A economia em saúde é um campo de interface entre as ciências econômicas e a saúde e conta com profissionais de ambas as áreas para promover uma melhor qualidade da oferta de saúde. Vamos comentar o que é economia em saúde e suas aplicações no setor. A definição do objeto de estudo dessa disciplina se deu na década de 70, mas, antes disso, a pesquisa e aplicação de instrumentos econômicos a questões do setor de saúde já existiam e deram origem à área.
O campo é, portanto, responsável por uma rigorosa examinação de problemas para a promoção da saúde para todos os indivíduos – aqui, não se referindo à origem do financiamento, se deve ser público, privado ou de qualquer outra natureza. Ao aplicar as teorias econômicos para os consumidores, a economia em saúde tende a entender o comportamento de indivíduos, provedores de saúde, organizações públicas e provadas e governos no processo de decisão.
Várias sub-áreas podem ser analisadas e os economistas em saúde aplicam as teorias de produção, eficiência, competição, regulação e outras para informar aos interessados qual o melhor curso de uma ação. Isso pode incluir avaliação de novas tecnologias, como medicamentos e medical devices, estudo de precificação para desenvolvimento ou adoção de alguma nova droga, por exemplo, investimento público ou privado e comportamento estratégico. Além disso, pode ser usada para avaliar certos problemas sociais, como uma falência ou realocação de recursos influencia uma comunidade.
Alguns tópicos específicos estudados mostram como as condições de vida da população podem ter consequências sobre a saúde, indicando, por exemplo, a relação entre renda e mortalidade infantil. Além disso, a área discute controvérsias do setor de um ponto de vista econômico. Um dos exemplos dados no artigo de Carlos R. Del Nero * mostra que o estatuto da Aliança para o Progresso afirmou que a saúde é um requisito essencial e prévio ao desenvolvimento econômico. Há, certamente, muitas discussões em relação a este assunto.
A função distributiva dos sistemas de saúde, parte do estudo que tem em vista a possível equidade. Esta equidade é referente ao acesso aos serviços, mas é composta por uma equidade geográfica, etária, sócio-cultural ou por classe social. Esta discussão faz colocar o bem social à frente do tratamento de um único indivíduo, o que também pode ser polêmico, já que, para os profissionais de saúde e de economia nem sempre concordam na dicotomia indivíduo x população. Devo oferecer um tratamento que custa milhões de reais para um indivíduos a fim de prolongar sua vida por mais um ou dois anos? Ou devo alocar estes recursos para que milhares de pessoas melhorem sua qualidade de vida? Ou ainda devo investir em promoção da saúde? Estas dúvidas fazem parte da rotina de profissionais e de pesquisadores da área.
Este assunto está ligado diretamente ao direito à saúde. É um dever do estado? Qual o papel do indivíduo na sua saúde? Estas são questões que movem esta área da economia em saúde, com uma falta de consenso já no conceito de alcance de saúde sem a participação efetiva do indivíduo, de seus hábitos e modo de vida, como se fosse possível conseguir alcançar a saúde sem depender das ações individuais. A população está acostumada a não se responsabilizar pelo seu ambiente, seus hábitos e sua rotina, responsabilizando o sistema em uma eventual necessidade de uso. Estudos mostram que o sedentarismo, atualmente, é mais grave que a obesidade, causando mais mortes. Certamente, nosso estilo de vida contribui para estes dados e pode causar um rombo no nosso sistema de saúde daqui a alguns anos, com doenças relacionadas à falta de exercícios físicos.
Outra discussão cabível é a de prover serviços de saúde. Quem deve ser o responsável? No Brasil, temos um sistema universal de saúde, em teoria, que garante oferta de saúde para todos os cidadãos brasileiros, mas, ao mesmo tempo, somente 47% do financiamento de saúde no país é realizado pelo setor público. Diversos países não suportam o financiamento de um sistema público e, em muitos casos, este sistema apresenta baixa produtividade e baixo desempenho.
Precisamos de profissionais com vivência nas duas áreas para que o sistema de saúde tenha uma contribuição mais eficiente e eficaz. No dia a dia do profissional de saúde, estes pontos devem ser considerados para que seja criada uma ambientação macro do setor em que ele está inserido.