Cada vez mais o Brasil e outros emergentes tem se destacado na economia mundial por terem se tornado locais seguros para que países ricos aportem seus investimentos. Esses investimentos têm refletido positivamente em diversos setores da economia brasileira, entre eles a saúde.
De acordo com um levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006 e 2007, a arrecadação do Brasil representava 39% do PIB e 3,4% desse valor eram destinados à saúde, no Chile, a arrecadação correspondia a 19% e o repasse à saúde pública era de 3%.
A OMS recomenda que em que países com um sistema universal de saúde, como o do Brasil, os recursos alocados para a saúde atinjam, ao menos, 6% de seu PIB. Segundo o professor adjunto do departamento de clínica médica da UERJ, Denizar Viana, uma simulação feita por economistas apontou que, mesmo com os R$ 35 bilhões vindos com a aprovação da Emenda 29 para o SUS, esta porcentagem ainda estaria longe de ser atingida.
Viana diz que, para alcançar a recomendação da OMS seriam necessários mais R$ 83 bilhões aportados para o financiamento da saúde pública. No entanto a criação de um novo imposto estaria fora de cogitação e a melhor saída seria realocar os recursos existentes por meio de uma reforma tributária. ?O Brasil arrecada como um país rico, e gasto como um país pobre?. O Professor da UERJ ainda alerta para um movimento preocupante que parte do governo. ?Ao longo dos anos o País perdeu recursos destinados à saúde. Está tramitando no congresso a renovação da DRU (Desvinculação da Receita da União), que diz que a União pode lançar mão de até 20% do orçamento social, que implica também em verbas para a saúde. Nós precisamos brigar por uma reforma tributária, só dessa forma a saúde deixará de perder recursos?.
Para o diretor do Centro Paulista de Economia da Saúde FAP-UNIFESP, Marcos Bosi, a visão é um pouco mais otimista, mas destaca que é preciso ter cautela, e o crescimento econômico do País exige uma atenção especial ao sistema de saúde.
?Um dos maiores desafios dentro do sistema de saúde no Brasil, e em outros países, é o fato que temos de reconhecer que a geração de conhecimento válido e aplicável ao sistema de saúde está em uma velocidade maior que o enriquecimento das nações para adquiri-los? acrescenta Bosi.
Um exemplo dado pelo diretor é o sistema canadense, onde a restrição à assistência é dada pela fila imposta em determinado serviço ou por uma regulação claramente definida pelos representantes daquela sociedade. ?Talvez os sistemas de saúde não possam ter o número de equipamentos adequados ao que gostariam de ter como em um mercado livre, pois o sistema canadense é financiado pelo dinheiro público, muito similar ao nosso, e sabemos que equipamentos sem uso é um excelente estímulo para a criação de uma demanda inadequada. Claramente seria um papel nosso, profissionais do setor, assumir a que não dá pra oferecer tudo para todos aqueles que necessitam?.
Outro ponto levantado para se ter uma melhor gestão de recursos é a qualificação profissional. Em um ambiente onde os recursos são finitos, ter um profissional mal preparado seria contribuir para que a pouca verba existente seja mal utilizado. ?É imprescindível que tenhamos um investimento em educação e qualificação desses profissionais em instituições para que se possam produzir os custos e melhor utilizar o dinheiro investido?, acrescenta.
Bosi finaliza dizendo que o Brasil passa por um momento, definido pelos economistas, de bônus demográfico onde a população em idade produtiva é superior ao número de crianças e idosos e deve gerar mais riquezas e, se possível, com políticas públicas que as distribuam igualmente. ?Acho que o setor de saúde é um dos mais importantes para possamos manter esse motor de crescimento e nos beneficiar dele.
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