Saúde baseada em evidências é um tópico de extrema importância e muito discutido entre profissionais de saúde e acadêmicos. No Brasil, o governo demonstra compromisso com a causa ao oferecer para profissionais de saúde, gratuitamente, recursos no Portal Saúde baseada em evidências. Por outro lado o público leigo, que constantemente entra em contato com afirmações de saúde, parece estar muito menos preparado para lidar com as informações oferecidas pela mídia.
Como lindamente colocado pelo médico e escritor Ben Goldacre no Livro Bad Science “[…] Na mídia, a ciência aparece como verdade absoluta nas declarações de figuras de autoridade arbitrária e jaleco branco” (Tradução livre). Estudos científicos são apresentados para leigos com manchetes de impacto, mas sem uma descrição clara sobre o estudo, e as razões por que as pessoas chegaram nas conclusões finais. Assim, as contradições são grandes e em uma semana “beber café é bom” e na próxima “tomar café é ruim” como uma loteria de notícias sobre saúde que certamente confunde as pessoas. O excelente cartoon de Jim Borgman ilustra esse sistema:
A área da nutrição e perda de peso parece ser particularmente vulnerável. Revistas de saúde e moda são conhecidas por promover soluções milagrosas, que são defendidas sem embasamento científico. No Reino Unido, Gillian McKeith, uma apresentadora de televisão que se intitulava nutricionista e doutora chegou a comandar uma serie de televisão cheia de gafes por 3 temporadas (2005-2006). Seus conselhos malucos e sem embasamento, como “comer mais vegetais verdes porque eles oxigenam o sangue” por exemplo, finalmente levaram ao cancelamento do programa. É triste pensar que para os leigos que assistiam o programa You are what you eat Gillian McKeith ela era considerada, talvez ainda seja por alguns, uma especialista em nutrição. Depois que o programa foi cancelado e a profissional desmascarada, a série e outros produtos continuaram a ser vendidos em outros países, como o Brasil. Existe inclusive o livro em português “A biblia da nutrição” da “Dra” Gillian McKeith – quando na verdade ela não têm qualquer qualificação em saúde.
“Na minha opinião, a Dra. Gillian McKeith é uma charlatona. Pode ser que ela realmente acredite no diz e que tenha se convencido que está falando a verdade, mas não há nenhuma base científica no que ela diz.” (Tradução livre) John Garrow, professor de nutrição humana na Universidade de Londres
Depois desse trágico exemplo de falta de saúde baseada em evidência com o programa You are what you eat o Reino Unido parece ter focado em resolver esse problema. Alguns dos agentes de ação são o já citado médico e escritor Ben Goldacre, o site do sistema de saúde NHS choices – Behind the Headlines e a ONG Sense about Science que trabalham para que mais pessoas entendam afirmações científicas e médicas em discussão pública. Os dois últimos inclusive uniram forças na campanha Ask for Evidence e criaram a comunidade online Healthy Evidence que permite discussões abertas.
Acredito que esses exemplos e iniciativas devam servir de inspiração para outros países que valorizam saúde baseada em evidência, mas que ainda não incluíram o público leigo na capacitação. Em Português conheço apenas o site da COMCEPT – Comunidade Céptica Portuguesa, em especial o Guia Geral Para Detectar Má Ciência.