Em nosso planeta não há lugar seguro. E confirma-se a impressão de que os desastres tornam-se cada vez mais frequentes. Segundo dados do International Disaster Database, o número de desastres está aumentando com mais velocidade. Aconteceram 133% mais catástrofes que afetaram 76% mais pessoas entre 2000 e 2009 se comparados entre os anos de 1980 a 1989. Nos primeiros nove anos desta década ocorreram em média no mundo, 484 desastres naturais por ano. Somados, esses acontecimentos provocaram cerca de US$ 880 bilhões em prejuízos, afetando 2,4 bilhões e matando quase 800 mil seres humanos.
Os conflitos têm se multiplicado, sejam eles militares ou determinados pela desestruturação da sociedade civil. Não raro, a segurança deixa de acompanhar o desenvolvimento tecnológico e, direta ou indiretamente, tem-se dele decorrentes situações incontroláveis e tragédias de grandes proporções. O adensamento populacional em áreas de risco faz, hoje, incontáveis vítimas quando antes incidentes naturais pareciam ter impacto mais limitado.

Deixamos o século das grandes guerras sem otimismo, vendo crescer as divergências e beligerância entre as nações. A violência civil aumenta, ultrapassando os limites das manchas de miséria que cobrem a periferia das grandes cidades. Do dia-a-dia dos acidentes de trânsito às tragédias dos grandes acidentes aéreos; dos surtos epidêmicos de novas e antigas doenças aos vazamentos das usinas nucleares e perfurações off-shore; das inundações e dos incêndios, furacões, terremotos e tsunamis a deslizamentos e desabamentos, somando-se as mudanças climáticas, prevenir nem sempre é possível.
Reduzir o risco, todavia, certamente o é. Não resta dúvida da importância de nos prepararmos para a adversidade. Ainda que não surja ela entre os que nos cercam de imediato, atingir-nos-á mais cedo hoje e amanhã do que ontem poderíamos supô-lo. Muito mais cedo, ainda que quiséssemos evitá-lo.
Seja qual for a natureza do desastre, ele nos impõe obrigações a todos, muito mais a nós, médicos e enfermeiros, que a outros. Ainda que segurança, comunicações, transporte e tantas outras necessidades sejam prementes, a atenção à saúde é preocupação fundamental, haja vista a invariável implicação que tem os desastres na sobrevivência dos seres humanos.
À medida que nos qualificamos senão para tratar de ameaças à vida, espera-se de nós conselho, ação e espírito de solidariedade, gestos intrínsecos à arte da medicina, pronta a prestar a ajuda necessária. Portanto, temos de nos preparar para tanto.
Preparação é também ter recursos humanos e materiais necessários no lugar e no momento exigido. Entre os muitos mais de 300 mil médicos e 1,1 milhões de enfermeiros hoje ativos em nosso País, é premente classificá-los pela disponibilidade temporal e geográfica, estratificando-os pela especialidade e competências potencialmente úteis em situações de catástrofe. Fazer-lhes, em primeiro lugar, reconhecer o risco, para que possam se proteger e transmiti-lo aos demais.
Depois, treiná-los a atuar de forma consertada com os tantos atores essenciais e nas variadas circunstâncias que se nos podem sobrevir. Organizar os esforços da comunidade médica civil em consonância com as demais instituições de atenção à saúde, em posição estratégica as militares. Integrar, também solidário, nossos esforços à comunidade médica internacional e estarmos presentes quando o momento surgir.
Temos diante de nós missão extensa, difícil e complexa. Que não se pode procrastinar, nem deixar em segundo plano. Assumem aqui a Associação Médica Brasileira e o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, com o apoio da Secretaria de Saúde de São Paulo, mais essa missão, a serviço da vida, pelas profissões médica e enfermagem.
*José Luiz Gomes do Amaral – Presidente da Associação Médica Brasileira