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Inovação aberta: um caminho sem volta na medicina diagnóstica e preventiva

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Caio Buti, Product Manager de Open Innovation

A tecnologia não ocupa mais apenas o papel de coadjuvante, com a função de auxiliar ou dar apoio a empresas. Ela é o próprio negócio. Quando olhamos para a área de saúde, esse protagonismo é ainda mais evidente e crescente. Isso é perceptível, inclusive, no volume de investimentos em healthtechs que têm sido realizados no mundo. Até dezembro de 2021, por exemplo, foram mais de cinco mil negócios fechados e quase 100 bilhões de dólares investidos globalmente, segundo dados do CBInsight (State of Healthcare - global trends - investments trends).

O número de unicórnios, ou seja, empresas privadas que atingiram a avaliação de mercado superior a um bilhão de dólares, aumentou cerca de 38% no último trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período do ano anterior. São cerca de 91 empresas com esse status atualmente. No Brasil, esse universo contempla mais de mil startups de saúde, em 14 categorias diferentes, que empregam quase 20 mil pessoas. Nos últimos dois anos, foram mais de 400 milhões de dólares investidos. Em breve, tudo indica que o país terá seus próprios unicórnios. 

O impacto dessa movimentação é gigantesco. Nesse sentido, muitas das tendências que vínhamos observando no passado estão se tornando realidade. A maioria das empresas adota como mantra “o paciente no centro do cuidado e a medicina baseada em valor”, cujo modelo pressupõe o pagamento dos prestadores com base no desfecho clínico do paciente e já começa a ser pilotada e adotada por diversos players do setor. O cuidado está sofrendo uma inflexão do modelo reativo, que trata a doença, para um modelo preventivo e preditivo, com foco na saúde do indivíduo.

Mas qual a relação disso tudo com a inovação aberta? Onde entra e qual o seu papel? Hoje temos visto empresas, dos mais diversos setores, apostando nessa frente. E por qual motivo isso se tornou tão mandatório?

Para começar, no cenário contemporâneo, cada vez mais incerto, volátil, ambíguo e não-linear, é impossível endereçar as constantes transformações no mercado isoladamente. As tecnologias mais disruptivas estão cada vez mais prevalentes. A inteligência artificial é utilizada, por exemplo, desde ferramentas de apoio ao diagnóstico por imagem, muitas vezes com acurácia maior que o olho humano, até sistemas de predição de risco populacional com potencial de evitar que algumas condições se agravem.  E, com a chegada do 5G, as possibilidades aumentam.

No âmbito laboratorial, a IA e a ciência de dados ajudarão a otimizar os fluxos de trabalho e tornar essas instituições mais sustentáveis, não só do ponto de vista de recursos, mas também visando a redução de testes desnecessários. A internet das coisas médicas e os weareables contribuem para que o monitoramento da saúde seja contínuo e em tempo real.

Além disso, com o crescimento e envelhecimento populacional e pressões orçamentárias, a saúde do futuro continuará enfrentando os mesmos desafios de hoje: fazer mais com menos. Para os laboratórios e centros diagnósticos, isso quer dizer que indicadores como throughput e custos por testes permanecerão como drivers do desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, um grau maior de automação e integração será cada vez mais demandado em um setor que se consolida em grandes grupos. O Brasil, por exemplo, possui cerca de 16 mil laboratórios que fornecem testes diagnósticos que geram em torno de 30 bilhões de reais em receita ao ano.

Por outro lado, a comoditização dos testes laboratoriais coloca uma maior ênfase no reposicionamento e ampliação dos serviços laboratoriais em direção a populações mais específicas, como os idosos e os pacientes crônicos. Muitos especialistas acreditam que o futuro da medicina laboratorial será inclinado aos testes laboratoriais remotos - os PoCTs -, que são aqueles realizados próximos aos pacientes sem uma estrutura laboratorial centralizada, oferecendo diversos benefícios, como custo baixo, portabilidade, simplicidade e controle de qualidade embarcado.

Também já observamos novos tipos de exames, inclusive não invasivos, como as análises da respiração e da voz. O ar da respiração tem um mix de substâncias e o padrão desses compostos podem ser ligados a algumas doenças. Já a análise da voz, como modalidade diagnóstica, é algo relativamente novo. Hoje, já existem algoritmos desenvolvidos para análise de voz que vêm apresentando sucesso na detecção de doenças arteriais coronárias.

As tecnologias mobile também deverão ter um papel importante na medicina laboratorial do futuro, especialmente em regiões remotas e com poucos recursos. Diversos estudos demonstram que os processos de autogestão do cuidado, baseado em intervenções da saúde digital, são efetivos na melhoria de comportamento e desfechos clínicos de pacientes com doenças crônicas, por exemplo.

No caso da genética, espera-se cada vez mais visibilidade e impactos na área laboratorial, seja na detecção de doenças ou na indicação de melhores tratamentos para o indivíduo. O slogan desse novo paradigma é “paciente certo, droga certa, na hora certa”. E, no futuro próximo, o cuidado do paciente será baseado ainda mais na aliança entre ele, médico e o centro de medicina diagnóstica. O laboratório irá além dos resultados e fornecerá probabilidades pós-teste, análise de risco, comentários interpretativos baseados em sistemas inteligentes ou inputs de especialistas. Ou seja, a interação entre laboratórios e médicos será cada vez maior e incluirá todo processo diagnóstico.

Em suma, o ritmo das mudanças nunca foi tão rápido e não voltará a ser tão devagar. É fato que coordenar tudo isso em iniciativas isoladas não é uma tarefa simples. Estamos cada vez mais conectados e, ao mesmo tempo, dependentes. Temos que estar abertos a colaborar com outros ecossistemas e players de mercado que sejam capazes de nos trazer oportunidades e melhorias incrementais para nossas tecnologias, principalmente, pensando na jornada do paciente, e em como colocá-lo cada vez mais ao centro.

É aí que entra a inovação aberta como um facilitador e um elo, entre o universo de startups e novas tecnologias que deverão compor o ecossistema da empresa. Sua missão é gerar oportunidades de negócios, que tragam valor ao ecossistema, seja por meio de investimentos, parcerias ou aquisições que contribuam para a sustentabilidade dos negócios.  De fato, precisamos sair do ambiente corporativo e nos conectar - e esse é o caminho.


Caio Buti, Product Manager de Open Innovation na Shift, empresa especializada em tecnologias para medicina diagnóstica e preventiva.