O vice-diretor de planejamento estratégico do Hospital Italiano de Buenos Aires, Fernan Gonzalez Quiros, é um dos keynote speakers do Medinfo 2015 – principal evento mundial de Informática em Saúde, que será realizado em São Paulo entre os dias 19 e 23 de agosto por meio da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS).
Com um forte histórico acadêmico, Quiros criou na Faculdade de Medicina, em 1997, o Plano de Saúde de Gestão Médica e uma bolsa de estudos em Gestão da Saúde, e em 1999 liderou a criação do Departamento de Informática em Saúde e desenvolveu um programa de residência para profissionais de saúde.
Além disso, esteve no comando do desenvolvimento do HIS e do projeto de servidor de terminologias que provê serviços de interface baseados em SNOMED CT para diferentes aplicações clínicas em diferentes países da América Latina.
Está desde 2003 no Hospital Italiano e em 2013 foi eleito membro do eHealth Technical Advisory Group da OMS. Atualmente lidera a Especialização em Informática em Saúde e o Mestrado em Pesquisa Clínica da Universidade do Hospital Italiano de Buenos Aires.
Saúde Business: Qual o maior desafio na implementação de soluções de Tecnologia da Informação (TI) nos hospitais?
Fernan Quiros: Na minha opinião o principal desafio é fazer com que aqueles que fazem parte da liderança da organização entendam como a TI pode ajudá-los a cumprir a missão da organização, entendendo que os benefícios superam os custos e os riscos associados com esses projetos que, pela sua natureza, são complexos e requerem múltiplas revisões, e em muitas ocasiões, mudam processos em quase toda a organização.
Há resistências dos profissionais como enfermeiras e médicos na adoção de software?
A resistência não é para adoção de software ou hardware, uma vez que nós estamos adotando novas tecnologias todos os dias, especialmente as novas gerações. A resistência natural de qualquer pessoa é para mudar seus hábitos, local e tipo de trabalho. A resistência diminui quando há suporte da direção da organização, e quando o propósito da mudança é claro e bem comunicado e especialmente quando os profissionais estão envolvidos no processo de mudança e envolvidos na compra ou desenhos dos processos e necessidades do desenvolvimento da sua prática assistencial.
No Hospital Italiano de Buenos Aires há uma residência de Informática em Saúde. Quais são as habilidades que o mercado espera que esse profissional tenha?
Isso mesmo, temos 11 gerações de graduados do programa de residência que treina médicos e enfermeiras em Sistemas de Informação. A maioria deles trabalha liderando projetos de TI em diferentes hospitais na Argentina, Uruguai e Chile. O mercado pede por profissionais que entendam muito bem as necessidades dos negócios na área de saúde e possam traduzi-las em engenharia de sistemas, porque eles entendem tanto de ciências da computação quanto da assistência. Por último, mas não menos importante, eles são demandados em desenvolver habilidades de gestão de projetos e gestão de mudanças organizacionais.
Por quê o Hospital Italiano decidiu abrir essa residência de Informática em Saúde?
Pelas razões que o mercado está percebendo agora. Há 15 anos nós iniciamos o projeto Italica e decidimos criar um sistema que nos ajudasse a cumprir a nossa missão, e nós nos convencemos de que precisaríamos envolver muitos profissionais de saúde que entendessem de TI. Então nós abrimos um programa de treinamento que desse aos profissionais de saúde os fundamentos teóricos da disciplina e a experiência hospitalar sem esquecer as habilidades de gestão que eu mencionei. Nós encorajamos também a educação e a pesquisa para compartilhar a nossa experiência e tentar trazer novos conhecimentos para colaborar no desenvolvimento do setor de TI em saúde.
Hoje em dia, qual é a principal ferramenta de TI para os médicos?
Com certeza o prontuário eletrônico é a principal ferramenta que os profissionais da saúde utilizam. É importante lembrar que o Prontuário Pessoal do Paciente, chamado de PHR, em oposição ao EMR (Eletronic Medical Records), também abriu um canal de comunicação bastante interessante entre o médico e o paciente – além de dar ao paciente um papel essencial no seu cuidado de saúde. E todos os dias nós estamos vendo um aumento no uso de ambas as ferramentas.
A interoperabilidade é um problema antigo no setor de saúde. Qual a sua opinião sobre a evolução desse assunto no Brasil e na Argentina?
A evolução da interoperabilidade é lenta nesse momento porque as políticas públicas não levantaram ainda a necessidade de troca de informações clínicas entre as organizações para obtenção de informação a nível nacional ou regional. Por agora, a maioria dos hospitais estão implementando TI em silos. Eu acredito que enquanto políticas públicas não forem levantadas como necessário nós continuaremos avançar em novas soluções que podem não responder aos antigos problemas.
Qual país está melhor posicionado em termos de interoperabilidade na América do Sul?
Eu acredito que não existe um país que seja um exemplo de interoperabilidade, mas existem algumas boas experiências que podem atualmente interoperar e nos dizem que estão prontos para isso. Mas como disse antes, o desafio ainda é mais político do que tecnológico. Nesse sentido, acredito que Uruguai e Brasil podem ser exemplos a seguir.
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