Sempre ouvi muitos colegas dizerem que não existem mais virgens no setor de Saúde, mas hoje vou discordar de todos sem a menor cerimônia – afinal de contas, meus caros, a Virgin também está entre nós!
E ela, a Virgin, veio para ajudar as empresas tradicionais a ganharem mais jogo de cintura mercadológico e perder sua velha inocência na forma de engajar os pacientes.
Quer seja através da Virgin Pulse, quer seja através da Virgin Care, o magnata Sir Richard Branson decidiu trazer para a Saúde um pouco do vigor que costuma esbanjar em outras verticais de seu vasto leque de negócios.
Ele próprio diz, num dos filmes de apresentação no site do grupo, que percebeu que muita energia do negócio de aviação poderia (e deveria) ser empregado na Saúde.
(Ah, como faz bem para a Saúde receber essas brisas de fora, de vez em quando…)
A Virgin Care, como próprio nome já diz, é uma rede assistencial, formada por clínicas populares, e que hoje é subcontratada pelo NHS (o “SUS inglês”) para assistir a população do Reino Unido.
Já são mais de 400 unidades distribuídas em Primare Care Services (atendimento emergencial e clínica geral), Intermediate Care Services (especialidades), Community Services (reabilitação, saúde sexual, cuidados paliativos etc) e Social Care Services.
Dentre algumas inovações que eles acrescentaram à Jornada do Paciente existem coisas bem interessantes.
O serviço de Orientação Sexual, por exemplo, inovou ao compreender melhor que nos finais de semana era o melhor momento para impactar a população gay britânica – um grupo que, segundo pesquisas da Virgin, ainda apresenta uma grande concentração de desinformação e resistência a serviços desse tipo.
Assim eles fizeram uma parceria com o Grindr, um aplicativo de encontros gays, e realizaram uma campanha inédita, num sábado, para agendamento online de testes nas clínicas da Virgin e que foi um sucesso estrondoso com relação a iniciativas parecidas já realizadas pelo Governo no passado recente. No primeiro final de semana mais de 250 homens gays agendaram a realização de seus exames.
Uma outra iniciativa que tem dado muito o que falar por lá é uso de tablets pelas enfermeiras da Virgin Care – o que para os analistas do setor tem ajudado muito na interação das equipes de enfermagem com os pacientes, uma vez que os dispositivos integram em tempo real todos os dados da pessoa para que todas as áreas / profissionais envolvidos possam ter uma visão única do paciente sem descontinuidade.
Enfim, com o boom de clínicas privadas de baixo custo no Brasil, o trabalho da Virgin Care na Inglaterra – na minha opinião – vem tornando-se um belo bechmark para esse segmento.
Já a Virgin Pulse é um case bem diferente, mais ligado à jornada digital do não- paciente.
Trata-se de uma empresa com foco em Saúde Corporativa, onde é oferecida uma plataforma digital para que Empregadores possam engajar sua população de funcionários em práticas saudáveis e mudanças de estilo de vida.
Dentre tantas coisas bacanas que pude ver no trial, a plataforma recebe dados de múltiplas fontes, como prontuários e pedômetros, organiza comunidades de usuários em torno de temas de interesse de saúde comum – como stress e emagrecimento – personaliza a entrega de conteúdo de saúde ao perfil de cada usuário e emprega técnicas de gamification, realizando a entrega de prêmios como forma de incentivo aos participantes.
Trata-se de uma típica representante da família de redes sociais voltadas para Welness, que aos poucos estamos começando a implantar por aqui também.
No caso da Virgin, o engajamento do usuário ainda pode ser estimulado com a utilização de uma série de vestíveis de marcas como Fitbit que podem ser comprados na loja virtual da Virgin – incluindo aí alguns gadgets produzidos pela própria Virgin – e que podem ajudar a contar horas de sono, quantidade de passos etc.
Enfim, esse é mais um caso de empresa que veio de fora para compensar o excessivo conservadorismo do Setor de Saúde e que está colhendo bons frutos com isso. Como todos já sabem, de bobinha e ingênua, pelo menos nos negócios, a Virgin não tem nada.
Fique ligado.
Istvan Camargo é especialista em engajamento de pacientes. Foi membro do Comitê Científico da Health 2.0 Latam e residente digital do Centro de Mídias Sociais da Mayo Clinic / USA. Atuou como Chief Innovation Officer do Grupo Notredame Intermédica. Realizou palestras sobre o tema em conferências como Social Media Week, Campus Party e HIS. Em 2012 fundou a primeira rede social de saúde do país e já realizou projetos para Laboratórios Farmacêuticos, PBMs, Virada da Saúde SP, Grupos de Apoio a Pacientes, dentre outros, engajando grupos de pacientes das mais diversas patologias.