Um centro de estudos de Moçambique está perto de registrar a primeira vacina contra a malária, a doença que mais mata no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,3 bilhões de pessoas – metade da população do planeta – estão expostas ao também chamado paludismo. São infectados anualmente 150 milhões – o equivalente às populações somadas do Brasil, de Portugal e da Espanha. O número de mortes por ano chega a 1 milhão.
Mais uma rodada de testes de campo foi feita nessa quinta-feira (13) em Manhiça, vila que fica a 100 quilômetros de Maputo, capital moçambicana. Lá é que está instalado o Centro de Investigação de Saúde de Manhiça (Cism) – instituição criada em 1996 como resultado da cooperação bilateral entre os governos local e da Espanha. O Cism é o primeiro centro de investigação biomédica moçambicano para combater doenças que são causa e consequência da pobreza, como a malária, a aids, a tuberculose, as pneumonias e as doenças diarreicas. O centro tem laboratórios em que são desenvolvidas pesquisas que auxiliam no tratamento da população da região.
Uma dessas pesquisas é a da vacina RTS-S, que está na terceira fase de testes, de quatro necessárias à qualificação para uso. Nessa fase, grupos de voluntários recebem doses da vacina para avaliação e acompanhamento. Antes disso, foram feitos  testes pré-clinicos em laboratório, para avaliar a segurança do fármaco. Na segunda fase, a vacina passou por testes de eficácia e resposta imunogênica. Depois de terminada a fase atual, o produto ainda terá que ser aprovado e registrado pelos diversos órgãos internacionais para ser comercializado.
O pesquisador-chefe Jahit Sacarlal lembra que a terceira fase de testes da vacina começou em agosto do ano passado e ainda está reunindo crianças para participar dos estudos. “Serão pelos menos mais três anos. Mas esta á a primeira, a mais avançada que existe no mundo e penso que nos próximos cinco a dez anos será a única disponível no mercado internacional”, diz o médico.
       
A pesquisa para criar a vacina antimalária envolve outros 11 centros de estudos da África, em Burkina Faso, no Quênia, em Malawi, Gana, no Gabão e na Tanzânia. O mais próximo de chegar ao resultado prático, no entanto, é o de Moçambique, segundo o diretor do Cism Eusébio Macete. “Esperamos que até meados do próximo ano haja dados suficientes para submetermos a vacina à análise inicial das agências internacionais de medicamentos”, afirma.
Apesar de sua escala planetária, até hoje a forma mais eficaz de combater a malária é evitar o mosquito do gênero Anofilis, que transmite o parasita Plasmodium, que causa a doença. Evitar o acúmulo de água, pulverizar áreas externas e residências e usar  mosqueteiros impregnados com inseticida são algumas das formas mais comuns.
“A malária tem cura quando tratada adequada e rapidamente”, diz Caterine Guinovart, médica epidemiologista do Cism. “O problema é que muitos, quando chegam ao hospital, já é tarde”. Alguns pacientes só procuram o médico em estado debilitado, porque menosprezam os primeiros sintomas Outros têm dificuldades de chegar aos centros de saúde, principalmente nas áreas mais isoladas do interior da África.
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