Há seis meses, quando o Ministério da Saúde mostrou interesse em promover avanços na área de saúde digital, Open Health, com compartilhamento de dados e informações de quem utiliza os serviços privados de assistência médica e dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), a maior preocupação da sociedade, para a consolidação deste serviço, foi a segurança dos dados pessoais.
A inovação precisa acompanhar os aspectos legais, que estão em vigência desde a implantação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Sem contar, que as mudanças precisam estar alinhadas, com adaptações que se iniciam na área de tecnologia da informação, na confiança do consumidor, na governança e privacidade dos dados.
A Pesquisa ANAB de Assistência Médica, mostrou que os avanços da tecnologia na saúde têm permitido que os beneficiários de plano tenham cada vez mais autonomia. Eles podem acessar a rede médica-hospitalar ou resultados de exames realizados de forma rápida – via web ou aplicativos. Entre os beneficiários, 82%, afirmam utilizar a internet para pegar os resultados, já 66% dos usuários do SUS, não têm o hábito.
A proposta do governo é inovadora e inspirada num outro sistema criado pelo Banco Central, o Open Banking, para o compartilhamento de informações do setor financeiro. Mesmo que a novidade ainda esteja em discussão, o setor de saúde tem se movimentado para adquirir cada vez mais relevância, com o surgimento de plataformas especializadas em cuidados de saúde, mas com um viés mais tecnológico, conhecidas como healthtech.
Um levantamento da PwC Brasil, mostra que o número de healthtechs ativas cresceu nos estados 13,7%, no período entre 2019 a 2021. Um crescimento registrado num cenário de pandemia e crise sanitária, que acompanhou a escalada de novos empregos, com aumento de 21,2% no setor.
Importante lembrar que para atender as demandas do período, onde se exigia o isolamento e o não comparecimento presencial às consultas, a telessaúde evoluiu, vários serviços de tecnologia foram desenvolvidos, visando a melhoria no atendimento, com objetivo de oferecer aos pacientes soluções digitais e mais automação para o consumidor, em busca de assistência médica.
De acordo com a ferramenta, Startup Scanner, existem 439 healthtechs cadastradas e distribuídas em 35 categorias de vários subsegmentos na área da saúde, como operadoras de saúde, provedores de serviços, diagnósticos, materiais e equipamentos, etc.
Muitos novos empreendedores estão surgindo na categoria, aproveitando para absorver brasileiros que ainda não têm plano de saúde, mas que podem custear a saúde, com preços mais acessíveis. São Paulo, concentra o maior número deste tipo de empresas – 50,13%, mas estados como Espírito Santo, Pará e Rio Grande do Norte, têm apresentado crescimento relativo, no número de startups ativas entre 2019 e 2021, segundo a PwC Brasil.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), confirmam a tendência e principalmente a oportunidade para esse tipo de negócio, já que apenas 4% da população do Norte conta com plano de saúde. A pesquisa da Assistência Médica da ANAB mostrou que na região Norte, entre os que utilizam o serviço do SUS, a valorização do plano de saúde é grande para 96,7% dos entrevistados.
O setor de saúde está crescendo e ganhando novas características, mas isso não quer dizer que a transformação digital não seja um desafio. A inteligência artificial agrega valores e muitos benefícios para o consumidor, que busca os serviços de saúde e a tecnologia precisa ser eficiente para garantir a segurança cibernética e a proteção de dados dos stakeholders.
*Alessandro Acayaba de Toledo é advogado especialista em Direito e Saúde, presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB) e coordenador do Núcleo de Direito da Saúde Suplementar da Escola Superior de Advocacia (ESA/OAB-SP)