Entender a relação do brasileiro com a saúde – sobretudo neste período de recrudescimento dos temores relacionados à pandemia da Covid-19 – é fundamental para traçar iniciativas eficazes de atendimento, seja para os beneficiários de planos privados, seja para quem depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). E foi pensando nisto a iniciativa da Pesquisa ANAB de Assistência Médica, realizada pela Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB), em parceria com o Instituto Bateiah – Estratégia e Reputação. 

O principal achado deste estudo nacional é um percentual comum: 83%. Essa é a proporção de brasileiros que valorizam ou desejam ter planos de saúde e também dos beneficiários de planos de saúde com medo de perder o benefício. Ainda que o risco objetivo não se apresente para parte dos entrevistados, a resposta sobre este temor está diretamente associada a um sentimento: alívio por ter acesso à assistência médica particular. A valorização do serviço é tão grande que 47% precisaram ajustar o orçamento no último ano para não perder o benefício. 

“Isso pode ser explicado com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde 45,4% dos titulares de plano possuíam um serviço pago parcial ou integralmente pelo empregador. O medo de perder o acesso pode ser motivado pelo aumento das taxas de desemprego ao longo da pandemia”, destaca Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da ANAB e idealizador do estudo. 

Por outro lado, entre os que não possuem plano de saúde, 83% consideram que ele é necessário. Dos usuários do SUS entrevistados, 68% precisaram de algum tipo de atendimento médico no último ano, mas relataram dificuldade no acesso. “A importância do SUS é inquestionável e o Brasil é um exemplo mundial de busca pela universalização do acesso à saúde. Mas a pesquisa mostra que há distorções regionais também no SUS e que isso impacta na percepção do brasileiro sobre a importância de ter um plano de saúde. Os respondentes do Norte do Brasil, por exemplo, foram os que consideraram o benefício mais importante para si e suas famílias: 97%. Já entre moradores do Sul, o percentual ficou em 75%. Elaboramos este estudo justamente para contribuir para melhores estratégias de planejamento da saúde pública e privada”, destaca Alessandro Acayaba de Toledo.

 A amostra – A coleta de dados foi realizada nacionalmente no último mês de abril, por meio de entrevistas telefônicas. Num cenário menos crítico da pandemia, com a queda dos registros de casos de coronavírus, porém com os riscos ainda presentes, a população passou a ter maior compreensão sobre a fragilidade da vida e está mais preocupada em ter acesso amplo ao serviço assistencial da saúde. Entre os entrevistados, brasileiros, com 16 anos ou mais, responsáveis pelas principais decisões de seu domicílio. A amostra final foi de 1.012 respondentes.

Uso da saúde pública e particular – Para 88% dos entrevistados, a necessidade de assistência médica ou permaneceu a mesma ou aumentou durante a pandemia. Um em cada 4 brasileiros precisou acessar mais sistemas de saúde no último ano do que antes da pandemia de Covid-19, iniciada em 2020. Dos entrevistados, 21% declararam que sua família tem uma frequência mensal de ida a consultas médicas. Entre 2 a 6 meses de frequência, são 52% dos respondentes. “A consciência das pessoas acerca da fragilidade da vida, potencializada na experiência pandêmica, produz preocupações e alívios. Medo, segurança e desejo formam a percepção dos brasileiros sobre planos de saúde”, destaca Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da ANAB. 

Acesso ao plano de saúde – A importância de ter um plano está no inconsciente coletivo. A possibilidade dessa conquista merece argumentos e possibilidades mais elaboradas. “Para parte dos entrevistados, o plano de saúde é importante, mas não é possível”, destaca o sociólogo Fábio Gomes, diretor-presidente do Instituto Bateiah. “Isso porque a proporção do desejo de  ter um plano (74%) é menor que a percepção sobre quão é necessário o benefício (83%)”, explica ele.  Cabe lembrar que, no final de 2021, a primeira Pesquisa ANAB de Planos de Saúde apontou que o serviço foi considerado a 3ª maior conquista do brasileiro. Na faixa etária acima de 50 anos, só perde para a casa própria em importância. Para aposentados, é prioridade absoluta e supera a moradia.

A dificuldade de contratação de plano de saúde é motivo apresentado por 33% dos que pagam suas despesas médicas, principalmente entre as mulheres e os que possuem menor poder aquisitivo (até 2 salários mínimos). Outra interessante distinção entre beneficiários de planos de saúde e não beneficiários (que usam o SUS) é o comportamento sobre buscar (ou acessar) resultados de exames realizados.

“Beneficiários de planos de saúde parecem valorizar mais os serviços, ou ter mais facilidade em acessar os  resultados. Dos entrevistados que possuem plano, o acesso aos resultados é declarado por 82% contra 66% dos usuários do SUS”, ressalta o sociólogo Fábio Gomes, do Instituto Bateiah. 

Tratamento médico contínuo – A necessidade permanente de assistência médica se apresenta como uma das razões para ter um plano. Entre os beneficiários de planos de saúde, 24,9% responderam que precisam de atendimento médico permanente. Os que usam os serviços do SUS e os que custeiam as despesas de saúde, 17,6%, confirmaram que precisam deste tipo de assistência médica. 

Entre os entrevistados com mais de 60 anos, o aumento da necessidade de cuidados médicos foi acima da média: 33,6%. De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a contratação de planos de saúde para pessoas nesta faixa etária aumentou 4,2%, entre 2019 e 2021. 

Maior preocupação com doenças hereditárias também se evidenciou na Pesquisa ANAB de Assistência Médica, sobretudo entre brasileiros que precisaram realizar exames. Quem dispõe de plano de saúde conseguiu fazê-los em até 1 mês, enquanto no SUS a demora para agendamento varia de 4 a 6 meses, segundo os respondentes da pesquisa.

“A portabilidade de carência se tornou uma alternativa para quem não pode abrir mão do plano de saúde, precisa prosseguir com a assistência, mas não quer pagar mais por isso e perder o período da carência já cumprido. É direito do beneficiário. O interesse pela portabilidade aumentou, 12,5%, de acordo com a ANS, em alguns casos foi possível reduzir em 40% os custos com à saúde”, explica Alessandro Acayaba de Toledo. 

Tecnologia – Os avanços da tecnologia na saúde têm permitido que os beneficiários de plano tenham cada vez mais autonomia. Eles podem acessar a rede médica-hospitalar ou resultados de exames realizados de forma rápida – via web ou aplicativos. Entre os beneficiários, 82%, afirmam utilizar a internet para pegar os resultados, já 66% dos usuários do SUS, não têm o hábito.  

Oportunidade de negócios – 41% dos entrevistados elege os idosos como os prioritários para posse de um plano de saúde. Num segundo patamar, temos as crianças, com 32%. Entre os entrevistados com idade de até 39 anos, as crianças foram indicadas como prioridade por 42%. Nessa faixa, em que ter filhos pequenos a chance é maior, a prioridade de planos para crianças é mais alta. Portanto, a pesquisa mostra que existe uma necessidade que precisa ser absorvida: o plano de saúde infantil. Um mercado que pode atender a demanda de quem já tem plano de saúde e quem ainda não é beneficiário.  

No grupo de não beneficiários de planos de saúde, a preocupação com as crianças atinge 37,8% dos respondentes, seguido de idosos e adultos. Entre os beneficiários, os idosos aparecem em primeiro, seguido das crianças, com 27,3%. Um novo portfólio poderia atrair um público potencial – as mulheres – que desejam garantir assistência médica privada para 35,1 milhões de crianças de 0 a 11 anos e para adolescentes, 20,9 milhões, de 12 a 18 anos, de acordo com dados do IBGE.