomarcadores da hanseníase no sangue”, desenvolvido por Filipe Rocha Lima e Marco Andrey Cipriani Frade, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo, constitui um marco para a saúde pública ao avançar na identificação precoce de indivíduos infectados, permitindo o diagnóstico antes mesmo da manifestação de sintomas, como manchas na pele e perda de sensibilidade. A detecção dessa doença é essencial, uma vez que o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de casos.
Engajamento e Empoderamento do Paciente: outro destaque foi o aplicativo IUProst, voltado para a reabilitação de pacientes que sofrem de incontinência urinária após cirurgias de próstata. A tecnologia, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Goiás (UFG), oferece uma solução inovadora e gamificada para um problema que afeta cerca de 60% dos homens que passam pelo procedimento. A ferramenta já acumula milhares de downloads e exercícios praticados, sendo um exemplo de como a tecnologia pode promover a autonomia e a qualidade de vida dos pacientes. A equipe composta por Adriana Ferreira Machado, Anna Júlia Guimarães Batista, Cissa Azevedo, Fabrícia Eduarda Baia Estevam, Filipe Maciel de Souza dos Anjos, Hugo Miranda de Oliveira, Larissa Assis Caputo Figueiredo, Lívia Cristina de Resende Izidoro, Luciana Regina Ferreira da Mata, Matheus Brito Martin e Sérgio Teixeira de Carvalho foi premiada pela categoria Engajamento e Empoderamento do Paciente.
IA na Transformação Digital em Saúde: na área de oncologia, uma inovação importante foi liderada pelo A.C. Camargo Cancer Center. Os pesquisadores Israel Tojal da Silva, Renan Valieris, Luan Martins, Alexandre Defelicibus, Adriana P. Bueno, Cynthia APT Osório, Dirce M Carraro, Emmanuel Dias-Neto, Rafael Rosales e José Márcio B de Figueiredo desenvolveram uma plataforma de inteligência artificial capaz de aprimorar a detecção da proteína HER2, crucial no diagnóstico de um tipo de câncer de mama. O uso de algoritmos para análise de imagens de biópsias digitais promete tornar o diagnóstico mais acessível e preciso, especialmente em regiões com escassez de especialistas.
Medicina de Precisão e Genômica: em uma colaboração entre a Unicamp e a Harvard Medical School, o estudo premiado na categoria Medicina de Precisão e Genômica desvendou como o coronavírus usa a molécula ORF6 para evitar a resposta imunológica, bloqueando a atuação das proteínas que alertam o sistema de defesa. Essa descoberta, realizada pela equipe de especialistas, Marcella Regina Cardoso, Jordan A. Hartmann,Maria Cecilia Ramiro Talarico, Devin J. Kenney, Madison R. Leone, Dagny C. Reese, Jacquelyn Turcinovic, Aoife K. O’Connell, Hans P. Gertje, Caitlin Marino, Pedro E. Ojeda, Erich V. De Paula, Fernanda A. Orsi, Licio Augusto Velloso, Thomas R. Cafiero, John H. Connor, Alexander Ploss, Angelique Hoelzemer, Mary Carrington, Amy K. Barczak, Nicholas A. Crossland, Florian Douam, Julie Boucau e Wilfredo F. Garcia-Beltran, abre caminhos para tratamentos mais direcionados, especialmente para pessoas com vulnerabilidades genéticas.
Prevenção e Promoção à Saúde: o Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da USP liderou um estudo pioneiro no acompanhamento de 749 pacientes recuperados da COVID-19, levando a premiação na categoria Prevenção e Promoção à Saúde. A pesquisa desenvolveu um modelo de aprendizado de máquina que antecipa o risco de sequelas pulmonares, possibilitando a intervenção preventiva. Esse modelo já está sendo aplicado no SUS, ajudando a otimizar os cuidados pós-COVID. Entre os pesquisadores envolvidos, destacamos Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, Celina de Almeida Lamas, Luis Augusto Visani de Luna, Rodrigo Caruso Chate, João Marcos Salge, Marcio Valente Yamada Sawamura, Carlos Toufen, Michelle Louvaes Garcia, Paula Gobi Scudeller, Cesar Higa Nomura, Marco Antonio Gutierrez, Bruno Guedes Baldi, Larissa Santos Oliveira Gois e Laura Sampaio de Moura Azevedo.
