Nos últimos anos, um dos principais tópicos mais debatidos no setor da saúde é a comunicação e troca de informações do paciente entre diferentes instituições – hospitais, clínicas, laboratórios -, a famosa interoperabilidade. Nesse contexto, novos temas têm vindo à tona para discussão, como o Open Health e a privacidade de dados, e diferentes entidades da saúde estão mobilizadasem busca de soluções para tornar o ecossistema da saúde mais integrado e colaborativo.
De fato, este é um tema extremamente relevante para o avanço da digitalização da saúde brasileira. Contudo, diante da maturidade das instituições, é preciso dar um passo para trás e olhar primeiro para dentro de casa, para um tema que ainda carece de muita atenção no segmento: a intraoperabilidade dos dados, ou seja, a troca e o compartilhamento de informações entre os sistemas da própria instituição.
Pode parecer estranho falar sobre isso hoje em dia, mas quem vive o setor no dia a dia sabe que é um desafio real. Apesar dos avanços tecnológicos, esse ainda é um grande obstáculo para diversas instituições de saúde no país, uma vez que muitas ainda não trabalham seus dados de forma conjunta ou estruturada. Na prática, me refiro, por exemplo, à falta de compartilhamento de dados entre o sistema de agendamento de exames e o atendimento na recepção do laboratório, ou até mesmo a falta de visualização do histórico de atendimentos do paciente em diferentes visitas a hospitais e clínicas.
O fato é que, com a falta de conexão entre os sistemas, uma série de dados, sejam eles clínicos, de exames, e até mesmo administrativos são perdidos, o que cria pontos de atrito na jornada do paciente, e dificulta o estabelecimento de um atendimento mais eficiente e humanizado. E diante de um futuro cada vez mais digitalizado, é fundamental que as organizações dediquem especial atenção a este tema, organizando a comunicação e compartilhamento de seus dados internamente.
Para isso, o primeiro ponto é investir na integração de seus sistemas. E aqui não estou falando só sobre investir em tecnologia, mas sim fazer um investimento realmente estratégico. Durante a contratação de soluções, como ERPs especializados para saúde, é importante escolher plataformas completas, que possuam integração com outras soluções, inclusive com os sistemas já vigentes na sua organização. Outra estratégia é optar pela adoção de diferentes soluções de um mesmo fornecedor, o que sem dúvidas facilita a comunicação entre os sistemas.
Pensando na experiência do paciente, que tem ganhado cada vez mais protagonismo no setor, vale também olhar para soluções que reúnam em um único ambiente diversas funcionalidades (agendamentos, resultados de exames, prontuários), garantindo uma experiência mais fluida para o usuário. E, é claro, uma boa intraoperabilidade exige também o uso de sistemas em conformidade com a legislação, garantindo a privacidade dos dados dos pacientes.
Quando bem executada, a intraoperabilidade traz uma série de benefícios para as instituições de saúde, possibilitando que diferentes sistemas trabalhem em harmonia em prol de uma gestão mais eficiente. A intraoperabilidade também contribui para a otimização do tempo das equipes, promove um melhor atendimento para os pacientes, e torna mais eficiente e colaborativo o trabalho de médicos, enfermeiros e profissionais da saúde, agregando maior inteligência aos processos.
Sem deixar a interoperabilidade de lado, a mensagem que quero deixar é que a intraoperabilidade precisa ser vista também como uma prioridade das instituições, dado que este ainda é um grande desafio a ser superado pelo setor de saúde no Brasil. E como lição de casa para gestores do setor: precisamos primeiro olhar para dentro de casa, para depois pensarmos em práticas e modelos que integrem todo o ecossistema da saúde. Afinal, se a intraoperabilidade não for bem executada, dificilmente a interoperabilidade será bem-sucedida.
*Rogério Pires é diretor de Produtos para Saúde da Totvs.