. Segundo o levantamento, esses planos atendem a pessoas mais velhas e com maior prevalência de doenças crônicas do que a média da população brasileira. A íntegra do estudo “Determinantes para a posse de plano de saúde”.

“O plano de saúde se estabelece a partir do mutualismo e do subsídio intergeracional. Isso significa, na prática, que o equilíbrio econômico, financeiro e assistencial do sistema se baseia no fato de que os mais saudáveis e mais jovens assumirão uma conta maior para que os menos saudáveis e mais idosos tenham um custo menor quando considerado o perfil de uso”, explica Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS. “O estudo identifica uma situação de risco de desequilíbrio nesse sistema hoje no Brasil: a maioria dos beneficiários desses planos são pessoas com idade mais avançada e que mais precisam dos serviços de saúde, sem o contrapeso da participação dos mais jovens e mais saudáveis”, analisa.

Na prática, esse processo gera um risco conhecido como “seleção adversa”: a maioria dos contratantes dos planos é formada por pessoas que necessitam de cuidados de saúde e usam o benefício para acessar esses serviços. Sem a contrapartida da participação daqueles que usam menos o serviço, pode haver desequilíbrio do sistema e um aumento significativo dos custos, exigindo a compensação nas mensalidades ou tornando os custos do produto mais elevados. “Esse padrão é negativo, pois tende a encarecer o sistema como um todo, dificultando o acesso para pessoas mais saudáveis e pondo em xeque, em última análise, a sustentabilidade da saúde suplementar”, avalia Carneiro.

A cada ano de vida, a probabilidade de possuir um plano de saúde individual aumenta em 0,13%. O que significa que pessoas mais velhas e, portanto, com mais chance de apresentarem problemas de saúde mais graves, tendem a procurar mais os planos de saúde individuais. Fato evidenciado pela média de idade dos beneficiários de planos individuais, que é de 47,7 anos. O que representa 8,8 anos a mais do que a média de população brasileira: 38,9 anos. Já a prevalência de ao menos uma doença crônica aumenta a possibilidade de adquirir o benefício em 1,22%.

Ter um plano de saúde é o terceiro maior desejo do brasileiro, segundo pesquisa do Ibope/IESS. De acordo com o novo estudo, um residente da região Sudeste tem 3,2% mais chance de contar com o benefício do que outro da região Sul. Já os Nordestinos têm, em relação a quem vive no Sul, 2,06% menos probabilidade de contar com o benefício. “Essa probabilidade está intimamente ligada a disponibilidade de serviços de saúde”, explica Carneiro. “A infraestrutura de saúde em uma região, ou seja, a oferta de serviços de saúde como ambulatórios, especialistas, hospitais etc., influencia a aquisição de planos na medida em que as pessoas se interessam mais em possuir o benefício nos locais onde poderão aproveitar mais esses serviços”, comenta.

O estudo também aponta que quanto mais elevado o nível de escolaridade, maior a chance de possuir o plano. Uma pessoa com ensino superior completo tem 9,18% mais probabilidade de contar com o benefício individual do que outra sem ensino formal. Carneiro afirma que isso decorre da relação entre o nível de instrução de uma pessoa sua renda. “A renda continua a ser um fator extremamente determinante de acesso ao benefício. Talvez, com a proposta atual de haver planos de saúde mais acessíveis, hoje em análise pela ANS, é possível que essa condicionante se altere um pouco”, admite.