MACEIÓ (AL) – O coração do Sistema Único de Saúde (SUS) nunca bombeou sangue suficiente para garantir a saúde financeira dos hospitais de cidades do interior. Há décadas, durante várias gestões municipais, estaduais e federais, os problemas de estrutura física, falta de médicos e de equipamentos proliferam como uma peste. A corrupção e o desvio de recursos atacam direto na jugular, fazendo sangrar um paciente que também sofre com o desperdício de recursos provocado pela incompetência e pela burocracia.

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Diante de tantos problemas longe da capital, as ambulâncias aparecem como o principal investimento das prefeituras e do governo do Estado. Nestes últimos dias, o governador Teotonio Vilela Filho percorreu cidades do Sertão e do Litoral para anunciar a entrega de veículos em seis municípios, repetindo a mesma medida já adotada infinitas vezes por gestores anteriores.

Um elefante branco dá uma patada na cara do sertanejo que precisa de atendimento hospitalar. Parece surreal, mas é a pura verdade. Quatro anos e cinco meses após a inauguração em novembro de 2004, o Hospital Geral Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, em Santana do Ipanema, jamais abriu as portas. Com 160 leitos e 9 mil metros quadrados de área construída, a unidade que pode beneficiar 150 mil pessoas de 24 municípios do Sertão sequer realizou um curativo de topada no dedão do pé.

A obra imponente custou cerca de R$ 10 milhões aos cofres federais, mas até hoje não se definiu como seria a gestão e quem pagaria a conta para manter o hospital funcionando, uma despesa estimada entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão por mês. Mesmo diante de tantos gastos e incertezas, há quatro meses, o prédio-fantasma ainda recebeu uma grande quantidade de móveis e equipamentos, que estão encaixotados, sem qualquer uso.

Além das sirenes, o berro de cabritos é um som quase sempre ouvido na entrada do Hospital Dr. José Wanderley Neto, no município ribeirinho de São Brás. A bucólica paisagem delineada pelo Rio São Francisco recebe o auxílio de um peralta filhote caprino, que pula em cima da ambulância para comer flores caídas de uma árvore. Cena peculiar para pacientes que aguardam alta, num cair de tarde, neste hospital de um médico só.

Haja o que houver, só haverá um médico para atender uma média de 25 a 30 pacientes por dia. Um deles é o neonatologista Adriano Pacheco, que dá o plantão de 24 horas como clínico geral. Muitas vezes, a vida do paciente é passada para as mãos do motorista da ambulância. Qualquer caso um pouco mais complicado é logo encaminhado para outra unidade; quase sempre o Hospital João Alves, em Aracaju, é a melhor opção.