Inclusão social e inclusão digital são sonhos de consumo dos governos. Na verdade, os dois temas podem ser vinculados. A eficácia da gestão da saúde pública está, sem sombra de dúvidas, relacionada à inclusão social. Hospitais públicos e redes de saúde bem administradas são mais justos, distribuindo igualmente as benesses de um tratamento moderno e eficaz, ao mesmo tempo em que se poupa orçamento. Como relacionar esse fato com inclusão digital?
Gerir eficazmente uma rede de saúde pública é hoje um desafio digno dos “Doze Trabalhos de Hércules”. O dinheiro é curto, a população a ser atendida é imensa, infelizmente o desperdício é muito grande e não há como negar as restrições impostas pela falta de profissionais. Uma forma moderna de lidar com tudo isso é por meio da implantação de sistemas de gestão de comunidades digitais de saúde. Gerir uma comunidade digital de saúde pública significa controlar, de forma integrada, a utilização de medicamentos, de exames laboratoriais, de exames de imagem e de leitos hospitalares. Tudo isso “amarrado” à gestão clínica do paciente, do faturamento e da regulação, permitindo a otimização do uso de insumos e recursos críticos, além de auxiliar grandemente os profissionais de saúde a reduzirem suas margens de erro.
Muitos pensarão que, no Brasil do SUS e da miséria universalizada, isso é uma utopia. Ledo engano. Pois é exatamente nesse Brasil paradoxal e maravilhoso, que vamos encontrar ações sociais suportadas pela inclusão digital, coisas dignas de primeiro mundo. Um excelente exemplo é o SIS (Sistema Integrado de Saúde), projeto de comunidades digitais de saúde que a Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal está implantando em Brasília. A idéia central é integrar os 2,1 milhões de cidadãos de Brasília, usuários do sistema público de saúde, por meio de um prontuário eletrônico único na web. Este projeto, além de revolucionário, é um dos maiores do mundo no conceito de comunidades digitais de saúde pública.
A projeto já está em funcionamento na região do Gama, integrando o Hospital Regional, seis centros de Saúde e uma policlínica, que atendem a uma população de cerca de duzentos mil usuários da região; e na região de Samambia, integrando o Hospital Regional e quatro centros de saúde. No mês de outubro o Governador de Brasília, Roberto Arruda, iniciou a distribuição do Cartão de Saúde do Cidadão, que permitirá ao usuário do sistema ter seu atendimento agilizado, com todas as informações de seu prontuário eletrônico disponíveis em tempo real, através de cinco mil pontos de acesso na Intranet da rede de saúde publica de Brasília.
Hoje no Gama, o diretor do hospital pode acompanhar de sua sala, através da telinha de seu computador, a situação de aproveitamento dos recursos de sua unidade. O diretor pode, ao clicar de um mouse, saber porque existem filas de macas nos corredores, enquanto muitos leitos estão livres. Ele pode descobrir, por exemplo, que os leitos não podem ser ocupados por falta de roupa de cama e que falta roupa de cama porque uma das máquinas da lavanderia está quebrada. Ou então, que um medicamento crítico faltante nos seis centros de saúde e na farmácia regional do Gama, tem vinte mil unidades em estoque na farmácia central da secretaria. No Gama, um médico residente do hospital prescreve medicação para uma paciente, uma enfermeira faz a dispensação dos medicamentos, enquanto um outro paciente operado é transferido de um setor para outro, tudo isso por meio do computador, na web e sem uso de papel. Parece mágica? Não é. Trata-se apenas de utilização integrada das informações disponíveis.
Vocês devem estar se perguntando como tal nível de sofisticação em gestão é possível num hospital público, enquanto muitas vezes os grandes hospitais privados lutam com dificuldades para convencer seu corpo médico a utilizar os sistemas. A resposta é tão simples, que choca.  Servidores que sobrevivem em meio a carências sem fim, adotam novas práticas com muito mais facilidade e entusiasmo do que os funcionários de um hospital privado.
Por tudo isso, o atual governo do Distrito Federal entendeu que informatizar e integrar seu sistema de saúde não é um projeto de TI e sim um projeto de gestão e um projeto de governo, que, no fim do dia, melhorará a qualidade do atendimento da população. É a inclusão digital ajudando a promover a inclusão social.
* Fernando Vogt é responsável pela área de saúde da InterSystems
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