Prontuários eletrônicos, wearable devices (dispositivos vestíveis), aplicativos e uma infinidade de equipamentos médicos produzem cada vez mais informações de saúde. Esses dados não estruturados, conhecidos como big data, são a grande aposta para a medicina de precisão, que promete revolucionar os tratamentos, tornando-os personalizados em nível molecular.

Nos Estados Unidos, no início do ano passado, o governo anunciou um plano de US$ 215 bilhões para construir uma base de dados com informações genéticas, registros médicos e outras informações de saúde de mais de 1 milhão de americanos, que serão voluntários no projeto de medicina de precisão.

A expectativa é criar modelos para identificar novos alvos para tratamento e prevenção, aumentar a base científica para que a medicina de precisão abranja mais doenças, prever as respostas aos tratamentos e, por fim, atingir o objetivo de aumentar a efetividade dos medicamentos, reconhecendo para quem ele funciona e para quem não funciona, de forma que a droga certa seja ministrada na dose certa, para o paciente certo.  

“É claro que será muito difícil atingir a precisão de 100%, devido à multicausalidade das doenças, mas se conseguirmos dobrar a eficácia atual de todas as intervenções de saúde o número de vidas salvas será inestimável”, diz o pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho, em artigo publicado na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde.

O pesquisador aponta a necessidade de aumentar o tamanho das amostras das pesquisas para que esse objetivo seja alcançado. “Isso será possível por meio de incentivos a novos estudos multicêntricos que usem a mesma metodologia e pelo linkage de dados públicos já existentes. A digitalização de todos os dados dos pacientes pelos serviços de saúde também será fundamental para estimular novas análises e aumentar o tamanho das amostras. De especial importância será a universalização do uso integrado do prontuário eletrônico do paciente”.

Iniciativas nesse sentido já tomam forma nos Estados Unidos, como aponta a revista Health Affairs. A operadora de planos de saúde Kaiser Permanente já conta com um biobanco que liga informações genéticas aos prontuários eletrônicos de 500 mil pessoas. Outros projetos semelhantes estão em andamento no Reino Unido e dentro do próprio projeto Genoma Humano, entre outros.

A análise informatizada desse big data permitirá a criação de algoritmos que transformem dados verdadeiramente em conhecimento, identificando padrões de forma mais rápida e não-enviesada, de forma a apoiar o diagnóstico e a decisão médica e garantir tratamentos mais eficazes e personalizados, melhorando os resultados assistenciais e a utilização de recursos nos sistemas de saúde.