Há alguns anos atrás, foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, um artigo cujo tema era a culpa dos outros e nunca a nossa. Lembro-me bem que a ilustração desse artigo era um sujeito de gravata, com macaquinhos em seu ombro e à sua volta. O título não poderia ser mais sugestivo: ?Ainda bem que existe o outro?. No último dia 04, realizou-se um seminário na Câmara Americana de São Paulo (Amcham), o qual tratou das Aplicações Práticas da RDC 25/09. Para os que não estão a par do assunto, essa resolução trata da Inspeção Extra-Zona (em outros países) dos Fabricantes de Produtos para Saúde, o que já ocorre normalmente na área de Medicamentos. Tudo correu como previsto, com as associações fazendo as suas apresentações, assim como a ANVISA. Entretanto, quando tocou-se no ponto dos prazos de análise dos processos, o staff da ANVISA respondeu de forma evasiva, dizendo que a culpa das exigências (80% dos processos!!) é do setor regulado e das empresas que fazem os processos. Pois é, ainda bem que existem os outros… Como é que a ANVISA ainda usa esse discurso anacrônico?Quer dizer, então, que 80% de todas as empresas que fazem seus registros, seja com times internos ou contratados, não sabem o que fazem? Depois de 13 anos? É sério? E os resultados da pesquisa da própria Amcham, apresentados à Presidência e Diretoria da ANVISA, no último dia 10, em Brasília? A culpa das respostas também é da sociedade organizada? E os indicadores que pioraram? Certamente, há que se rever muitos conceitos, mas o principal deles deveria ser assumir as responsabilidades. Muito se cobra do setor regulado, com muito pouco em troca.