É um assunto recorrente. Uma doença crônica. E os “remédios” e terapias que vem sendo administrados, ano após ano, não resolvem o problema, porque não são soluções técnicas, mas ocasionais. O problema de saúde do brasileiro, agora, corre o perigo de não ficar restrito somente àqueles dependentes do SUS. Os usuários dos planos de saúde estão na iminência de também serem afetados por uma delicada questão: os custos da Medicina e a equação qualidade de atendimento e menor preço.

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A evolução tecnológica da Medicina tem aumentado, significativamente, os custos dos exames e a queda de braço usuários dos convênios, hospitais e as operadoras crescem na mesma proporção destes custos. A prova pode ser medida nos balcões do Procon, aonde os titulares dos planos vão se queixar do atendimento ou da falta de cobertura que os planos não oferecem quando o usuário precisa.

É uma equação complexa que precisa, necessariamente, de compreensão de todos os que estão envolvidos de que se alguma coisa não for feita, a atual gestão, tanto de hospitais, quantos dos planos de saúde correm sério risco de sobrevivência. E, que se isto acontecer, os que hoje são titulares de convênios só terão uma saída: recorrer ao serviço público de saúde, aumentando ainda mais o caos que hoje ele vive.

Assim, é preciso a compreensão e a consciência, principalmente de hospitais e convênios de que já passou o momento de agir mas, ainda há tempo destes dois atores perceberem que se não atuarem juntos, vão perder!

E as alternativas para a sobrevivência estão aí, à vista de todos. E a primeira é prestadores e compradores de serviços, hospitais e planos de saúde não se olharem com desconfiança. Ao assumirmos a administração do Hospital São Vicente notamos que as contas enviadas aos convênios são vistas com descrédito e isto leva a um processo que para certificação delas, com auditorias, aumente o custo, para hospitais e planos. Ao iniciarem uma relação de confiança, unificando seus sistemas de auditorias, poderemos chegar, em curto tempo à seguinte equação: os hospitais cobram o preço justo e o plano paga o preço justo. Acredito que esta iniciativa possa resultar numa outra: os hospitais procurarem se distinguir para o público no binômio qualidade de atendimento e menor preço.

Outra ação que deve ser tomada é os hospitais e profissionais médicos trabalharem com os protocolos médicos. Os protocolos são procedimentos reconhecidos mundialmente que se seguidos possibilitam um resultado para o paciente e um acompanhamento melhor dos custos por hospitais e convênios. E aliado a isto, o usuário deve lutar para que as instituições hospitalares e médicos adotem o prontuário eletrônico.

O prontuário eletrônico é uma revolução na relação paciente-médico-hospitais. Num CD ou num pen drive o paciente leva consigo todo seu histórico clínico e, também, seus exames de imagem. Isto vai evitar que ao consultar um médico ou ao pedir uma segunda opinião, sejam requisitados exames já realizados. A diminuição de custos será enorme, beneficiando todo o sistema de saúde. O nosso Hospital já adotou o prontuário eletrônico e tivemos uma redução significativa nos custos porque no São Vicente os exames dos pacientes estão disponíveis em rede de computador, eliminando-se, por exemplo, o uso de filmes. O médico vê e analisa a ressonância magnética de qualquer computador com total segurança para ele e o paciente.

É a relação de confiança entre os players da saúde que pode salvar o sistema que, talvez, muitos não percebam mas está ficando cada vez mais doente. A continuar como está, com os custos subindo, com volume enorme de exames repetitivos e, muitas vezes desnecessários, e as glosas dos convênios, não tenho dúvida: muitos hospitais vão entrar em processo de falência e os convênios, ou vão sumir ou serão absorvidos, com prejuízo para quem paga: o usuário.

Estamos convidando os planos de saúde, os gestores de hospitais para colocar em discussão conclusões de recente reunião que contou com a participação de convênios e de hospitais no segundo semestre de 2008, em Comandatuba, e que pretende ser à base da solução do problema e evitar a derrocada do sistema de saúde no Brasil.

* Marcial Carlos Ribeiro, médico e diretor superintendente do Hospital São Vicente

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