Três modelos distintos de hospitais nacionais. Um tem financiamento do Sistema Único de Saúde, sendo parte recebida por meio da Secretaria Estadual de Saúde, representado pelo Hospital de Câncer de Barretos; outro é puramente privado e sustentado pelas operadoras de planos de saúde, representado pela Rede D”Or de hospitais e; por último um modelo filantrópico recentemente profissionalizado e pautado em parte de seu financiamento pelo SUS e a outra parte pelo sistema suplementar, representado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Em uma mesa-redonda, os representantes destes hospitais discutiram as estratégias vencedoras na área hospitalar dentro de cada modelo apresentado. O diretor geral do Hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata, pontuou que hoje 99% dos seus recursos são somente do SUS e, até o final deste ano, deve alcançar 100%. Os projetos da instituição atendem cerca de 1,4 mil municípios e, para isto, o hospital deve arcar com um déficit de R$3, 6 milhões por mês. “Eu fui premiado pelo governador José Serra que me paga 50% desse déficit operacional pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e assim a sociedade consegue repor o restante por meio de doações”, afirma Prata. O percentual desse déficit representa apenas 10% da área ambulatorial, sendo 90% por conta de cirurgias, internações e UTI. “Esse déficit é crescente, porque o nosso volume de atendimento é crescente”, explica.

Com um faturamento de cerca de R$ 80 milhões pelo SUS em 2008 e custeio de mais de R$ 120 milhões, o Hospital de Câncer de Barretos vai inaugurar sua terceira unidade no início de 2010. O novo espaço de 11 mil metros quadrados está localizado em Jales (SP) e tem o objetivo de diminuir o atendimento diário de 2,5 mil pessoas na unidade de Barretos. “Não temos mais condições de atender esse número. Temos 40% de atendimento de outros estados o que não é comum”, argumenta Prata.

Em contrapartida, a Rede D’Or começou no Rio de Janeiro e hoje se estende até Pernambuco e no Paraná. Considerado um modelo de sucesso, a rede tem cerca de 2 mil leitos hospitalares e daqui há 3 anos a meta é ter mais mil leitos. E ainda, de acordo com o presidente da Rede D’Or, Jorge Moll, mais três unidades estão em construção nas cidades de Caxias, Madureira e Niterói. “Fora isso, estamos ampliando vários hospitais. O Rios D’Or está dobrando de tamanho, o Copa D’Or vai receber uma nova unidade com mais 100 leitos e, o Quinta D”or deve inaugurar em janeiro de 2010 mais 100 leitos também”, conta Moll.

Para o executivo da Rede, o segredo é ter ideias, ideais e pessoas. Na parte de diagnóstico, Moll considera a qualidade e a iniciativa de reunir todos os exames em um único lugar os principais ingredientes de sucesso. Na área de hospitais, escolher o Rio de Janeiro no momento em que a cidade era a capital da República também é considerado por ele um ganho. “Foi um momento de grande transição com pequenas clínicas e hospitais públicos que foram piorando sua qualidade e isso abriu uma oportunidade de crescimento”, relata. Outro segredo citado por Moll é o setor de Emergência, considerado um grande diferencial dos hospitais.

Já o modelo representado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre aponta a gestão profissionalizada como fundamental para mostrar o lado da importância de agregar novos profissionais e fazer com que haja um desenvolvimento contínuo das instituições filantrópicas. Para os próximos cinco anos, o diretor financeiro da Santa Casa, Ricardo Minotto, visa a integração com a sociedade. “É uma visão estratégica que tem mostrado caminhos na área da assistência médica hospitalar. Entendemos que ainda temos um espaço a percorrer na área de referência em promoção à saúde e prevenção das doenças que, em uma perspectiva a longo prazo, é fundamental para a sustentabilidade do sistema de saúde com um todo”. Minotto, ressalta a preocupação dos prestadores com a sustentabilidade do sistema com o paciente, com quem paga a conta, com as operadoras de planos de saúde e, até mesmo, com o sistema de saúde estatal. “A prevenção e a promoção são estratégias importantes e a Santa Casa vem trabalhando de forma gradual nesse sentido”, explica.

A conclusão é que o Brasil possui um conceito de que a saúde é uma só e, mais do que nunca, consolidada. “E eu não diria só em nível nacional, mas em nível mundial que nós temos que ter a iniciativa privada junto com iniciativa pública e o desenvolvimento e crescimento desse setor tem sido significativo”, conclui o presidente da Confederação Nacional de Saúde, José Carlos Abrahão, após mediar a discussão.

“É preciso melhorar mais ainda a gestão. Já temos gestores muito bons de saúde, que trabalham com recursos que não são os ideais, e muitas vezes precisam compelementá-los, seja pela iniciativa privada, ou por meio do próprio sistema suplementar, ou ainda por meio dos gastos diretos. E com esses recursos que são muito menores, quando comparados com os dos países da Europa, que gastam US$ 3 mil per capita, ou comparado até mesmo com os Estados Unidos, que gastam US$ 7 mil per capita e têm uma exclusão de 47 milhões de pessoas, e nós no Brasil com gastos em torno de US$ 400 per capita somos referência em imunizações e no tratamento de aids, além de sermos o segundo maior país do mundo em transplantes”, avalia Abrahão. Ainda de acordo com o presidente da CNS, o setor responde hoje por 8% do PIB, emprega 2,8 milhões de trabalhadores diretos e quase 5 milhões indiretos. Além disso, o Brasil tem 204 mil estabelecimentos de serviços de saúde, sendo 6,8 mil hospitais.

Para essa boa gestão, Abrahão comenta a importância da acreditação hospitalar. De acordo com ele, o BNDES já disponibiliza linhas de crédito no valor de R$ 250 mil para a implementação de projetos de acreditação. “A acreditação vai ser uma necessidade não só dos serviços das instituições de saúde, mas dos nossos clientes que vão querer uma instituição acreditada. A acreditação não vai bater só do lado da operadora, mas também do prestador, que com certeza vai poder propiciar uma melhor atenção à saúde da nossa população”, finaliza.

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