Um dos maiores desafios do Brasil, como Nação, atualmente, é acelerar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), rompendo a barreira dos 4% a 5% ao ano. Essa espécie de teto informal engessa a distribuição dos benefícios do controle da inflação, e dos avanços em indicadores como o saldo da balança comercial.
Economistas e empresários apontam vários obstáculos a um crescimento mais vigoroso da economia: altas taxas de juros; supervalorização do real frente ao dólar e outras moedas; carência de investimentos em infra-estrutura; elevadíssima carga tributária e fiscal e resistência da burocracia.
São esses problemas que nos impedem de aproveitar o bom momento na economia mundial para crescer exponencialmente, enquanto as crises sazonais não vêm. Mas, para superar tudo isso, seria necessário unir correntes político-partidárias, investir bilhões de reais e abrir mão de poder político, algo improvável de se pensar em curto prazo no país.
Há, contudo, uma alternativa bem mais factível, por meio do estímulo real do cooperativismo, uma das formas mais avançadas de união de forças e de valores positivos. Nas cooperativas, os sócio-cooperados somam suas forças e compartilham seus resultados. Essa estrutura igualitária provoca retorno rápido e mostra grande potencial de redução das desigualdades sociais.
E o melhor: o cooperativismo convive harmonicamente com a forma de estruturação da economia capitalista, hoje predominante em todo o mundo. Mas, ao contrário desta, na cooperativa o talento é bem mais importante do que o capital.
O cooperativismo está por trás, por exemplo, do sucesso do agribusiness nacional, que até assusta concorrentes internacionais, por sua produtividade e engenhosidade. Na medicina suplementar, o Brasil também ocupa a liderança mundial, pois a Unimed é o maior sistema do gênero em todo o planeta, com 30% do mercado brasileiro de planos de saúde, mais de 14,5 milhões de clientes, e 103 mil médicos cooperados.
Se as cooperativas são tão importantes, por que não ajudam ainda mais a aumentar o nosso PIB? A resposta é simples. Porque as autoridades ainda não adotaram, plenamente, o que está escrito na Constituição Federal.
Embora o Brasil some 7.603 cooperativas, com quase 7,4 milhões de associados, e 218,4 mil empregados, isso não faz com que o artigo 174, parágrafo 2º da Constituição, seja cumprido. Ele determina: “A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.” Além disso, não há uma lei complementar que propicie “adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas”, conforme determina o artigo 146 da Constituição.
Não é admissível acreditar que essa distância entre a constituição e a realidade represente um descaso deliberado para com as cooperativas. É mais fácil crer que esse sistema ainda não seja bem compreendido, e que, por isso, não receba toda a valorização merecida. Quando houver um diagnóstico mais preciso sobre as ameaças à economia brasileira, a prescrição de mais cooperativismo será obrigatória.
Afinal, não podemos esperar mais algumas décadas para gerar emprego e renda. Muito menos para aplainar as distorções existentes entre bairros, cidades e regiões de nosso País. Aprendemos muito nesses mais de 100 anos em que essa atividade se desenvolve no Brasil. Estamos, portanto, prontos a contribuir muito mais do que já o fizemos até agora, para que todos participem do bolo do crescimento. Basta que nos ajudem a cumprir com nosso papel.
* Celso Barros é Presidente da Unimed do Brasil e da Unimed-Rio