Vivemos uma transformação acelerada no modo como as pessoas interagem, consomem e confiam em informações sobre saúde. Nos últimos anos, a comunicação deixou de ser um mero canal de divulgação e passou a ocupar um papel central na experiência do paciente.
Em 2026, essa evolução tende a se intensificar: a mescla entre dados, conexão e cuidado vai moldar um cenário em que a comunicação será cada vez mais estratégica, personalizada e ética.
A pandemia já havia mostrado a urgência de comunicar de forma clara, segura e acessível. Agora, vemos o avanço de tecnologias como inteligência artificial generativa, análise de big data e plataformas omnichannel ampliando esse horizonte.
Segundo o relatório Global Health Care Outlook 2025, da Deloitte, o uso de dados em tempo real na saúde será determinante para decisões clínicas, mas também para a construção de narrativas que engajem pacientes e comunidades com mais relevância.
No Brasil, esse movimento se reflete em duas grandes frentes. A primeira é a personalização da comunicação: campanhas de marketing e programas de relacionamento deixam de falar “para todos” e passam a considerar perfis de comportamento e consumo.
Isso significa oferecer informações úteis e qualificadas, que respeitam o tempo e a necessidade de cada indivíduo. A personalização baseada em dados permite que a comunicação seja menos invasiva e mais transformadora, fortalecendo vínculos de confiança e ampliando o impacto positivo no cuidado.
A segunda frente é a conexão entre diferentes atores do ecossistema. Pacientes, médicos, startups, hospitais e operadoras de saúde não podem mais se relacionar em silos. A comunicação precisa integrar jornadas, conectar pontos e criar experiências consistentes em cada etapa – do agendamento online à alta hospitalar. Estudos do Journal of Medical Internet Research já apontam que pacientes que vivenciam jornadas digitais integradas relatam maior satisfação e adesão a tratamentos.
O avanço da tecnologia e da inteligência artificial na saúde também traz riscos importantes. Informações incompletas ou equivocadas circulam rapidamente na internet, levando muitas pessoas a se automedicarem ou a tomarem decisões sobre sua saúde sem orientação profissional.
A checagem de fontes confiáveis ainda é um desafio para grande parte da população, o que pode gerar desinformação sobre temas críticos, como vacinação, tratamentos clínicos e protocolos médicos. Além disso, algoritmos podem reproduzir vieses e reforçar padrões inadequados, ampliando desigualdades ou disseminando dados incorretos.
É fundamental, portanto, que a inovação caminhe lado a lado com a supervisão humana, a educação em saúde e a ética na comunicação, para que tecnologia e conhecimento sirvam ao cuidado, e não ao risco.
No Hospital Moinhos de Vento, acreditamos que comunicar bem é cuidar melhor. Investimos em hubs de inovação, pesquisas clínicas e iniciativas de saúde digital que reforçam essa visão. A comunicação em saúde do futuro vai além de “contar histórias”: ela transforma dados em decisões conscientes, gera conexões genuínas e assegura que cada interação represente cuidado.
O desafio para 2026 é, portanto, duplo: avançar na capacidade de personalização sem perder a dimensão humana e fortalecer a integração digital sem abrir mão da confiança. Se conseguirmos unir tecnologia, ética e empatia, a comunicação deixará de ser apenas estratégica e se afirmará como preponderante para transformar a forma como cuidamos da saúde no Brasil.
Melina Schuch é superintendente de Estratégia e Mercado do Hospital Moinhos de Vento.