O que você fazia antes de começar a vida de empreendedor na HealthUnlocked?

Quando eu comecei a HealthUnlocked eu era cirurgião ortopédico no Reino Unido e me especializava em Cirurgia da Coluna Vertebral. Eu trabalhei em todos os grandes hospitais de Londres, foi uma experiência muito emocionante e desafiadora. Eu estava de plantão quando as bombas 7/7 explodiram em Londres, por exemplo, e é um dia que eu jamais vou esquecer. Foi talvez através desse contato com milhares de pessoas com problemas de saúde muito complicados, e com tão pouco apoio no dia-a-dia, que me ocorreu a enorme potencial de conectar pacientes online em torno dos seus problemas de saúde.

Eu também me envolvi na política aqui no Reino Unido e iniciei uma organização para jovens médicos chamada “Remedy”, que evoluiu para uma rede online de 15.000 médicos. Tornou-se um movimento poderoso na medicina no Reino Unido e abriu os meus olhos para o poder coletivo através de conexão online em torno de questões políticas. E tudo isso foi antes de todo o impacto social que redes como Facebook e Twitter tiveram na Primavera Árabe, por exemplo.

Como foi que a experiência com a Remedy levou a criação da HealthUnlocked ?

A Remedy foi principalmente sobre empoderar médicos contra o que todos concordaram ser reformas governamentais perigosas no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, na época. Nós aproveitamos novas tecnologias para unir pesquisas e dados que provavam que o que estava sendo feito não estava funcionando. Apartir desses também organizamos passeatas e protestos ao redor do parlamento e acabamos em uma batalha legal contra o governo. Era uma mistura de PollDaddy, Facebook e Kickstarter antes de qualquer um desses existir! Legalmente a batalha acabou em impasse, mas nós efetivamente ganhamos porque o governo mudou a reforma da saúde e lançou vários inquéritos para avaliar o que tinha acontecido. Por causa do que conseguimos em tão pouco tempo, era difícil voltar para a medicina do dia-a-dia sem pensar em todas as outras coisas na área da saúde que poderiam ser melhoradas com as novas tecnologias. Foi ai que a HealthUnlocked nasceu, inicialmente como um piloto e, em seguida, como uma empresa completa.

Eu sei que você já morou no Brasil. Como foi esse período?

Verdade, eu vivi mais de um ano no Brasil na década de 90. Eu estava estudando literatura e Português e fui morar em Recife por um ano. A temporada no Brasil definitivamente contribui com a minha formação pessoal e vida de empreendedor, é impossível esquecer aquele ano no Brasil! Na época eu inclusive ajudei na criação de uma ONG para pessoas com AIDS, que eram de uma comunidade muito marginalizada e com saúde precária, foi uma experiência certamente me marcou para o futuro.

Com todas essas experiências diferentes, o que fez você querer ter essa vida de empreendedor?

Desistir de praticar cirurgia foi naturalmente uma coisa incrivelmente difícil e arriscada de se fazer. Eu sou de uma família de médicos – está no meu sangue – talvez por isso ainda mais difícil. Entretanto, vendo como o mundo estava mudando tão rápido e acreditando como eu acredito que a medicina está no início de uma mudança, maior que qualquer outra desde o iluminismo, eu queria fazer parte dessa mudança. Tornar-se um empreendedor era a única maneira, porque eu não acredito que as instituições de cuidados de saúde irão conduzir a mudança de paradigma neste momento. Serão sim os pacientes, habilitados com tecnologias, que estarão no centro da mudança. Isso não vai acontecer de um dia para o outro, mas eu sei que em 5, 10 ou 15 anos a saúde será muito diferente. Por isso eu não me arrependo de ter feito o salto para a vida de empreendedor!

Você acha que os seus colegas médicos compartilham da sua sua visão de saúde e tecnologia?

Acho que é uma mistura de sentimentos. Os melhores e mais brilhantes médicos que conheço são os maiores defensores de pacientes mais informados e, em geral, eles amam o que estamos fazendo. Mas também existe ainda muita confusão com o que aconteceu com os pacientes internautas no final dos anos 1990. Eles tinham acesso a uma grande quantidade de informação, muitas vezes sem o contexto apropriado. Assim, surgiu aquela situação típica de um paciente que chegava em uma clínica com uma pilha de impressões da internet e perguntas alarmantes, muitas vezes irrelevantes, e causando mais mal do que bem. Isso criou um pano de fundo que colocou a web como um divisor, em vez de uma ponte, entre pacientes e profissionais. Acredito que agora a tecnologia está mais esperta, como desenvolvimentos pensando em situações mais complexas nos caminhos da saúde de cada pessoa. Então fica a dica, se você colocar isso em uma empresa você será muito bem-sucedido no futuro!

Que conselho você daria para startups mais jovens?

Já foi dito antes, mas é verdade que é necessário 1% inspiração e 99% transpiração, essa é a verdadeira vida de empreendedor. Uma rede social para a saúde é uma boa idéia, mas qualquer um poderia ter pensado nisso. A parte difícil é se manter firme no início. Demorou tanto para chegar de 1 a 1000 usuários mensais quanto demorou para pular de 10,000 para 2,000,000 usuários mensais. Então, se você tem certeza sobre a sua idéia não desista se não der certo na primeira ou segunda vez…ou até na décima vez. Você precisa seguir em frente, se adaptar e aprender o que funciona melhor. Se é uma idéia que você realmente acredita, no final ela precisa funcionar. Outro ponto é conseguir um bom parceiro, o que pode ser a parte mais difícil!