Terapias e Tratamentos Inovadores: Cientistas da USP São Carlos, Natália Noronha Ferreira Naddeo e Valtencir Zucolotto, desenvolveram uma abordagem inovadora de nanotecnologia para tratar glioblastoma, um tipo de câncer cerebral. A nova técnica, que utiliza nanopartículas para administração nasal do quimioterápico, pode revolucionar o tratamento oncológico, oferecendo uma alternativa menos invasiva e com menos efeitos colaterais. O estudo foi contemplado na categoria Terapias e Tratamentos Inovadores.
Medicina Social: o Instituto Jô Clemente acompanhado de seus pesquisadores Edward Yang, Kelly Cristina de Carvalho Freitas e Samanta Mazaroto Volpe ampliaram o programa de diagnóstico precoce de autismo para regiões carentes do Brasil. A iniciativa ganhou o prêmio na categoria Medicina Social e tem como propósito capacitar mais de 14 mil profissionais de educação para identificar sinais de autismo e deficiência intelectual em crianças de até três anos, facilitando o encaminhamento para tratamentos adequados.
Telemedicina e Plataformas Digitais: por fim, especialistas do Instituto do Câncer Infantil de Porto Alegre, Algemir Lunardi Brunetto, Virgínia Tafas da Nóbrega, Amanda da Fontoura San Martin e Valéria Gerbatin Braz Foletto, desenvolveram a TeleOncoped, uma plataforma digital que integra especialistas em oncologia pediátrica com profissionais de saúde de Unidades Básicas. A ferramenta, que ganhou o prêmio na categoria Telemedicina e Plataformas Digitais, agiliza diagnósticos e tratamentos, melhorando o atendimento de crianças com suspeita de câncer e otimizando os recursos disponíveis no sistema público de saúde.
Para Diogo Sponchiato, redator-chefe da Veja Saúde e editor de saúde da Veja, a abrangência do prêmio vai além da esfera de inovação tecnológica, avançando também para o âmbito de inovação social. “Nós estamos falando de um prêmio que reconhece desenvolvimentos em pesquisas de ponta, mas também soluções para atender problemas de saúde pública e às vezes até negligenciados. Esse olhar para a saúde, que vai do social ao tecnológico, faz com que a nossa premiação seja única aqui no Brasil”, finaliza.
12º Congresso Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute
Com o tema central "Oncologia do Futuro: Inovação e Eficiência como Motores da Sustentabilidade", o congresso abordou discussões cruciais em um momento em que o sistema de saúde global enfrenta o desafio de equilibrar o crescimento acelerado dos casos de câncer e os altos custos de tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), espera-se um aumento de 77% nos novos diagnósticos até 2050, o que intensifica a urgência por soluções inovadoras e sustentáveis.
Os painéis científicos, que aconteceram de 26 a 28 de setembro, no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília (DF), e com transmissão online ao vivo, exploraram temas como tratamentos personalizados, novas tecnologias, assistência inclusiva e abordagens multidisciplinares de cuidado. O congresso, que também marcou o lançamento do Prêmio Veja Saúde & Oncoclínicas de Inovação Médica, reúne mais de 7 mil médicos e especialistas de diversas áreas oncológicas, com debates conduzidos por pesquisadores da Oncoclínicas e do Dana-Farber Cancer Institute sobre os mais recentes avanços no combate ao câncer.
"A programação incluiu mais de 300 palestrantes distribuídos em 23 módulos, oferecendo discussões fundamentais para ampliar o conhecimento e fomentar novas perspectivas sobre práticas clínicas e a acessibilidade socioeconômica aos tratamentos oncológicos em diferentes especialidades", destaca Max Senna Mano, coordenador do 12º Congresso Internacional Oncoclínicas Dana-Farber Cancer Institute.